SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – O governador Cláudio Castro (PL-RJ) disse nesta hoje que a megaoperação nos complexos da Penha e do Alemão, considerada a mais letal da história do Rio, foi um “sucesso”.
O QUE DISSERAM AS AUTORIDADES
Governador confirmou oficialmente 58 mortes: quatro policiais e 54 suspeitos. nesta terça-feira (28), o governador afirmou que o Rio “estava completamente sozinho nessa luta”. Ele admitiu ainda que o estado ultrapassou a capacidade de combater o crime. “Estamos excedendo nossas competências, mas continuaremos excedendo na nossa missão de servir e proteger o nosso povo”, afirmou.
hoje, ao menos 65 corpos foram levados por moradores para a praça São Lucas, no Complexo da Penha. Ao menos 25 deles estavam em uma área de mata, no alto da Serra da Misericórdia, além de outras regiões
Os corpos levados à praça, porém, ainda não constam dos números oficiais do governo. Polícia Militar diz que não é possível até o momento confirmar que as mortes têm ligação com a operação. Se realmente se tratar de novos óbitos, o total de mortes pode ultrapassar 120.
Críticas de Castro foram rebatidas pelo ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski. O ministro afirmou que Castro deveria “assumir suas responsabilidades” e disse que a pasta não recebeu qualquer pedido de ajuda do estado para a operação deflagrada nesta terça-feira (28). Já o Ministério da Defesa declarou que o pedido para instalação de blindados em regiões fora da área militar foi negado, já que é preciso um decreto presidencial autorizando uma operação de GLO (Garantia da Lei e da Ordem).
Ministro disse à imprensa que não foi consultado sobre operação. “Não recebi nenhum pedido do governador do Rio de Janeiro, enquanto ministro da Justiça, para esta operação. Nem nesta terça-feira (28), nem hoje. Absolutamente nada”. Questionado sobre uma possível GLO (Garantia da Lei e da Ordem), Lewandowski explicou que é necessário que o governo estadual reconheça a “falência” da segurança. “GLO é uma operação complexa […] Um dos requisitos, ou pré-condições, é que os governadores reconheçam a falência dos órgãos de segurança e transfiram as operações de segurança para o governo”.
Prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD) disse ao UOL que ficou sabendo pela imprensa sobre a operação. Nas redes sociais, o prefeito divulgou ações da Guarda Municipal e de outros órgãos para diminuir os impactos para a população. Mesmo assim, os moradores tiveram dificuldade no retorno de suas casas.
POLICIAIS MORTOS
Polícia lamentou a morte dos policiais. “A Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro lamenta profundamente a perda de nossos heróis, que deram suas vidas em defesa da sociedade durante a Megaoperação Contenção. […] A instituição se solidariza com as famílias e amigos, compartilhando a dor dessa irreparável perda.”
Comunicado define as mortes como ataques covardes. “Os ataques covardes de criminosos contra nossos agentes não ficarão impunes. A resposta está vindo, e à altura.”
Quatro policiais estão entre os 58 mortos na ação. São dois policiais civis e dois agentes do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais).
‘CHACINA MOSTRA FALÊNCIA DO RJ’, DIZEM ESPECIALISTAS
Maior chacina do Rio de Janeiro, disse cientista político que acompanha operações com uso de violência no Estado. A declaração é do diretor do Cesec (Centro de Estudos de Segurança e Cidadania do Rio de Janeiro), Pablo Nunes. “Algo completamente sem precedentes, sem nenhum tipo de justificativa, talvez a operação mais irresponsável da história do Rio de Janeiro e mostra a total falência desse governo do Estado na área de segurança pública”, afirmou.
Número de mortos na operação Contenção superou o da ação policial na favela do Jacarezinho, em 2021. Em 6 de maio daquele ano, a incursão na comunidade na zona norte do Rio terminou com 28 pessoas mortas. “Essa operação é uma das mais letais da história do Rio de Janeiro”, afirmou ao UOL o presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Renato Sérgio de Lima.
“Megaoperação amplia a já longa lista de operações megaletais, que podemos até chamar de massacres”, diz Nunes. Para o cientista político, as imagens da operação repetem as ações vistas anteriormente. “Tem produzido os mesmos resultados. A pergunta a se fazer é porque continuamos usando as mesmas estratégias?”
A megaoperação foi mal planejada, diz pesquisadora. Ao mobilizar 2.500 policiais para os Complexos do Alemão e da Penha, o governo do Rio deixou milhões de pessoas sem a proteção dos agentes, aponta Jacqueline Muniz, professora do Departamento de Segurança Pública da UFF (Universidade Federal Fluminense). “Você não viu integração com o Ministério Público Federal, com a Defensoria, com a Guarda Municipal para ajudar a população no desvio de rotas. Não teve nem uma central de crise.”
Castro não tem diálogo com o governo federal, diz professor da FGV. “A declaração de ontem [terça-feira] é inacreditável. O próprio governador parece não ter interesse em fazer essa integração”, afirma Rafael Alcadipani, membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Especialista vê retaliações do CV como resultado da falta de planejamento do governo estadual. “Quando tem barricadas pela cidade, você indica que a capacidade do estado é insuficiente”, afirma Jacqueline. De acordo com a especialista, o governo do Rio teria escalado policiais sem experiência para atuarem na operação o que ela chamou de “banalização das mortes de agentes”.
MEGAOPERAÇÃO LETAL
Policiais saíram às ruas do Rio para colocar em prática o que se tornaria horas depois a operação mais letal da história do estado. O governador do Rio confirmou até o momento 58 mortes, um saldo que assustou moradores e causou tensão entre os governos estadual e federal. Estima-se, porém, que o número de óbitos ultrapasse 100 com base nos corpos encontrados por moradores da região.
Operação Contenção foi realizada nos complexos do Alemão e da Penha contra o CV. Nove pessoas foram feridas a tiros, sendo três moradores e seis agentes, quatro civis e dois militares. Entre os mortos, estão lideranças da facção em outros estados que estavam refugiados na região.
Segundo o Governo do Rio, 81 suspeitos foram presos. Mais de 90 fuzis, rádios comunicadores e 200 kg de drogas foram apreendidas. Criminosos reagiram à operação com troca de tiros, segundo a Polícia Civil do Rio. Ao avistar os agentes, homens armados utilizaram drones para atacar.




