RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O Rio de Janeiro antecipou em quatro horas o horário de pico do trânsito e do transporte público nesta terça-feira (28), em meio ao caos provocado pela operação policial nos complexos da Penha e do Alemão, que deixou 64 mortos -60 deles apontados como suspeitos e quatro policiais. É a mais letal da história do estado.

O fluxo intenso de volta para a casa começou por volta das 12h, quando normalmente ocorre a partir das 16h. Às 15h30, o trânsito já estava tão carregado quanto o de uma terça-feira comum às 18h45. Estações de metrô, trem, BRT e barcas ficaram lotadas durante toda a tarde, e filas se formaram também nos terminais rodoviários.

Na Central do Brasil, no centro do Rio, passageiros enfrentaram empurra-empurra para conseguir embarcar nos trens. Na Praça XV, longas filas se formaram para tentar pegar a barca em direção a Niterói. Por volta das 17h, muitas pessoas andavam por quilômetros sem opção de ônibus na região da Barra Olímpica, na Barra da Tijuca.

Os transportes por aplicativo ficaram escassos e, com a alta demanda, os preços dispararam. Corridas que costumam custar R$ 15 chegaram a R$ 100.

Muitas pessoas foram liberadas mais cedo do trabalho, enquanto outras resolveram permanecer em casa e desmarcar compromissos diante da escalada de violência e dos bloqueios nas vias.

A funcionária da Fiocruz Flávia Lima, 42, que trabalha na unidade da fundação na avenida Brasil, foi liberada no início da tarde, mas levou três horas para chegar em casa, na Baixada Fluminense -mesmo usando o ônibus institucional da própria Fiocruz.

“Fomos liberados cedo por conta de toda a situação na cidade, saímos por volta de 13h, e mesmo assim o trajeto demorou o triplo do normal. A gente via o trânsito parado e o pessoal andando no meio da pista, tentando chegar em casa de algum jeito”, disse.

Escolas particulares e públicas também alteraram o funcionamento. Uma creche particular no Recreio dos Bandeirantes enviou comunicado aos pais pedindo que antecipassem a saída das crianças.

“Solicitamos que as famílias que puderem antecipar a saída de seus filhos o façam, para que possamos liberar os funcionários que moram perto das regiões atingidas. Lamentamos o transtorno, mas temos que ficar atentos às orientações dos órgãos públicos, zelando pelo bem-estar de nossas crianças e funcionários”, dizia o aviso.

As universidades UFRJ, UFF, UERJ e a Faetec suspenderam as aulas presenciais.

Nas redes sociais, usuários relataram dificuldades de locomoção pela cidade durante a operação. Vídeos e fotos mostravam plataformas de trem lotadas, filas nos pontos de ônibus e motoristas enfrentando congestionamentos em diferentes vias da capital.

A SuperVia antecipou o horário de pico vespertino para atender o alto volume de passageiros, e o MetrôRio reforçou a grade e reduziu os intervalos entre trens.

Circulou nas redes sociais a informação de que o estágio operacional 4 -o segundo mais grave- havia sido declarado pela prefeitura, mas a informação é falsa. O município manteve o estágio 2, de atenção.

O prefeito Eduardo Paes (PSD) negou qualquer agravamento da situação e pediu que a população busque informações em canais oficiais.

“Não dá pra gente ficar acreditando em qualquer fake news. É óbvio que há uma tentativa de grupos criminosos espalharem terror pela cidade, e isso também é inaceitável. O que eu estou vendo de notícia falsa nas redes é uma loucura. Tem acontecido problemas pontuais, mas as equipes têm resolvido rapidamente. É importante as pessoas confiarem nos órgãos oficiais de comunicação”, afirmou Paes no Centro de Operações da Prefeitura.

De acordo com o Rio Ônibus, esta terça-feira foi marcada por “graves ocorrências no transporte público”.

“Até o momento foram registrados 71 ônibus utilizados como barricadas e 204 linhas impactadas, um prejuízo significativo para a mobilidade urbana”, informou o sindicato. A nota diz que o serviço “está voltando à normalidade à medida que os bloqueios estão sendo desfeitos”.

Mais cedo, caminhões e ônibus foram roubados e atravessados em avenidas por criminosos em protesto contra a operação. Pneus em chamas e barricadas interditaram vias em diferentes regiões, como Anchieta, Méier, Serra Grajaú-Jacarepaguá, avenida Brasil, Linha Amarela, Cidade de Deus, Chapadão, Engenho da Rainha, além dos complexos do Alemão e da Penha.

A Polícia Militar informou que suspendeu o expediente administrativo e colocou todos os batalhões em prontidão, com reforço no policiamento das principais vias e áreas de grande circulação.

Segundo a corporação, a operação tinha como alvo lideranças do Comando Vermelho, entre elas Thiago do Nascimento Mendes, o Belão, acusado pelo governo estadual de estar por trás dos confrontos entre o CV e o TCP (Terceiro Comando Puro) em Costa Barros, na segunda (27).

A ação deixou também 81 presos e mais de 90 fuzis apreendidos.

A Linha Amarela chegou a ser interditada nos dois sentidos por dez minutos. Na avenida Brasil, motoristas dirigiram na contramão para evitar bloqueios.

Por volta das 20h, a cidade seguia em estágio 2 de atenção. Segundo o Centro de Operações da Prefeitura, equipes do município atuam em conjunto com a PM para liberar as vias e orientar motoristas.