SÃO PAULO, SP E RIO DE JANEIRO, RJ (UOL/FOLHAPRESS) – Por volta das 6h, 2.500 policiais militares e civis saíram às ruas da cidade do Rio de Janeiro para colocar em prática o que se tornaria horas depois a operação mais letal da história do estado. Até as 22h desta terça, 64 pessoas haviam sido mortas. Ao longo do dia, a operação e seus desdobramentos assustaram moradores e declarações do governador Cláudio Castro geraram tensão entre os governos estadual e federal.

Operação Contenção acontece nos complexos do Alemão e da Penha contra o CV (Comando Vermelho). Nove pessoas foram feridas a tiros: três moradores e seis agentes, quatro deles civis e dois, militares. Entre os mortos, estão lideranças da facção em outros estados que estavam refugiados na região.

Segundo o governo do Rio, 81 suspeitos foram presos. Mais de 90 fuzis, rádios comunicadores e 200 kg de drogas foram apreendidos.

Polícia prendeu Thiago do Nascimento Mendes, o “Belão do Quitungo”, homem de confiança de Doca, um dos líderes do CV nas ruas. Líderes da facção de outros estados também foram presos.

Criminosos reagiram à operação com troca de tiros, segundo a Polícia Civil do Rio. Ao avistar os agentes, homens armados utilizaram drones para atacar.

Operação foi planejada há 60 dias. Foram acionados agentes da CORE (Coordenadoria de Recursos Especiais), da Delegacia de Repressão a Entorpecentes e do Departamento de Combate à Lavagem de Dinheiro e agentes do Comando de Operações Especiais da Polícia Militar do Rio de Janeiro.

POLICIAIS MORTOS

Quatro policiais estão entre os 64 mortos na ação. São dois policiais civis e dois agentes do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais).

Marcus Vinícius Cardoso de Carvalho, 51, trabalhava na Polícia Civil do Rio. O agente morreu após ser baleado na cabeça.

Ele havia acabado de ser promovido. Ontem, ele foi alçado ao posto de comissário de polícia, cargo máximo concedido a um investigador no órgão.

Rodrigo Velloso Cabral era novato na Polícia Civil fluminense. Ele havia entrado na corporação há 40 dias e foi morto após ser atingido com um tiro na nuca.

Sargento Heber Carvalho da Fonseca, 39, era agente do Bope. O militar tinha especialização em tiros de precisão e foi morto durante confronto com traficantes no Alemão. Ele deixa esposa e filhos.

Cleiton Serafim Gonçalves, 42, também era sargento do Bope. Ele era especialista em tiros e apoio tático durante as operações.

PÂNICO ENTRE MORADORES

Lideranças do CV mandaram fechar comércios em comunidades do Rio de Janeiro após a Operação Contenção. A facção foi alvo de mais de cem mandados de prisão.

CV ordenou que ninguém saísse de casa até segunda ordem, apurou a reportagem. Mercados, lojas, oficinas, padarias e demais estabelecimentos nas regiões controladas pela facção foram obrigados a manter as portas fechadas.

“CV informa toque e recolher, ninguém sair de casa (sic)”. A mensagem foi recebida por um morador do Complexo do Alemão. Policiais ouvidos pela reportagem confirmaram o toque de recolher em alguns domínios do grupo criminoso.

Facção tenta tirar a atenção dos policiais envolvidos na operação. Moradores das duas comunidades alvos da operação também receberam mensagens anunciando que roubos estavam permitidos durante o período. Mercados foram saqueados.

Moradores do Alemão e da Penha denunciaram violações cometidas pelas forças de segurança. Denúncias constam em relatório da Ouvidoria Geral da Defensoria Pública do RJ, obtido pela reportagem.

Denúncias incluem agressão contra mulher grávida e tiros de arma de fogo disparados “de forma indiscriminada” na direção dos moradores. Segundo os relatos recebidos pela Ouvidoria, policiais também invadiram residências sem mandados judiciais e negaram socorro a pessoas que passavam mal em locais das operações.

LEWANDOWSKI X CASTRO

Enquanto a Operação Contenção acontecia, o governo do Rio, Cláudio Castro (PL), cobrou o governo Lula (PT). “Infelizmente, desta vez, como ao longo deste mandato inteiro, não temos o auxílio de blindados nem de agentes das forças federais de segurança e da defesa”, reclamou.

Mais tarde, o ministro da Justiça e Segurança, Ricardo Lewandowski, disse que não foi consultado. “Não recebi nenhum pedido do governador do Rio de Janeiro, enquanto ministro da Justiça, para esta operação. Nem ontem, nem hoje. Absolutamente nada”, disse.

Ministério da Defesa afirmou que recebeu um ofício do governo do Rio em janeiro de 2025. Segundo a pasta, o pedido foi feito após uma capitã de Mar e Guerra morrer atingida por uma bala de fogo. “A Marinha posicionou veículos blindados no perímetro do hospital, respeitando o limite legal de 1.400 metros em torno de instalações militares”, diz o ministério.

MOBILIDADE EM MEIO À OPERAÇÃO

Diversas avenidas, incluindo a Brasil, além de estradas e linhas foram afetadas ao longo do dia. O boletim mais recente, divulgado pelo Centro de Operações Rio às 20h, cita interdições apenas na Avenida Chrisóstomo Pimentel de Oliveira, em Anchieta, e na Autoestrada Grajaú-Jacarepaguá, sentido Jacarepaguá.

Às 16h23, o MetrôRio informou que as linhas 1, 2 e 4 funcionavam normalmente. Houve reforço no número de trens para atender aos usuários.

Todos os serviços do BRT afetados seguem operando em fase de normalização. Clique aqui e confira a lista completa.

Segundo a Rio Ônibus, 71 veículos foram utilizados pelos criminosos como barricadas. Foram 204 linhas impactadas pela operação.