SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Prestes a completar seu terceiro ano consecutivo de alta, a construção civil mostra sinais de desaceleração. A Cbic (Confederação Brasileira da Indústria da Construção) revisou sua projeção de crescimento do setor para 2025, cortando-a de 2,3% para 1,3%. A entidade credita o resultado aos efeitos negativos da alta de juros, mas considera que o ciclo de crescimento ainda não chegou ao fim. A análise foi divulgada nesta segunda-feira (27).
As taxas de juros elevadas foram o principal problema para 35% dos empresários ouvidos na Sondagem Indústria da Construção do 3º trimestre de 2025, feita em parceria com a CNI (Confederação Nacional da Indústria).
Apesar da desaceleração, já sentida pelos empresários, o nível de atividade da construção ainda está 23% acima do registrado no início da pandemia.
O nível de atividade nos primeiros nove meses de 2025, medido pela Sondagem da CNI/CBIC, atingiu uma média de 47,2 pontos, o que representa, na visão dos empresários, o menor dinamismo desde 2020. O Índice de Confiança também recuou, alcançando a média de 48 pontos de janeiro a outubro de 2025, o patamar mais baixo dos últimos anos.
A taxa de juros elevada se mantém como o principal problema conjuntural do setor há quatro trimestres consecutivos. A Selic, que estava em 10,50% em setembro de 2024, atingiu 15% em outubro de 2025, uma elevação de 4,5 pontos percentuais.
O alto custo do crédito e a dificuldade de acesso ao financiamento, com a taxa de juros no maior patamar em quase 20 anos, são citados como fatores que justificam a redução no nível de atividades.
Os reflexos negativos são mais evidentes no crédito habitacional que usam recursos da poupança. De janeiro a agosto de 2025, o financiamento de unidades habitacionais com recursos do SBPE (Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo) para a construção despencou 55,42% em unidades e de 53,04% em valores (passando de R$ 28,392 bilhões para R$ 13,333 bilhões), na comparação com igual período de 2024.
A retração ocorre em um cenário onde a caderneta de poupança continua perdendo recursos por cinco anos consecutivos. De janeiro a setembro de 2025, a captação líquida foi negativa em R$ 60 bilhões.
Para Marcelo Azevedo, gerente de análise econômica da CNI, o conjunto de entraves forma um cenário que, embora menos pessimista que o observado meses atrás, ainda é amplamente desfavorável.
SETOR APOSTA EM NOVO MODELO DE CRÉDITO PARA RETOMADA
A Cbic mantém expectativas positivas para 2026, apoiadas em dois fatores. O primeiro é o novo modelo de crédito habitacional com recursos do SBPE, que amplia o teto do financiamento pelo SFH (Sistema Financeiro da Habitação) de R$ 1,5 milhão para R$ 2,25 milhões e eleva o limite financiável de 70% para 80% na Caixa. A medida deve beneficiar famílias com renda acima de R$ 12 mil e liberar cerca de R$ 37 bilhões no próximo ano.
O segundo é o programa Reforma Casa Brasil, lançado neste mês, que destina R$ 40 bilhões em crédito para reformas e ampliações residenciais. A expectativa é que o programa impulsione a cadeia produtiva e o varejo de materiais de construção.
Mesmo com as iniciativas, o setor ainda convive com custos acima da inflação. O Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) subiu 6,8% nos 12 meses encerrados em setembro, puxado pela alta de 9,9% na mão de obra.
MERCADO DE TRABALHO RESISTE, MAS RITMO DE CONTRATAÇÕES CAI
De acordo com a Cbic, mesmo com a desaceleração geral, a construção civil continua gerando novos postos de trabalho formais. Entre janeiro de 2020 e agosto de 2025, foram criados 993 mil empregos com carteira assinada, elevando o total para 3,05 milhões -próximo ao pico histórico de 2013. São Paulo, Minas Gerais e Goiás são os líderes de contratações.
O ritmo, no entanto, é menor. Nos 12 meses até agosto, o saldo foi de 89 mil novos postos, o menor em cinco anos. De janeiro a agosto, as contratações caíram 9,4% ante igual período de 2024.
A construção de edifícios segue como principal geradora de empregos, mas com queda de 12,9% no ritmo. Já as obras de infraestrutura avançaram 18,8% na criação de vagas no mesmo período.
A dificuldade na contratação de mão de obra, tanto qualificada quanto não qualificada, segue como outro grande problema para o setor. Com o desemprego no menor nível desde 2012, as empresas relatam dificuldade para contratar funcionários. O reflexo da disputa por profissionais está no salário médio de admissão na construção civil (R$ 2.462,70, em agosto de 2025), que é 7,31% superior à média geral de todas as atividades no país.




