SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – O chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro disse que vai abrir um inquérito para investigar a retirada dos corpos dos mortos durante a operação da mata.
Felipe Curi, secretario estadual da Polícia Civil, citou “fraude processual” em relação às retiradas dos corpos. Até o momento, mais de 70 cadáveres foram encontrados por moradores e retirados de regiões de matagal no Complexo da Penha, na zona Norte do Rio.
Curi disse que os corpos expostos em vias públicas foram manipulados. Segundo o delegado, os corpos foram retirados do mato e despidos, pois existiriam vídeos comprovando que os mortos estavam com roupas camufladas e aparatos de guerra durante a operação. O pronunciamento aconteceu durante entrevista coletiva com a cúpula da segurança pública fluminense para apresentar balanço da Operação Contenção, deflagrada nos complexos da Penha e do Alemão.
O secretário não explicou por qual motivo os corpos permaneceram no mato durante a noite. Os corpos só foram retirados após exposição em praça pública.
“Vale lembrar, para desmistificar certas narrativas, que parece ter ocorrido uma espécie de ‘milagre’ com os corpos que estão aparecendo nesta quarta-feira (29). Esses indivíduos estavam na mata, equipados com roupas camufladas, coletes e armamentos. Agora, muitos deles surgem apenas de cueca ou short, sem qualquer equipamento — como se tivessem atravessado um portal e trocado de roupa. Temos imagens que mostram pessoas retirando esses criminosos da mata e os colocando em vias públicas, despindo-os”, disse Felipe Curi.
MORADORES RECUPERAM CORPOS EM MATA NO RIO
No começo da manhã, repórteres do UOL contaram ao menos 65 corpos deixados na praça à medida que eram recuperados por moradores. Ao menos 25 deles estavam em uma área de mata, no alto da Serra da Misericórdia, além de outras regiões. O UOL presenciou familiares de alguns dos assassinados acompanhando, em desespero, a remoção e contagem das vítimas.
A retirada dos corpos foi feita com rabecões da Defesa Civil, dirigidos por bombeiros militares. A equipe do UOL não presenciou nenhum policial no local durante a remoção dos mortos na manhã desta quarta-feira.
CONFRONTO FOI LEVADO PARA A MATA
O secretário de Segurança do Rio, Victor Santos, disse que o confronto com membros do CV (Comando Vermelho) foi deslocado para área de mata propositalmente. Moradores recuperaram cerca de 70 corpos do local.
Governo diz que o número de mortos subiu para 119. nesta terça-feira (28), os números oficiais davam conta de 64 mortos, incluindo quatro policiais. nesta quarta-feira, diminuíram a conta para 58 e, depois, incluíram os corpos recuperados por moradores.
Secretário disse que letalidade era esperada e que dano colateral foi “muito pequeno”. Em coletiva de imprensa, Santos comentou detalhes da Operação Contenção, deflagra nos complexos do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro, que vitimou centenas de pessoas. O que o secretário chama de “dano colateral”, seria as mortes de pessoas não envolvidas com o confronto.
“Tiramos criminosos da comunidade para a mata”, disse o secretário. O objetivo da polícia, segundo Santos, era preservar a vida dos moradores e evitar mortes de inocentes. Em regiões de matagal na Penha, mais de 70 corpos foram encontrados.
“Tiraram os criminosos da comunidade para a área de mata. Dessa maneira a opção foi feita para preservar a vida dos moradores e evitar o dano colateral. Tivemos um dano colateral baixo, quatro inocentes foram baleados e mortos”, disse Victor Santos, secretário de segurança pública do Rio.
VÍTIMAS SÃO APENAS OS POLICIAIS, DISSE GOVERNADOR
O governador do Rio de Janeiro, Claudio Castro (PL), disse nesta quarta-feira que a operação nos complexos do Alemão e da Penha “foi um sucesso”. Para ele, as únicas vítimas entre os mais de 100 mortos foram os quatro policiais que morreram.
Castro afirmou que as famílias dos policiais serão “amparadas e protegidas pelo estado”. “Para que a gente possa valorizar a nobre ação” dos agentes, afirmou, durante entrevista coletiva na manhã desta quarta-feira no Rio de Janeiro, um dia após a deflagração da Operação Contenção.
“Temos muita tranquilidade de defendermos tudo que fizemos nesta terça-feira (28). Queria solidarizar com a família dos quatro guerreiros que deram a vida para salvar a população. De vítima nesta terça-feira, só tivemos esses policiais”, disse Claudio Castro.
Governador do Rio disse não acreditar que alguém estivesse passeando na mata durante o conflito e que por isso não acredita em erro da operação. O mandatário fluminense disse que todos que morreram ali “são criminosos”.
“O conflito foi todo na mata, não creio que tivesse alguém passeando na mata em dia de conflito. A gente pode tranquilamente classificar e se tiver algum erro ele será irrisório. O critério que falamos com tranquilidade é que são criminosos porque no planejamento o conflito estava em áreas para não afetar a população”, disse Claudio Castro.
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NÚMEROS DA OPERAÇÃO ATÉ O MOMENTO:
Mortes: 119
Prisões 113
Armas apreendidas: 118
Adolescentes apreendidos: 10




