SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A noite seria de ensaio na quadra da Acadêmicos de Niterói, escola de samba estreante no Grupo Especial do Rio que vai contar a trajetória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na avenida.

A pedido dos componentes, no entanto, o encontro previsto para esta quarta-feira (29) foi cancelado devido à repercussão da ação policial realizada nesta terça (28) e que deixou ao menos 64 pessoas mortas no Rio, na operação mais letal da história do estado,

Samba no pé, só na semana que vem. “A comunidade sempre em primeiro lugar”, diz trecho de comunicado assinado pela direção da agremiação. “A escola priorizará o bem-estar de todos que se sentem inseguros neste momento que a cidade do Rio de Janeiro está passando”.

A operação nos complexos do Alemão e da Penha e a resposta do Comando Vermelho —que usou armamento pesado e ordenou o fechamento de vias— também provocou o cancelamento do ensaio da comunidade na Grande Rio na noite de terça.

“A decisão visa garantir a segurança e o bem-estar de todos os integrantes, componentes e do público”, informa a escola de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.

Outras escolas, como a Viradouro e a Vila Isabel, do Grupo Especial, e a União da Ilha e a Império Serrano, da Série Ouro, também tiveram que desmarcar ensaios em suas quadras.

Em Ramos, na zona norte do Rio, o Instituto Imperatriz Leopoldinense, braço social da escola de mesmo nome, suspendeu as atividades na terça e, em comunicado, pediu paz e não guerra.

“A Imperatriz Leopoldinense anseia por dias melhores para nossa comunidade e pelo direito à cidadania”, afirma manifesto da escola de samba.

Musa da Viradouro, Lore Improta comunicou nas redes sociais que voltaria a Salvador logo após desembarcar no Rio para o ensaio da escola, que foi desmarcado. Ela disse que foi aconselhada a não ficar na cidade diante do quadro de violência e caos.

O Beco do Rato, conhecida casa de samba na Lapa, região boêmia do Rio, cancelou as atividades na terça e promete retomar o funcionamento nesta quarta.

O dia histórico de violência afetou também a música sinfônica. A Orquestra da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) suspendeu o concerto previsto para esta quarta, às 19h, no Salão Leopoldo Miguez, da Escola de Música da universidade. Segundo comunicado sobre a decisão, as condições de segurança e mobilidade estão comprometidas na cidade.

Outro espaço fechado diante do alerta de segurança no Rio foi o Clube Manouche, no Jardim Botânico. O ator Eduardo Moscovis e a poeta Alexandra Maia apresentariam no local o espetáculo “Lendo, Amor”, que foi cancelado.

Também foram desmarcados os shows desta terça dos cantores Pedro Luís, no Teatro Ipanema Rubens Corrêa, na zona sul, e Silva, no Teatro João Caetano, no Centro.

Na literatura, o dia também foi de resguardo. A ABL (Academia Brasileira de Letras) adiou dois eventos que aconteceriam na terça: uma mesa-redonda de lançamento do livro “Diplomatas Escritores Imortais”, organizada pelo escritor João Almino; e a palestra “Poesia Mundi: Novos Poemas Reunidos”, do poeta Marco Lucchesi. Os dois eventos serão remarcados.

A editora Todavia cancelou os lançamentos de livros que aconteceriam na terça na Livraria Travessa do Leblon e na Livraria Janela do Jardim Botânico. No Leblon o livro lançado seria “Coisa de Rico”, de Michel Alcoforado, e no Jardim Botânico o lançamento seria de “Os Urubus Não Esquece”, de Pedro Cesarino. Não há previsão de novas datas.