SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A PF (Polícia Federal) faz, nesta quarta-feira (29), uma grande operação para desmantelar um esquema especializado em fraudes bancárias eletrônicas, principalmente do interior de São Paulo. Batizada de Operação Pena Certa, a ação investiga uma organização criminosa acusada de aplicar golpes em correntistas.
A investigação teve início em São José do Rio Preto (SP), após a Polícia Militar prender em flagrante uma pessoa que estava instalando um dispositivo conhecido como “chupa-cabra” em um caixa eletrônico da Caixa Econômica Federal, para capturar senhas e dados de cartão de crédito de clientes.
Até o momento, foram cumpridos quatro mandados de prisão preventiva e 13 mandados de busca e apreensão. Duas pessoas da quadrilha estão presas, e as demais estão sendo procuradas na região de São Paulo e Guarulhos.
Em entrevista coletiva, o delegado Alexandre Manoel Gonçalves, chefe da Delegacia da Polícia Federal em São José do Rio Preto, afirmou que um veículo que dava apoio para essa quadrilha estava com várias máquinas de desconto bancário e de cartão de crédito. Isso permitiu identificar que o titular das máquinas estava ligado a uma grande quadrilha que aplicava golpes em diferentes cidades do estado.
O líder da quadrilha, que já respondia a inquéritos por crimes semelhantes em outras delegacias, também foi identificado.
Segundo a PF, os golpistas instalavam peças falsas em caixas eletrônicos e mantinham uma central de atendimento que se passava por banco. Assim, conseguiam dados das vítimas e causavam prejuízos a clientes e instituições financeiras.
Cerca de 80 policiais participam da ação, que tem mandados de busca e prisão em São Paulo e Guarulhos. As ordens foram expedidas pela 1ª Vara Federal de São José do Rio Preto (SP).
Os investigados podem responder pelos crimes de estelionato qualificado, uso de documento falso e formação de quadrilha (organização criminosa).
COMO FUNCIONAVA A FRAUDE
Os criminosos são moradores de São Paulo e Guarulhos, que se deslocavam para São José do Rio Preto para instalar os dispositivos de captura. Eles agiam especialmente durante a noite ou nos finais de semana, dificultando o acesso ao terminal e capturando os dados.
Segundo Gonçalves, o golpe era sofisticado: quando o cartão ficava retido na máquina, as vítimas eram induzidas a ligar para um número 0800 fraudulento, pelo qual a quadrilha operava uma pequena central telefônica clandestina em São Paulo. Ao ligar, a vítima falava com um integrante da quadrilha, que se passava por funcionário do banco e a estimulava a fornecer todos os dados necessários.
PREJUÍZO E LAVAGEM DE DINHEIRO
O prejuízo causado é considerado “vultuoso” pelo delegado, afetando não apenas os correntistas, mas também as instituições financeiras, que muitas vezes são obrigadas a restituir os valores aos clientes.
Para ocultar a origem e o destino do dinheiro, a quadrilha utilizava as máquinas de cartão ligadas a empresas de fachada registradas em nome de laranjas como vizinhos ou familiares dos investigados.
Assim que os valores eram transferidos para essas empresas, o dinheiro era rapidamente sacado para evitar o rastreio e a recuperação pelas vítimas. Esses laranjas estão sendo investigados por envolvimento no crime.
Já foram apreendidos chips de telefone, dispositivos de computador e informática, além de documentos que podem comprovar, inclusive, o uso de documento falso para abertura das contas, segundo a Polícia Federal. Embora o foco inicial da investigação tenha sido na Caixa Econômica Federal, a organização criminosa atuava em diferentes bancos.
GOLPES AUMENTARAM 80% NO ÚLTIMO ANO
O avanço dos aplicativos de celular e dos canais digitais de atendimento ampliou as formas de acesso aos serviços bancários e também abriu espaço para novas modalidades de golpe.
Entre os crimes mais comuns estão as centrais falsas que imitam o atendimento oficial dos bancos, o envio de links fraudulentos por aplicativos de mensagem e as chamadas “maquininhas” adulteradas, que capturam informações de cartões.
Segundo a Febraban (Federação Brasileira de Bancos), os golpes digitais cresceram 80% no último ano, e o perfil das vítimas tem se ampliado, atingindo inclusive clientes com bom nível de instrução e familiaridade com tecnologia.
De acordo com dados da Febraban, o volume de prejuízo causado por fraudes em canais eletrônicos e cartões no Brasil saltou de R$ 8,6 bilhões em 2023 para R$ 10,1 bilhões em 2024 um aumento de 17 %. No mesmo período, as fraudes via PIX cresceram 43 %, acumulando perdas de cerca de R$ 2,7 bilhões.
Uma pesquisa mais ampla da Febraban revela que entre os entrevistados que já foram vítimas ou tentativas de vítimas de golpes bancários, os tipos mais citados são: clonagem ou troca de cartão, golpes via WhatsApp e a falsa central por telefone.
Além da realização de campanhas educativas, os bancos investem cerca de R$ 5 bilhões por ano em sistemas de tecnologia da informação voltados para segurança. Segundo a Febraban, o valor corresponde a cerca de 10% dos gastos totais do setor com sistemas para garantir segurança nas transações financeiras cotidianas.




