SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Diante do deslocamento de forças para a América Latina determinada por Donald Trump, militares dos Estados Unidos envolvidos em operações na região estão sendo obrigados a assinar acordos de confidencialidade (NDAs, na sigla em inglês), em exigência considerada incomum e que gera preocupação dentro e fora do país, disseram autoridades americanas à agência Reuters sob a condição de anonimato.

A medida chama atenção porque integrantes das Forças Armadas já estão comprometidos a proteger segredos de segurança nacional. Ainda assim, o Pentágono impôs novas restrições apesar das críticas feitas por congressistas que afirmam estar sendo mantidos no escuro sobre detalhes das missões.

Não está claro quantos militares foram obrigados a assinar os acordos nem a extensão das operações em que eles estão envolvidos. Segundo as autoridades, o uso dos NDAs em ações específicas na América Latina começou após Pete Hegseth assumir o comando do Departamento de Defesa, em janeiro.

Na semana passada, o Pentágono anunciou o envio à região do USS Gerald R. Ford, o maior e mais poderoso porta-aviões do mundo, num contexto de hostilidade contra o regime de Nicolás Maduro, da Venezuela. Integrantes do governo Trump afirmam que a estratégia dos EUA é aplicar o máximo de pressão sobre o ditador para removê-lo do poder, inclusive com o uso da força, caso necessário.

O discurso oficial do governo americano é de que os militares atuam para interromper o tráfico internacional. Desde o início de setembro, os EUA fizeram ao menos 14 ataques contra embarcações que, supostamente, transportavam drogas, a maioria no Caribe. O número de mortos chega a 57, e o Pentágono afirma que entre eles há cidadãos da Venezuela, Colômbia e Equador.

O porta-aviões não se desloca sozinho. A escolta costuma conter de 3 a 6 destróieres, 1 cruzador, navios de apoio e 1 submarino nuclear de ataque com funções defensivas —poder de fogo que é maior do que a maioria das aeronáuticas e marinhas do mundo. Além disso, os EUA mobilizaram em Porto Rico, território americano no Caribe, e em outras embarcações já posicionadas na região, caças e milhares de soldados.

O Pentágono não explicou por que tamanha força é necessária para uma missão supostamente voltada ao combate ao narcotráfico.

Desde que assumiu o comando, Hegseth vem impondo medidas para restringir o fluxo de informações dentro do Departamento de Defesa. Em memorando de 15 de outubro, ele determinou que funcionários do Pentágono precisam obter permissão para interagir com membros do Congresso. Também iniciou investigações sobre vazamentos e passou a exigir que jornalistas do setor assinem documento com novas regras para acesso à imprensa, retirando credenciais de quem se recusa a fazê-lo.

Procurado pela Reuters, o Departamento de Defesa não respondeu a questionamentos sobre as medidas.

O governo de Donald Trump tem acusado o ditador venezuelano, Nicolás Maduro, e o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, de envolvimento com o narcotráfico. Os líderes sul-americanos negam.

Em agosto, Washington dobrou de US$ 25 milhões para US$ 50 milhões a recompensa por informações que levem à prisão de Maduro, a quem acusa de vínculos com o crime organizado.

As tensões cresceram também com a Colômbia, após Trump chamar Petro de “líder do tráfico de drogas” e “cara mau”. Na sexta-feira (24), Washington ainda impôs sanções ao presidente colombiano por supostamente “contribuir com a proliferação internacional de drogas”.

O senador republicano Lindsey Graham, aliado de Trump, afirmou que o republicano planeja apresentar ao Congresso “operações militares potenciais” contra Venezuela e Colômbia.

“Os recursos militares estão se movendo para enfrentar países com sangue nas mãos, por inundarem os EUA com drogas”, disse ele à rede americana CBS. “Espero que Maduro saia [do poder] de forma pacífica. Não acredito que vá permanecer por muito tempo.”