SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A psoríase é uma condição dermatológica que acomete 1,31% da população brasileira, segundo dados da OMS e SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia), de 2021. Nesta quarta-feira (29), é celebrado o Dia Nacional e Mundial da Psoríase, para aumentar a conscientização e diminuir o estigma sobre a doença.
Ela é uma doença inflamatória e imunomediada, em que o próprio sistema imunológico provoca inflamações na pele e, em alguns casos, nas articulações, explica o dermatologista Gabriel Fernandes, especialista pela Sociedade Brasileira de Dermatologia.
A condição está relacionada a predisposição genética, mas fatores como estresse, infecções virais, certos medicamentos, tabagismo, álcool e até gravidez podem desencadear ou agravar o quadro. A psoríase não é contagiosa.
Os principais sintomas incluem lesões na pele, descamação, crostas e vermelhidão, que podem coçar, arder ou causar uma sensação de repuxamento, explica o dermatologista.
“As áreas mais frequentemente afetadas são cotovelos, joelhos, pernas e região lombar”, diz Fernandes. A doença é causada por uma reação do corpo em que o sistema de defesa ataca as próprias células da pele, provocando inflamação.
Ela pode ser confundida com outras condições, como a dermatite seborreica, que também causa descamação e irritação da pele, principalmente no couro cabeludo.
“A psoríase também pode atingir as unhas, que podem apresentar pequenos pontinhos, manchas amareladas ou descolamento. Já no couro cabeludo, a descamação costuma ser mais espessa e ultrapassar a linha do cabelo, afetando regiões como a testa e a nuca o que ajuda a diferenciá-la da caspa ou dermatite seborreica”, completa o médico.
“Em alguns casos mais complexos, é necessário realizar uma biópsia da pele para confirmar o diagnóstico”, explica.
Como outras condições dermatológicas, a psoríase tem um impacto direto na autoestima. A professora Luciana Pereira da Conceição, 62, conta que chegou a ficar emocionalmente esgotada.
“Tive sorte de ter um parceiro muito compreensivo. Mesmo com o corpo coberto de lesões, ele nunca me fez sentir rejeitada e isso foi essencial para minha autoestima. Sentir-me desejada, mesmo com as lesões, me ajudou a não me deixar abater ainda mais.”
Para Luciana, os primeiros sinais não foram alterações na pele. “Os primeiros sintomas começaram com dor nas articulações, o que eu não associei à psoríase. Uma semana depois, surgiram lesões nas pernas, que se multiplicavam a cada dia. Fui ao médico, que logo pediu uma biópsia, e o resultado confirmou a doença”, diz.
Fernandes explica que existe um quadro chamado artrite psoriásica, em que a doença atinge as articulações. “Ela costuma acometer principalmente as juntas das mãos, causando dor e rigidez matinal, dificuldade de movimentar logo ao acordar, sintomas que tendem a melhorar ao longo do dia”, afirma.
“Outro sinal importante é o inchaço de um dedo inteiro, chamado dactilite. Esses sintomas devem ser relatados ao dermatologista o quanto antes, para que o paciente seja avaliado e tratado precocemente”, completa.
Atualmente, há diversas opções de tratamento para a psoríase e, com os avanços recentes, a maioria dos pacientes consegue controlar bem a doença e manter boa qualidade de vida.
“Entre os tratamentos disponíveis estão as pomadas anti-inflamatórias e a fototerapia, que usa luz para reduzir a inflamação. Também há medicamentos orais, tomados diariamente ou semanalmente, e os biológicos, aplicados por injeção na gordura da pele”, explica o dermatologista.
“Cada tipo de tratamento tem indicações e riscos específicos por isso, o acompanhamento com um dermatologista é fundamental para definir a melhor estratégia individualmente”.
Luciana precisou de mais de dez anos até encontrar o tratamento que realmente funcionou. “Só em 2021 consegui um acompanhamento regular pelo SUS. No fim do ano passado, minha médica indicou o deucravacitinibe [medicamento que demonstrou eficácia e segurança para quem não responde às terapias convencionais], e comecei a tomar há cerca de seis meses. Desde então, estou completamente em remissão sem nenhuma lesão, nem mesmo no couro cabeludo, que era a parte mais difícil de tratar”.
Falar abertamente sobre psoríase é essencial para combater o preconceito que ainda afeta os pacientes.
“Muitos sofrem rejeição e exclusão social por causa das lesões visíveis, o que pode impactar sua autoestima, produtividade e até gerar prejuízos emocionais”, destaca o dermatologista.
A professora confirma esse impacto emocional, pois já passou por fases em que usava roupas que cobriam sua pele, para esconder as lesões. “Aprendi a observar os sinais e a cuidar não só da pele, mas também da minha saúde emocional. Porque a psoríase não é apenas uma questão estética é uma condição que exige equilíbrio e autocuidado o tempo todo”, afirma.
Os dados mostram que o acesso ao especialista ainda é limitado no Brasil, 54% da população com 16 anos ou mais cerca de 90 milhões de pessoas nunca foi a um dermatologista, segundo levantamento do Datafolha em parceria com a SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia).




