SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Quarenta e seis pessoas foram presas nos últimos 30 dias no estado de São Paulo sob suspeita de falsificação de bebidas alcoólicas ou envolvimento nos casos de intoxicação por metanol. A informação foi dada nesta terça-feira (28) pelo delegado-geral da Polícia Civil, Artur Dian, após a primeira sessão da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Metanol, na Câmara Municipal de São Paulo.

Segundo ele, após a descoberta de uma fábrica clandestina em São Bernardo do Campo que está envolvida diratamente em ao menos duas mortes, a polícia tenta descobrir outras conexões.

“Já encontramos outras unidades e agora buscamos entender se há ligação entre elas e os casos de contaminação por metanol. Em algumas delas não constatamos a presença do metanol, mas seguimos investigando de onde veio o etanol contaminado e se houve relação com o posto de gasolina identificado [que vendeu etanol adulterado com metanol à fábrica]”, disse Dian.

Os dados mais recentes divulgados pelo Ministério da Saúde mostram que já são 15 mortes no Brasil por intoxicação por metanol, sendo 9 em São Paulo, 3 em Pernambuco e 3 no Paraná.

No dia 10 deste mês, a Polícia Civil de São Paulo localizou em São Bernardo do Campo uma fábrica clandestina suspeita de produzir bebidas alcoólicas adulteradas com metanol. A proprietária foi presa no local. Segundo Dian, o marido e o pai da mulher, suspeitos de envolvimento na associação criminosa, estão foragidos.

“Eles estão sendo procurados pela Justiça e ainda não conseguimos localizá-los, mas há diligências em andamento para capturá-los”, disse.

A fábrica clandestina, que repassava bebidas para distribuidoras -incluindo uma responsável por abastecer o bar Torres, na Mooca, zona leste de São Paulo– foi descoberta e interditada após a morte de duas pessoas por intoxicação. As vítimas, Ricardo Lopes, 54, e Marcos Antônio Jorge Júnior, 46, consumiram bebidas contaminadas no bar, que acabou interditado pela Vigilância Sanitária.

“Esse etanol [adulterado com metanol] foi utilizado para falsificar bebidas que foram vendidas a um estabelecimento comercial [bar Torres] consumidas por ao menos três pessoas. Duas delas morreram e uma terceira permanece em tratamento”, disse o delegado.

As mesmas técnicas de rastreamento usadas para localizar essa fábrica clandestina e os postos que a abasteciam com etanol adulterado estão sendo aplicadas em outros inquéritos, afirmou o delegado-geral, a fim de identificar novos pontos de venda e possíveis locais de produção ilegal.

“Infelizmente, já registramos nove mortes [no estado de SP] e há pessoas ainda em tratamento. Estamos utilizando o mesmo método para chegar a outros locais que possam ter comprado álcool adulterado para falsificação”, disse.

Também foram apreendidos 140 mil vasilhames, 22,5 mil garrafas e cerca de 480 mil itens utilizados na falsificação, como rótulos e lacres, desde o início do ano. Segundo Dian, o material apreendido é analisado pelo Instituto de Criminalística, que também analisa combustíveis e bebidas.

“A equipe de perícia tem trabalhado com plantões dobrados para que possamos ter respostas rápidas, mas é um processo técnico e demorado”, acrescentou.

Questionado, o delegado não soube informar quantos dos suspeitos seguem presos. A SSP (Secretaria da Segurança Pública) também não confirmou o número.

O secretário municipal de Segurança Urbana, Orlando Morando, disse que a Prefeitura de São Paulo tem atuado em conjunto com Polícia Civil, Vigilância Sanitária e subprefeituras no enfrentamento à falsificação de bebidas. Ele propôs que o setor adote uma política de controle e rastreabilidade das embalagens e negou que existam falhas na fiscalização.

“Ela [Vigilância Sanitária] fiscaliza o estabelecimento, as condições de higiene e de armazenamento, mas não tem capacidade técnica para identificar se uma bebida é falsificada. Nem a polícia conseguiu isso de imediato, foi preciso tempo até que a perícia confirmasse a presença de metanol.”

FIM DE ANO E CARNAVAL

Questionado sobre os grandes eventos de fim de ano e o Carnaval, o secretário afirmou que o foco das autoridades deve ser eliminar as fábricas clandestinas.

“É preciso chegar em quem estava engarrafando veneno no lugar de bebida. Nos grandes eventos, a venda de destilados é menor, mas é um desafio permanente. Acredito que até o Carnaval os criminosos estarão presos, e o risco, eliminado”, disse Morando.

Guilherme Derrite, secretário da Segurança Pública, também foi convidado para participar da primeira sessão da CPI do Metanol, mas alegou falta de disponibilidade na agenda e enviou o delgado-geral como seu representante. De acordo com a assessoria da vereadora Zoe Martínez (PL), presidente da CPI, Derrite será chamado em nova data.

Dian e Morando foram os primeiros convidados a falar na CPI, criada para investigar a comercialização de bebidas alcoólicas adulteradas na cidade. A comissão foi instalada no último dia 21. As reuniões ocorrerão todas as terças, das 13h às 15h, na Câmara. A vereadora Ely Teruel (MDB) é vice-presidente, e Sandra Santana (MDB), relatora.