Da Redação
Uma das ações policiais mais letais da história recente do Rio de Janeiro transformou a Zona Norte da capital em um cenário de guerra nesta terça-feira (28). A megaoperação contra o Comando Vermelho, batizada de Operação Contenção, mobilizou 2,5 mil agentes das polícias Civil e Militar, além de promotores do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) do Ministério Público estadual.
Ao longo do dia, confrontos intensos nos complexos da Penha e do Alemão deixaram mais de 60 mortos, entre eles quatro policiais, e oito agentes feridos. Segundo o balanço preliminar, 81 pessoas foram presas e 42 fuzis apreendidos. A operação tinha como meta capturar criminosos que utilizam as comunidades como bases estratégicas da expansão do Comando Vermelho.
Drones e explosivos: uma nova era do crime no Rio
Pela primeira vez, as forças de segurança enfrentaram uma tática inédita no estado: traficantes usando drones para lançar granadas sobre os agentes. O uso de gatilhos automáticos e disparos remotos de explosivos marca um novo patamar no poder bélico e tecnológico das facções.
Autoridades descrevem o confronto como “um cenário de guerra urbana”.
O governador Cláudio Castro afirmou que o Estado “não tem como enfrentar sozinho essa estrutura criminosa” e voltou a pedir o apoio das Forças Armadas, incluindo o envio de blindados da Marinha e do Exército — solicitação negada três vezes, segundo ele.
“Não é uma operação de rotina. É uma guerra, e o Rio está sozinho”, declarou o governador.
Quem são os mortos e feridos
Entre os mortos confirmados estão:
- Marcos Vinícius Cardoso Carvalho, policial civil da 53ª DP (Mesquita), conhecido como “Máskara”;
- Um agente da 39ª DP (Pavuna);
- Dois policiais do Bope;
- E 56 suspeitos, incluindo dois homens vindos da Bahia.
Além deles, oito policiais ficaram feridos e quatro moradores foram atingidos por balas perdidas, todos em estado estável.
Prisões e principais alvos
Entre os presos estão o operador financeiro de Edgard Alves de Andrade, o “Doca”, apontado como líder do Comando Vermelho na Penha, e Thiago do Nascimento Mendes, o “Belão do Quitungo”, considerado seu braço armado.
De acordo com o Gaeco, 51 mandados de prisão foram expedidos e 67 pessoas denunciadas por envolvimento com o tráfico.
O império de “Doca”
Apontado como o principal chefe do CV na Penha, Doca comanda áreas estratégicas como Gardênia Azul, César Maia e Juramento — algumas delas tomadas da milícia nos últimos meses. Segundo o Ministério Público, ele e outros líderes, como Pedro Bala, Gadernal e Grandão, determinam desde a venda de drogas até execuções de rivais e vigilância de territórios.
A localização da Penha, próxima a grandes vias expressas, transformou o complexo no epicentro da expansão territorial do Comando Vermelho rumo à Zona Oeste.
Cidade paralisada
Os confrontos alteraram completamente a rotina do Rio. Mais de 50 ônibus foram usados como barricadas, 120 linhas tiveram trajetos desviados e 46 escolas municipais — além de universidades como UFRJ, Uerj, UFF e Fiocruz — suspenderam as aulas.
A Câmara Municipal cancelou sua sessão do dia, e unidades de saúde próximas aos complexos funcionam parcialmente.
Moradores relataram tiroteios ininterruptos, fumaça e incêndios em barricadas. Imagens mostram criminosos fugindo em fila pela mata da Vila Cruzeiro.
Estrutura da Operação Contenção
A megaoperação envolveu agentes da Core, Bope, COE, delegacias especializadas e setores de inteligência, contando com:
- 32 blindados terrestres,
- 2 helicópteros,
- 12 veículos de demolição,
- drones de reconhecimento,
- e ambulâncias do Grupamento de Salvamento e Resgate.
Reação em Brasília
As declarações do governador provocaram reações no governo federal. Integrantes do Planalto classificaram suas falas como “politizadas”, afirmando que Castro tenta antecipar o debate eleitoral de 2026. O Ministério da Justiça acompanha a operação, mas ainda não confirmou o envio de reforços federais.
Balanço parcial
- Mortos: 60 (56 suspeitos e 4 policiais)
- Feridos: 8 agentes e 4 civis
- Presos: 81
- Fuzis apreendidos: 42
- Linhas de ônibus afetadas: mais de 120
- Escolas e universidades fechadas: 46 municipais + UFRJ, Uerj, UFF e Fiocruz
A Operação Contenção escancarou o avanço da criminalidade e a crescente militarização das facções no Rio — um retrato de um estado que, mais uma vez, parece travar uma guerra sem fim.







