GYEONGJU, COREIA DO SUL (FOLHAPRESS) – O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o líder da China, Xi Jinping, se encontram nesta quinta-feira (30, no horário local, e 23h de quarta em Brasília) no que pode ser o fim do problema comercial enfrentado pelos países desde que o americano impôs tarifas complementares contra os produtos chineses e o país asiático respondeu à altura.
A reunião acontece em Gyeongju, na Coreia do Sul, onde os líderes participam da cúpula da Apec (Cooperação Econômica Ásia-Pacífico, em português). O encontro, que está sendo desenhado há meses, sucede uma série de negociações comerciais entre as equipes dos dois países para que os mandatários ratifiquem os combinados.
Na tarde desta quarta (29), durante um discurso em evento com CEOs na Apec, o americano afirmou que espera uma boa resolução.
“Provavelmente você sabe que o presidente da China está vindo para cá amanhã e nós vamos, eu espero, fazer um acordo. Eu acho que haverá um acordo, e eu acho que será um bom acordo para os dois”, disse.
“Eu acho que teremos algo que será emocionante para todos.”
A última vez que os líderes se encontraram foi em 2019, durante o primeiro mandato de Trump e antes da pandemia de coronavírus. Desde então, a disputa entre os países cresceu, com acirramento das questões em torno dos semicondutores e outros produtos de alta tecnologia, posicionamentos diferentes a respeito da guerra entre Rússia e Ucrânia e fortalecimento de diferentes alianças militares.
A pauta principal, o tarifaço, será atravessada por outros temas que se somaram com o decorrer dos meses, e entraram nas negociações comerciais entre representantes dos dois países.
O mais recente, e um dos que mais preocupam os americanos, é a medida que determina uma licença de exportação sobre produtos com terras raras vindas da China.
O país asiático, que detém cerca de 90% das reservas mundiais e 60% do processamento de terras raras, aumentou o controle e a dependência de diversas indústrias com a nova regra, que criou uma legislação extraterritorial.
Imposta no início de outubro, a regra gerou ação imediata de Trump, que determinou tarifas adicionais de 100% sobre os produtos chineses a partir de 1º de outubro. A expectativa é que o encontro entre eles impeça a imposição das taxas, o que escalaria a guerra comercial.
Em entrevista a programas de televisão americanos, o secretário do Tesouro, Scott Bessent, antecipou detalhes das negociações, e afirmou que os países chegaram a um cenário em que a China vai suspender por um ano a exigência da licença para terras raras e retomar as compras de soja do país.
Bessent se refere à suspensão das compras da commodity, o que afetou gravemente os agricultores americanos, base eleitoral de Trump. Pela primeira vez em 20 anos, chineses não importaram o grão da colheita de outono. Em setembro, nenhuma tonelada saiu dos EUA em direção à China.
Além dos temas já adiantados pelo secretário do Tesouro americano, há a expectativa de que outros assuntos cheguem à reunião. Trump busca o comprometimento de Pequim para restringir exportações de precursores químicos do fentanil, que causa centenas de milhares de mortes todos os anos no país. Em resposta, os chineses defende seu atual controle de substâncias.
Também é possível que Xi tente negociar para que os EUA se oponham formalmente à independência da ilha. O posicionamento americano em favor da ilha é histórico, e uma mudança pode afetar o apoio militar oferecido, estratégico para a defesa dos taiwaneses em um possível ataque chinês.
A China vê Taiwan como parte de seu território, enquanto o país vizinho argumenta ser independente, uma vez que tem um governo democraticamente eleito.
Pequim também foi duramente afetado pelas restrições impostas pelos EUA com relação aos chips de alta tecnologia, o que pode fazer com que isso se torne mais um tópico na conversa. O argumento americano é de que trata-se de uma questão de segurança nacional do país, uma vez que, entre outros usos, poderiam ser aplicados na expansão da capacidade militar chinesa.
A última rodada de negociação entre as equipes coincidiu com o giro de Trump pela Ásia, que incluiu países como Qatar, Malásia, Japão e, por fim, a Coreia do Sul. Equipes chinesas e americanas se encontraram e Kuala Lumpur, capital malaia, para avançar nas negociações.
Trump estava na cidade para participar da cúpula da Asean (Associação das Nações do Sudeste Asiático, em português), e também se encontrou com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para discutir as taxas impostas ao Brasil.
Em sua passagem pelo Japão, além de conhecer e confraternizar com a nova primeira-ministra Sanae Takaichi, primeira mulher a ser alçada ao cargo, Trump realizou um acordo sobre terras raras, em mais um movimento de diminuir a dependência do país na capacidade chinesa.




