BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Após a operação policial mais letal da história do Rio de Janeiro nesta terça-feira (28), o ministro da Fazenda Fernando Haddad cobrou o governador do estado, Claudio Castro (PL), sobre o combate ao contrabando de combustíveis.

“O governo do estado do Rio tem feito praticamente nada com relação ao contrabando do combustível, que é como você irriga o crime organizado”, afirmou o ministro em declaração na manhã desta quarta-feira (29).

“Para pegar o andar de cima do crime organizado, você tem que combater de onde está vindo o dinheiro”, disse. “No caso do Rio de Janeiro, todo mundo sabe que está vindo da questão do contrabando de combustível, da fraude tributária, simulação de refino, distribuição de combustível batizado”, disse Haddad.

Em setembro, a Receita Federal apreendeu no Rio de Janeiro as cargas de quatro navios vindos do exterior com óleo diesel e insumos utilizados na produção de combustíveis.

Segundo o órgão federal, a fiscalização visava apurar simulações fiscais, ocultação de beneficiários das operações de comércio, inconsistências na prestação de informações aos órgãos reguladores e análise da origem dos recursos empregados nas operações.

“O governador deveria acordar para esse problema, que é crônico no Rio de Janeiro, e ajudar a Receita Federal a combater o andar de cima. Tem que controlar pelo alto, asfixiar o crime”, completou Haddad, dizendo que existe um guerra jurídica em torno da liberação das mercadorias.

Em entrevista à imprensa na Câmara dos Deputados, o secretário de Segurança Pública do governo de São Paulo, Guilherme Derrite (PL), foi questionado sobre as críticas de Haddad a Castro. Ele afirmou que o ministro não sabe nada de segurança pública e disse que Castro “teve coragem de fazer o que precisa ser feito”.

“Asfixiar financeiramente [o crime organizado] é óbvio”, afirmou Derrite, que também é criticado pela alta letalidade da Polícia Militar paulista. “É um clichê que é repetido por qualquer pessoa que não é especialista em segurança pública, inclusive por ele [Haddad].”

A operação realizada nesta terça-feira (28) pelas polícias militar e civil do Rio de Janeiro tinha como objetivo prender membros do Comando Vermelho nos complexos do Alemão e da Penha, na zona norte da cidade.

A contagem oficial é de 64 mortos, sendo quatro policiais. O número deve crescer, porém, porque a população do Complexo da Penha recolheu e deixou enfileirados na praça São Lucas, para identificação, ao menos 70 corpos que estavam na mata.

A ação e a resposta do Comando Vermelho —que usou armamento pesado e ordenou o fechamento de vias— deixou diversas regiões da segunda maior cidade do país com um cenário de guerra, com caos nas ruas, tiroteios e veículos queimados .

Em declarações à imprensa, o governador Claudio Castro cobrou ajuda do governo federal e disse que solicitações de envio de blindados das Forças Armadas foram negadas. “É o Rio de Janeiro sozinho”, afirmou.

As críticas foram rebatidas, inicialmente, pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública do governo Lula (PT). O titular da pasta, Ricardo Lewandowski, afirmou não ter recebido pedido de ajuda para a ação desta terça e disse que acompanhou toda a operação pela imprensa.

Na noite desta terça, ao divulgar ter pedido ao governo Lula a transferência para presídios federais de dez presos apontados como os de maior periculosidade, o governador fluminense baixou o tom e declarou que tomou essa decisão para mostrar que a gestão faz segurança pública com “integração e diálogo”.

A transferência foi autorizada pelo governo federal. Castro participou por telefone de uma conversa com os ministros Lewandowski e Rui Costa (Casa Civil), em que ficou decidido que eles viajarão ao Rio esta quarta (29) para acompanhar a situação de perto e discutir junto ao governo estadual o que poderá ser feito daqui para frente