SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Exército de Israel disse ter retomado o cessar-fogo na Faixa de Gaza nesta quarta-feira (29), um dia após o governo do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu ordenar novos ataques aéreos contra alvos no território. As ofensivas escancararam a fragilidade da trégua estabelecida na região no último dia 10.
Os bombardeios mataram 104 pessoas, segundo autoridades palestinas, e representaram o episódio mais grave desde a entrada em vigor do cessar-fogo entre Israel e Hamas. A Defesa Civil de Gaza, controlada pelo grupo terrorista, afirmou ter registrado ao menos três ataques aéreos desde terça (28), e o porta-voz do órgão, Mahmud Basal, descreveu à agência de notícias AFP uma situação “catastrófica e aterrorizante”.
Basal citou menores de idade, mulheres e idosos entre as vítimas. Segundo ele, cerca de 200 pessoas também ficaram feridas. Imagens da agência de notícias AFP mostram palestinos sendo atendidos no hospital Al-Adwa de Nuseirat, no centro de Gaza, incluindo uma criança com o rosto ensanguentado.
Israel justifica as ofensivas com a acusação de que o Hamas violou o acordo de paz. Tel Aviv afirmou que suas tropas foram atacadas primeiro em Rafah, no sul de Gaza, e que os soldados atuavam dentro dos limites da chamada “linha amarela”, área que demarca o recuo israelense definido pelo acordo de trégua.
O Hamas, por sua vez, nega qualquer envolvimento no episódio e afirma continuar comprometido com o cessar-fogo. O grupo ainda anunciou o adiamento da entrega do corpo de um refém israelense, prevista inicialmente para terça-feira (28), como forma de protesto.
De acordo com Israel, as ofensivas miraram “dezenas de terroristas” e infraestruturas do Hamas, incluindo túneis e depósitos de armamentos. Entre os alvos, as autoridades mencionaram um comandante do grupo que teria participado do ataque a um kibutz no sul de Israel, em 7 de outubro de 2023, quando a facção fez um mega-atentado em que 1.200 pessoas foram assassinadas e que deu início ao conflito.
Apesar dos bombardeios, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse que “nada vai ameaçar o cessar-fogo”. Em declaração a bordo do avião presidencial Air Force One, a caminho da Coreia do Sul, o republicano defendeu o direito de Israel de atacar Gaza caso algum soldado do país seja atingido.
O vice-presidente J. D. Vance já havia feito afirmação semelhante na véspera. Ignorando as mortes relatadas pelas autoridades palestinas, ele disse que “pequenos confrontos podem acontecer”, mas que o “acordo de paz vai resistir”.
Os ataques, de todo o modo, evidenciam a fragilidade da trégua. Na manhã desta quarta, colunas de fumaça ainda eram observadas sobre o território palestino. “O som das explosões e dos aviões nos fez sentir como se a guerra tivesse recomeçado”, disse à agência de notícias Reuters Ismail Zayda, 40, que vive em tendas com 25 familiares na Cidade de Gaza.
As autoridades de saúde palestinas informaram que, entre as 104 vítimas, havia 46 crianças e 20 mulheres. Em Nuseirat, moradores disseram que nove pessoas de uma mesma família foram mortas em um bombardeio que destruiu a casa em que viviam. “O pai, o filho, as esposas e as crianças: todos foram completamente eliminados”, afirmou Wael Najem, 52, que mora próximo ao local atingido.
E a eficácia do cessar-fogo permanecia incerta. Nesta quarta, Israel disse ter bombardeado um depósito de armas em Beit Lahia, no norte de Gaza. Não era possível saber se o ataque foi feito antes ou depois de Tel Aviv anunciar a retomada da trégua. Segundo o Exército, foi um “ataque preciso”.
Pelo acordo firmado, o Hamas libertou em 13 de outubro os 20 reféns vivos que ainda mantinha desde o ataque do 7 de Outubro. A facção deveria entregar também os corpos de 28 reféns mortos, mas, até esta quarta, entregou 15 sob o argumento de que existem dificuldades para localizar os demais devido à destruição causada pela ofensiva israelense em dois anos de guerra.
O braço armado do Hamas afirmou ter encontrado, na terça-feira, os corpos de outros dois reféns, sem indicar quando seriam devolvidos. Segundo o Ministério da Saúde controlado pelo grupo, mais de 68,5 mil pessoas, em sua maioria civis, morreram em Gaza desde o início da retaliação israelense.
As ofensivas foram o segundo episódio de violência desde o início da trégua. O anterior havia ocorrido em 19 de outubro, quando Israel também teria respondido a um ataque contra suas tropas.
“Quem levantar a mão contra um soldado terá a mão cortada”, afirmou nesta quarta o ministro da Defesa, Israel Katz, prometendo que “ninguém na liderança do Hamas terá imunidade, nem os que usam terno, nem os que se escondem em túneis”.




