BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tenta evitar um risco jurídico envolvendo a concessão do seguro-defeso a partir de 1º de novembro. O benefício, no valor de um salário mínimo (R$ 1.518), é pago a pescadores artesanais durante o período em que a atividade é proibida.
O Executivo pretende retomar o limite orçamentário que trava a expansão de despesas com o programa, incluído originalmente na MP (medida provisória) 1.303 e que foi derrubado pela Câmara dos Deputados. Mas a medida precisa ser aprovada e sancionada ainda esta semana para evitar possíveis questionamentos legais.
Sem ela, a concessão do benefício terá de ser feita independentemente da existência prévia de recursos ou seja, se houver fila de pedidos, o governo precisará atender àqueles que preenchem os requisitos, ainda que isso exija cortes em outras áreas. Por isso, o Executivo tem como carta na manga uma nova MP para evitar que isso aconteça.
A maior preocupação do governo é com os períodos de defeso que se iniciam em 1º de novembro, entre eles o da lagosta, um dos mais abrangentes: vai desde o litoral do Amapá até a divisa do Espírito Santo com o Rio de Janeiro.
Se a regra que limita a concessão do benefício não tiver sido retomada até lá, os pescadores poderão requerer o benefício sob o argumento de que a norma vigente na data do pedido garante o pagamento.
Nesse cenário, a aprovação posterior do limite terá efeito menor, uma vez que os segurados poderão acessar o benefício pela regra anterior, mais vantajosa para o público-alvo do programa.
A equipe econômica articula a retomada do limite por meio de um projeto de lei em tramitação na Câmara, e a prioridade é aprová-lo e sancioná-lo ainda esta semana para evitar o risco jurídico.
Caso isso não aconteça, o governo pode optar pela nova MP para restringir o seguro-defeso e garantir que os novos pedidos sejam feitos sob a regra que permite algum controle de fluxo jargão técnico para definir a política cuja concessão deve observar o orçamento disponível. É o mesmo formato praticado no Bolsa Família.
O texto, porém, só será publicado em caso de necessidade, já que a prioridade é negociar com o Congresso. A decisão final caberá ao presidente Lula.
Além disso, o Executivo precisa cuidar para não cair em outro risco jurídico: o de infringir a Constituição Federal por reeditar MP de igual conteúdo em uma mesma legislatura, prática que é proibida.
Segundo técnicos do governo, há uma saída possível: em vez de atrelar o limite do programa ao valor previsto no Orçamento, como feito anteriormente, o texto pode vincular o crescimento da dotação à mesma regra do arcabouço fiscal, isto é, correção pela inflação mais uma parcela real de até 2,5% ao ano.
Por essa via, não haveria necessidade de bloqueio adicional em 2025, dado que o aumento de gastos com o programa já superou essa trava. Para 2026, a estimativa de técnicos é de que o acréscimo seria de até R$ 500 milhões em relação ao originalmente previsto no PLOA (projeto de Lei Orçamentária Anual).
A MP também incluiria a transferência da parte operacional do programa do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) para o MTE (Ministério do Trabalho e Emprego). Essa mudança já foi anunciada pelo governo e havia sido incluída pelo relator da MP 1.303, deputado Carlos Zarattini (PT-SP), no texto derrubado pela Câmara.
Como ela não constava na medida original encaminhada pelo Executivo, não há obstáculo jurídico à inclusão dessa parte em uma nova MP.
Hoje, há grande incerteza e apreensão em relação à execução do programa nos próximos dias. O Executivo já está sob pressão dos pescadores para normalizar as concessões do benefício. A CBPA (Confederação Nacional dos Pescadores e Aquicultores) enviou um ofício a ministérios pedindo a “adoção de medidas urgentes” para restabelecer os pagamentos.
Antes, a percepção era de que o governo precisava encontrar uma solução para o seguro-defeso até 22 de novembro, quando será publicada a nova edição do relatório de avaliação de receitas e despesas. Assim, a equipe econômica evitaria a necessidade de um bloqueio adicional de gastos para incorporar uma despesa maior com o benefício o impacto extra é estimado em até R$ 2,5 bilhões.
No entanto, técnicos do governo foram alertados de que a data-limite para encontrar uma saída precisava ser antecipada, pois hoje o Executivo não tem respaldo legal para limitar as concessões de benefício perante requerimentos que forem apresentados a partir de 1º de novembro.
Sob a vigência da MP 1.303, o governo pôde represar a concessão do seguro-defeso para respeitar o limite orçamentário hoje em R$ 6,4 bilhões, já integralmente consumidos. Para defensores da medida, trata-se de um incentivo à revisão dos cadastros para eliminar fraudes e irregularidades e abrir espaço a quem realmente tem direito ao benefício.




