SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A imprensa internacional segue repercutindo a operação da polícia do Rio de Janeiro desta terça-feira (28) que deixou pelo menos 119 mortos, a mais letal da história do estado. O importante jornal alemão Süddeutsche Zeitung (SZ) noticia nesta quarta (29) que o Rio está em “situação semelhante a uma guerra civil”, enquanto o argentino Clarín fala em “massacre”.

“Trata-se do confronto mais sangrento entre a polícia e grupos criminais da história da cidade”, afirma o SZ, destacando os vídeos de barricadas erguidas pelo Comando Vermelho após a operação. Já o diário argentino abriu uma página para atualizações ao vivo, falando em “dramática situação” na capital fluminense e entrevisando o embaixador de Buenos Aires em Brasília, Daniel Raimondi.

Na entrevista, Raimondi disse ao Clarín que a operação ocorreu em “zona pontual”, longe dos pontos turísticos, e que a situação “está se normalizando”. O governo argentino avaliou que não há necessidade de emitir um alerta para cidadãos que pretendem viajar para a cidade nos próximos dias, uma vez que “a situação no Rio é sempre complexa do ponto de vista da segurança” e, nas palavras dele, “os argentinos sabem disso”.

Nesta quarta, o espanhol El País manchetou a cifra de mortos: “com os 60 falecidos encontrados, que não estavam incluídos no balanço oficial, o número de mortos na operação sobe para 120. Assim, o que era a operação mais letal do Rio de Janeiro se torna a mais letal da história do Brasil”.

O jornal americano The New York Times teve como título “Pelo Menos 64 Mortos no Rio de Janeiro após Autoridades Reprimirem Gangues de Drogas”, destacando a fala do governador do Rio, Claudio Castro (PL), de que a operação se tratou de ataque contra “narcoterroristas”. A classificação, oficialmente rejeitada pelo governo Lula (PT), também é utilizada por Donald Trump em sua campanha militar contra embarcações em águas da América do Sul.

A emissora CNN, dos Estados Unidos, publicou o título “Maior Operação Policial da História no Rio de Janeiro Deixa 64 Mortos”, mencionando a apreensão de fuzis pela polícia e as “imensas colunas de fumaça negra” vistas sobre o Complexo do Alemão na terça.

O britânico The Guardian entrevistou o jornalista Rene Silva, do portal Voz das Comunidades, que disse ter sido acordado às cinco da manhã com barulho de tiros. “O problema do Rio precisa ser combatido em outros lugares, não apenas nas favelas. Não temos plantações de maconha ou cocaína aqui, não temos fábricas de armas. Essa não é uma luta contra o crime, é uma luta contra a pobreza”, afirmou Silva ao jornalista Tom Phillips.

O diário colombiano El Tiempo escreveu que “operação policiais contra o crime organizado são frequentes nas favelas da cidade cartão-postal do Brasil, onde agentes enfrentam traficantes com tiros e a população sofre no fogo cruzado”.

Já o francês Le Monde destacou o número de agentes de segurança mobilizados -pelo menos 2500, entre policiais civis, militares e do Bope- e a reação das Nações Unidas à operação, que se disse “horrorizada” e pediu esclarecimento rápido das mortes. Alguns dos corpos encontrados nesta quarta tinham marcas de tiros na nuca e facadas nas costas, segundo advogada ouvida pela Folha de S.Paulo.