SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar está em leve queda nesta terça-feira (28), com investidores à espera da decisão de juros do Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos) de amanhã.

Os operadores também aguardam o desenrolar das negociações comerciais entre o presidente Donald Trump e o líder chinês Xi Jinping, em reunião prevista para quinta-feira.

Às 14h27, o dólar recuava 0,13%, a R$ 5,363, depois de passar a manhã oscilando entre os sinais. Já a Bolsa avançava 0,47%, a 147.664 pontos, depois de ter renovado o recorde histórico de fechamento na véspera.

O comitê de política monetária do Fed (Fomc, na sigla em inglês) começou a deliberar sobre a taxa de juros norte-americana nesta terça-feira. São dois dias de encontros, e a decisão será divulgada na tarde de quarta-feira por volta das 15h (horário de Brasília).

A expectativa do mercado é por um corte na taxa, hoje em 4% e 4,25%: segundo a ferramenta CME FedWatch, operadores precificam quase 100% de probabilidade de uma nova redução de 0,25 ponto percentual, repetindo a dose da última reunião.

O Fed trabalha com um mandato duplo, isto é, baliza as decisões de política monetária a partir dos dados de emprego e de inflação. O objetivo é manter o mercado de trabalho aquecido e levar a inflação à meta de 2% ao ano.

O banco central, porém, tem sido forçado a escolher qual das duas pontas priorizar. O aumento dos pedidos de auxílio-desemprego tem sugerido que o mercado de trabalho continua esfriando, mesmo com a paralisação do governo atrasando a publicação da maioria das estatísticas econômicas oficiais, incluindo a taxa de desemprego, estimada pela última vez em 4,3% em agosto.

Ao mesmo tempo, leituras de inflação mostram que os preços ao consumidor estão acelerando. Na semana passada, o índice oficial do país mostrou que a inflação subiu 3% nos 12 meses até setembro.

Juros altos desestimulam o consumo, o que pode arrefecer o aumento dos preços, mas também restringem o mercado de trabalho. O inverso também é verdadeiro: juros baixos favorecem empregos, mas podem provocar um repique inflacionário.

Na última reunião, o Fed citou que o balanço de riscos para ambas as pontas do mandato duplo estava mais desfavorável para o mercado de trabalho do que para a inflação, e, sob essa justificativa, cortou os juros em 0,25 ponto percentual. O cenário se mantém, disse o presidente da autarquia, Jerome Powell, em um discurso neste mês, levando os mercados a precificar mais um corte neste encontro.

“Um corte de juros em outubro está dado”, afirma Julia Coronado, fundadora da empresa de pesquisa MacroPolicy Perspectives e ex-economista do Fed. “Nada mudou a perspectiva de que ainda há riscos de queda no mercado de trabalho.”

Reduções nos juros dos Estados Unidos costumam ser uma boa notícia para os mercados globais. Como a economia norte-americana é vista como a mais sólida do mundo, os títulos do Tesouro, chamados de “treasuries”, são um investimento praticamente livre de risco.

Quando os juros estão altos, os rendimentos atrativos das treasuries levam operadores a tirar dinheiro de outros mercados. Quando eles caem, a estratégia de diversificação vira o norte, e investimentos alternativos ganham destaque.

Em relação ao Brasil, há ainda mais um fator que favorece os ativos domésticos: o diferencial de juros. Quando a taxa nos Estados Unidos cai e a Selic permanece em patamares altos, investidores se valem da diferença de juros para apostar na estratégia de “carry trade”. Isto é: toma-se empréstimos a taxas baixas, como a americana, para investir em mercados de taxas altas, como o brasileiro. O aporte aqui implica na compra de reais, o que desvaloriza o dólar.

Ainda, um possível acordo entre Estados Unidos e China também aumenta o apetite por ativos de risco nesta sessão. Trump afirmou que os dois países estão prontos para alcançar uma solução para o recente impasse sobre as exportações chinesas de terras raras, restringidas no começo do mês pelo governo Xi Jinping.

Trump, em resposta, ameaçou a imposição de sobretaxas de 100% sobre produtos chineses. Os dois líderes devem se encontrar na quinta-feira na Coreia do Sul.

“Tenho muito respeito pelo presidente Xi e acho que chegaremos a um acordo”, disse Trump.

Mesmo com as sinalizações de uma trégua, os mercados globais adotam cautela. As ações da China e de Hong Kong fecharam em queda nesta terça: o índice de Xangai recuou 0,22%, e o CSI300, que reúne as maiores companhias listadas em Xangai e Shenzhen, caiu 0,51%. O Hang Seng, de Hong Kong, caiu 0,33%.

A sensação é de um déjà vu. De um lado, as declarações de uma trégua animam investidores; de outro, há temores de que o acordo real pode oferecer muito menos a comemorar.

O ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, e o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, estiveram em ligação na segunda.

Pequim espera encontrar um meio-termo com os americanos para “se preparar para interações de alto nível” entre os dois países, disse Wang Yi a Rubio, de acordo com um comunicado oficial do governo chinês.

Xi Jinping e Trump têm “intercâmbios de longa data e se respeitam mutuamente”, disse Wang, chamando o relacionamento entre Xi e Trump de “o ativo estratégico mais valioso nas relações entre a China e os EUA”.

As relações bilaterais podem avançar desde que ambos os lados estejam “comprometidos com a resolução de conflitos por meio do diálogo e abandonem a prática de exercer pressão à vontade”, acrescentou.