BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Um imbróglio envolvendo contratos de patrocínio com duas bets (empresas de apostas) colocou o Corinthians nos arquivos sigilosos da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Congresso que investiga descontos irregulares em aposentadorias e benefícios do INSS.
O clube de futebol não é suspeito de envolvimento com os descontos em benefícios previdenciários, mas consta dos registros por ter sido obrigado a pagar uma quantia milionária a um dos investigados. O colegiado quebrou sigilos fiscais em série, o que aumenta a possibilidade de a comissão receber informações sobre pessoas ou entidades estranhas à investigação.
O Corinthians aparece em um relatório sigiloso sobre as transações da Nelson Wilians Advogados, elaborado pelo Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) a pedido da CPI, ao qual a Folha teve acesso. O órgão registrou, no documento, a transferência de R$ 4 milhões do Corinthians para a banca de advocacia.
Autoridades envolvidas nas investigações suspeitam que o dono do escritório, o advogado Nelson Wilians, seja parte do esquema de descontos irregulares em aposentadorias. Ele é próximo do empresário Maurício Camisotti, apontado como um dos beneficiários dos descontos. Os dois têm relações financeiras, de acordo com a investigação.
A assessoria de imprensa do Corinthians e a de Nelson Wilians afirmam que a transferência é referente ao pagamento de honorários advocatícios. O escritório representou a casa de apostas digitais PixBet em uma desavença contratual com o clube paulista.
A companhia era uma das patrocinadoras e estampava sua marca na camisa do Corinthians, mas o contrato foi rescindido no início de 2024 depois de o clube paulista fechar um acordo com a Vai de Bet, também do ramo de apostas.
O então novo patrocínio, que seria o maior do Brasil, naufragou nos meses seguintes e agora é alvo de uma investigação policial em torno do PCC (Primeiro Comando da Capital), a principal facção do crime organizado paulista.
A dívida da rescisão com a parceira anterior, porém, persistiu. O Corinthians fechou um acordo para pagar R$ 40 milhões em parcelas à PixBet, e bancar os honorários do escritório de Nelson Wilians foi parte do acerto. Os valores foram divulgados à época.
Wilians é um dos principais alvos da CPI do INSS. O colegiado solicitou um relatório sobre as transações do advogado ao Coaf, quebrou os sigilos bancário e fiscal dele e ainda pediu que fosse preso preventivamente.
Prender ou não o advogado é uma decisão que cabe à Justiça. A CPI pode apenas recomendar a ação. Ele prestou depoimento à comissão e negou irregularidades.
Relatório da operação Sem Desconto, a primeira contra as fraudes do INSS, listou movimentações financeiras atípicas ligadas a Wilians que somariam R$ 4,6 bilhões.
Depois, a PF (Polícia Federal) realizou busca e apreensão na casa do advogado, quando foram apreendidas esculturas e obras de arte, como um quadro de Di Cavalcanti.
Maurício Camisotti foi preso nessa mesma operação. Também foi preso Antonio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”, que se tornou o nome mais conhecido do escândalo dos descontos em benefícios previdenciários.
A defesa de Nelson Wilians, além de explicar que a transferência vinda do Corinthians era proveniente de honorários advocatícios, criticou o vazamento de informações sigilosas. Disse que os dados do advogado parecem já estar em domínio público.
“A divulgação de informações protegidas por sigilo fiscal e bancário é grave e viola o princípio da confidencialidade que deve nortear qualquer investigação, reforçando que o dr. Nelson Wilians é alvo de uma campanha difamatória baseada em vazamentos seletivos”, afirmou o advogado Santiago Schunck por meio de nota enviada à reportagem.




