SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos) anunciou nesta quarta-feira (29) a redução de 0,25 ponto percentual na taxa de juros do país, para 3,75% a 4% ao ano, confirmando a expectativa de analistas do mercado.
É o segundo corte consecutivo da taxa, mas o patamar ainda segue acima do desejado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de 1,5%. Nesta semana, o republicano voltou a pressionar Jerome Powell, presidente da instituição, a quem chamou de incompetente.
A redução foi aprovada por 10 votos a 2. Os dois votos contrários questionaram o tamanho do corte. O diretor Stephen Mirran, indicado neste ano por Trump, defendeu uma redução de 0,5 ponto percentual, enquanto Jeffrey R. Schmid foi favorável à manutenção da taxa entre 4% e 4,25%.
O corte ocorreu durante a paralisação do governo federal americano, iniciada há 29 dias, o que impediu a divulgação de dados atualizados sobre o estado da economia do país. Desde então, um dos poucos levantamentos atualizados foi o da inflação, divulgado na semana passada. Os dados sobre desemprego, criação de vagas e o mercado de trabalho estão desatualizados.
Powell afirmou que ainda não é possível afirmar que haverá um novo corte nos juros em dezembro, como parte do mercado aguarda. Como não há uma previsão sobre o fim da paralisação, o Fed pode continuar com os dados desatualizados até a última reunião do ano.
“Uma nova redução da taxa básica de juros na reunião de dezembro não é uma conclusão precipitada. Longe disso, a política monetária não está em uma trajetória predefinida”, afirmou Powell, que explicitou a divergência entre os diretores nos dois dias da reunião desta semana.
“Houve opiniões muito diferentes sobre como proceder em dezembro”, disse.
As dissidências marcaram apenas a terceira vez desde 1990 que as autoridades discordaram tanto a favor de uma política monetária mais flexível quanto mais restritiva na mesma reunião.
As Bolsas recuaram após os comentários de Jerome Powell sobre as perspectivas da política monetária, com investidores reduzindo apostas em novos cortes de juros.
As autoridades do Fed reconheceram as limitações impostas pela paralisação do governo , baseando sua leitura da taxa de desemprego em dados de agosto -mês do último relatório oficial de empregos-, mas observaram que “os indicadores disponíveis sugerem” que a economia continuou crescendo em ritmo moderado.
A inflação não subiu tanto quanto o esperado após as novas tarifas impostas pelo governo Trump, mas mesmo assim aumentou de cerca de 2,3% em abril para aproximadamente 2,7% em agosto, segundo a última estimativa oficial divulgada antes do shutdown.
O Fed usa o PCE (Despesas de Consumo Pessoal) como referência para sua meta de 2% de inflação e, em projeções publicadas em setembro, os dirigentes esperavam que o índice subisse para 3% até o fim do ano.
Na terça-feira (28), Powell voltou a ser criticado por Trump em um evento com empresários em Tóquio. “Temos um incompetente à frente do Fed… temos um péssimo dirigente do Fed, mas ele estará fora de lá em alguns meses, e teremos alguém novo”, disse o republicano.
Powell foi nomeado por Trump em sua primeira gestão na presidência do país e tem mandato até 15 de maio. O republicano já anunciou que fará a troca de Powell assim que o seu mandato acabar.
Na segunda-feira (27), o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, afirmou que cinco pessoas disputam o posto: Kevin Warsh (ex-diretor do Fed), Kevin Hassett (diretor do conselho econômico da Casa Branca), Rick Rieder (executivo da BlackRock) e Christopher Waller e Michelle Bowman (ambos diretores do Fed).
FALTA DE DADOS ATUALIZADOS
O anúncio desta quarta ocorreu em um momento que o Fed não tem muitos dados econômicos atualizados, já que não está sendo feita a coleta de dados em virtude da paralisação do governo federal dos EUA há 29 dias.
Desde a interrupção de trabalho dos servidores, o relatório sobre a inflação em setembro foi um dos levantamentos divulgados, uma vez que ele é incluído no cálculo dos aumentos dos benefícios da Previdência Social. Ele mostrou que o índice de preços ao consumidor aumentou em um ritmo mais lento do que o esperado no mês passado.
Já os dados sobre o mercado de trabalho estão desatualizados, com o último levantamento sendo referente ao mês de agosto. Ele é um relatório importante em um momento que as autoridades se concentram na força das contratações e na evolução da força de trabalho sob as políticas de imigração mais rígidas do presidente do país, Donald Trump.
Até agosto, a taxa de desemprego vinha aumentando lentamente, passando de 4% em janeiro, quando Trump tomou posse, para 4,3%.
No entanto, o ritmo de contratações caiu drasticamente, com um declínio no número de pessoas nascidas no exterior em busca de trabalho ajudando a atenuar o que, de outra forma, poderia ter sido um aumento muito maior na taxa de desemprego.
No comunicado divulgado nesta quarta, o Fed afirmou que os indicadores disponíveis apontam que a atividade econômica está se expandindo em um ritmo moderado, a inflação está em aceleração, assim como a taxa de desemprego. A criação de empregos enfrenta uma desaceleração, o que causa incerteza entre os formuladores da política monetária.
Embora as autoridades do Fed achem que o mercado de trabalho tenha permanecido equilibrado entre a demanda e a oferta de trabalhadores, elas também estão preocupadas com a possibilidade de as empresas começarem a reduzir ainda mais as contratações ou recorrerem a demissões devido às preocupações com o crescimento econômico -um risco destacado pelo recente anúncio da Amazon de demitir 14 mil pessoas e um aumento nos pedidos de auxílio-desemprego.
“O comitê continuará monitorando as implicações das novas informações para as perspectivas econômicas. O comitê estará preparado para ajustar a postura da política monetária conforme apropriado, caso surjam riscos que possam impedir o alcance de seus objetivos”, informou o comunicado do Fed.
Powell admitiu que as demissões anunciadas pela Amazon, UPS, Target, GM e Paramount nesta semana causam incerteza sobre o momento atual, somado ao fato de os dados sobre o mercado não estarem atualizados.
“As condições no mercado de trabalho parecem que estão esfriando gradualmente”, comentou o presidente do Fed, após o anúncio do corte.




