SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O furacão Melissa atingiu o solo da Jamaica nesta terça-feira (28) como um fenômeno de categoria máxima, segundo o Centro Nacional de Furacões dos EUA (NHC). Mais cedo, a Organização Meteorológica Mundial (OMM) afirmou que espera uma situação catastrófica no país caribenho, em decorrência das rajadas de vento superiores a 300 quilômetros por hora, sendo a pior tempestade a atingir a ilha neste século. A costa da cidade de New Hope, a oeste do país, foi a primeira região atingida pelos ventos.
Pelo menos três pessoas já morreram por causas relacionadas à tempestade, informaram as autoridades do país. O Ministério da Saúde e Bem-Estar informou que esses óbitos ocorreram durante os preparativos para a chegada do furacão Melissa.
“É uma situação catastrófica esperada na Jamaica”, disse a especialista em ciclones tropicais da OMM, Anne-Claire Fontan, em uma entrevista coletiva em Genebra. “Para a Jamaica, será com certeza a tempestade do século.”
Após atingir o solo do país, o furacão foi rebaixado para categoria 4 na escala Saffir-Simpson, com ventos constantes de 240 km/h -como é comum em fenômenos do tipo, que perdem intensidade ao passar por regiões terrestres. Mesmo com a desaceleração -antes, os ventos estavam a mais de 300 km/h- as condições seguem ameaçadoras, segundo os meteorologistas, para uma devastação generalizada. As autoridades mantêm as ordens de retiradas obrigatórias.
Horas mais tarde, segundo o NHC, o olho do furacão saiu do solo da Jamaica e, em um ritmo mais acelerado, seguiu sobre o oceano em direção a Cuba. De todo modo, os ventos decorrentes do fenômeno seguem a atingir toda a região.
O primeiro-ministro jamaicano, Andrew Holness, declarou área de desastre no país e renovou uma ordem comercial que impede o aumento de preços. O objetivo, segundo ele, é “prevenir qualquer exploração em um momento em que os cidadãos estão garantindo alimentos, água e suprimentos”.
Ondas de até quatro metros de altura são esperadas, disse Fontan, com precipitação que deve ultrapassar 700 mm, cerca do dobro da quantidade normalmente esperada durante toda a estação chuvosa. “Isso significa que haverá inundações repentinas e deslizamentos de terra catastróficos”, disse ela.
Este furacão é apenas o segundo de que se tem registro com ventos próximos a 300 km/h. A única outra tempestade com essa força ocorreu antes de os fenômenos serem nomeados oficialmente e ficou conhecida como furacão do Dia do Trabalho de 1935 -à época, os ventos causaram destruição generalizada na região da Flórida e mataram centenas de pessoas.
O Melissa já havia causado outras quatro mortes durante a semana: três no Haiti e uma na República Dominicana, onde um adolescente ainda está desaparecido.
O Centro Nacional de Furacões dos Estados Unidos (NHC) prevê que, depois de atingir a Jamaica nesta terça, a tempestade deve atravessar o leste de Cuba para seguir sobre as Bahamas e o arquipélago de Turks e Caicos até quarta-feira.
Em Cuba, com dificuldades para divulgar informações preventivas por causa da falta de eletricidade, as autoridades apressam os preparativos para receber na terça-feira os impactos do Melissa.
O Conselho de Defesa Nacional declarou na segunda-feira a “fase de alerta” nas seis províncias do leste (Santiago de Cuba, Guantánamo, Holguín, Camagüey, Granma e Las Tunas). As autoridades começaram a retirar cerca de 650 mil pessoas. A população faz estoques de mantimentos e tenta amarrar com cordas os telhados de suas casas. As aulas e as atividades não essenciais foram suspensas.
TEMPESTADE SE INTENSIFICOU NA APROXIMAÇÃO
O movimento lento do Melissa sobre as águas caribenhas incomumente mornas contribuiu para seu aumento de tamanho e força, disseram os meteorologistas do NHC. O furacão avança mais devagar que uma pessoa andando, a apenas 5 km/h ou menos, o que faz com que permaneça mais tempo em cada local por onde passa.
O NHC informou, ainda na segunda-feira, que os ventos na parede do olho do Melissa são tão fortes que podem causar “falha estrutural total” e cortes generalizados de energia e comunicação.
A Federação Internacional da Cruz Vermelha disse que até 1,5 milhão de pessoas na Jamaica devem ser diretamente afetadas. “Hoje será muito difícil para dezenas de milhares, senão milhões de pessoas na Jamaica”, disse Necephor Mghendi da Cruz Vermelha. “Os telhados serão postos à prova, as águas das enchentes subirão, o isolamento se tornará uma dura realidade para muitos.” Mais de 800 abrigos foram montados para os deslocados das áreas mais afetadas, acrescentou.
Apesar das ordens de retirada, muitos moradores da Jamaica decidiram permanecer em suas casas. “Não vou me mover. Não acho que consiga escapar da morte”, disse Roy Brown, morador de Port Royal, à agência de notícias AFP.
O furacão Melissa é a 13ª tempestade da temporada de furacões do Atlântico, que se estende do início de junho ao fim de novembro. As fortes chuvas, combinadas com ventos intensos, podem causar uma devastação comparável à de furacões históricos como o Maria (2017) ou o Katrina (2005).
Dados da Organização Meteorológica Mundial indicam que eventos climáticos extremos mais do que triplicaram ao longo dos últimos 50 anos em consequência do aquecimento global. Com mais calor acumulado na atmosfera e nos oceanos, há maior liberação de energia, o que intensifica os sistemas tropicais responsáveis pela formação dos furacões e os torna mais destrutivos.
Outro órgão ligado à ONU, o IPCC (Painel Intergovernamental para a Mudança Climática), já afirmou em relatório que hoje é inequívoco que parte dessas mudanças foi causada pela ação humana.




