SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Policiais militares rodoviários faziam patrulhamento na rodovia Dom Pedro 1º quando passaram por uma carreta com fita adesiva encobrindo dois números da placa dianteira. Houve cerca de 5 km de perseguição na noite de 16 de agosto passado até o condutor abandonar o veículo, que era roubado, ao acessar uma estrada vicinal e tentar fugir. Ele foi preso por receptação.

A Dom Pedro 1º, exatamente no trecho de Itatiba, onde houve a prisão, está entre os locais com mais ocorrências de roubo e furto de caminhões no estado de São Paulo. Foram ao menos oito casos nos oito primeiro meses do ano.

Os dados fazem parte de um levantamento da Fecap (Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado), em parceria com a empresa de rastreamento Tracker, a partir de boletins de ocorrência registrados na Polícia Civil.

De acordo com o estudo, apesar de as estatísticas estarem em queda, houve uma disparada nos roubos de caminhões em agosto (último mês disponível). Foram 145 casos em 2025 contra 104 no mesmo mês de 2024, uma alta de quase 40%.

São ladrões de olho em veículos caros e cheios de tecnologia. Um caminhão-trator Volvo FH 540 6X4T, o campeão de queixas neste ano, zero-quilômetro, custa pouco mais de R$ 1 milhão.

Os números recentes, entrentanto, mudam uma tendência. A pesquisa mostra que de janeiro a agosto houve queda de 3,8% nos roubos e de 20,4% nos furtos, frente ao mesmo período de 2024.

Veículos roubados concentram 71,5% das ocorrências nos oito primeiros meses de 2025.

Em nota, a SSP (Secretaria da Segurança Pública) afirma desconhecer a a metodologia do levantamento. A gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos), porém, apresenta outros dados com queda nesse tipo de criminalidade.

Segundo a apasta, sem citar casos excluivos de caminhões e carretas, em agosto houve queda nos roubos de carga na capital (-25,6%), na Grande SP (-20,7%) e no interior do estado (-62,7%).

“Esses dados sugerem uma possível eficácia das medidas de segurança ou uma mudança no modo de agir dos criminosos, que podem estar se deslocando para outras modalidades ou regiões”, afirma Erivaldo Vieira.

O estudo da fundação mostra que o problema é maior nas estradas que cortam a capital e cidades vizinhas. Somente na rodovia Fernão Dias, em trechos que envolvem os municípios de São Paulo, Guarulhos e Mairiporã foram 55 caminhões levados em oito meses.

Entre bairros citados, Cumbica, em Guarulhos, onde fica o Aeroporto Internacional de São Paulo, é o campeão nessa estatística. Foram 26 casos em 2025 até agosto.

A pasta da segurança pública aponta números em queda no município da região metropolitana de São Paulo -em agosto foram 17 casos de roubo de carga contra 20 de 2024. “No ano acumulado do ano, entre janeiro e agosto, houve uma redução de 27,17% nos roubos de carga em relação ao mesmo período do ano anterior, o menor índice desde o início da série histórica, em 2001.”

Segundo a Tracker, o levantamento evidencia ainda que terças, quartas e quintas-feiras concentram mais da metade das ocorrências, o que coincide com o pico das operações de transporte e entrega.

Vitor Corrêa, gerente de Comando e Monitoramento do grupo, afirma que o padrão de atuação dos criminosos está cada vez mais sofisticado.

“Equipados com bloqueadores de sinal, eles neutralizam o rastreamento GPS em segundos, tornando indispensável o uso de tecnologias híbridas de rastreamento, capazes de manter o contato com o veículo mesmo em ambientes hostis”, afirma. “Em operações reais, essa redundância tem sido determinante para viabilizar a recuperação.”

No caso da carreta apreendida pela polícia rodoviária na Dom Pedro 1º em agosto passado, dentro do caminhão havia duas maletas com bloqueadores de sinal de geolocalização.

QUEDA NAS ESTATÍSTICAS DE CARGA.

Entre janeiro e agosto deste ano, foram registrados 2.364 casos de cargas roubadas ou furtadas, contra 3.246 no mesmo período de 2025, uma queda de 27%.

As cargas de alimentos lideram o ranking das mercadorias mais visadas pelos criminosos, com 31,58% de todos os registros.

O número, aponta o levantamento, indica que bens essenciais e de giro rápido -facilmente escoados no mercado informal- permanecem como o principal alvo das quadrilhas.

Sobre a queda, a Secretaria da Segurança Pública diz que são fruto das ações integradas das polícias Civil e Militar, com base em análise de inteligência e mapeamento constante dos pontos mais sensíveis do estado, especialmente rodovias e regiões com maior circulação de transporte de cargas.

São Paulo, afirma, conta ainda com o Programa de Prevenção e Redução de Furtos, Roubos, Apropriação Indébita e Receptação de Carga (Procarga), que orienta as políticas de repressão a esse tipo de crime.