(FOLHAPRESS) – Nesta edição, a semana começa em clima de confusão na política: uma negociação entre os governos dos EUA e Brasil que, um dia, pareceu improvável; uma virada eleitoral para Javier Milei; um pedido de socorro de uma estatal; e o que importa do mercado nesta segunda-feira (27).
**BONS DE PAPO**
Na tarde deste domingo (26), Donald Trump, presidente dos EUA, e Lula, presidente do Brasil, tiveram a primeira reunião cara a cara para discutir as tarifas impostas pelo americano sobre as exportações brasileiras.
Na visão do governo brasileiro, o encontro foi muito positivo. A comitiva de Washington foi discreta, mas compartilhou do viés positivo. Será que Lula vai levar Trump na conversa?
NO GOGÓ
Lula se sobressai enquanto negociador há pelo menos 50 anos, quando liderou greves no ABC Paulista nos anos 1970, como lembra o colunista da Folha Vinicius Torres Freire em análise sobre o assunto.
A questão é que, neste jogo, Trump não sai atrás. O americano tem fama de conseguir o que quer com as cartas na mesa -ele foi até apresentador de um reality show que media, justamente, a habilidade dos participantes nesse setor: O Aprendiz, que ganhou uma versão brasileira apresentada por Roberto Justus.
Tudo bom, tudo bem. As conversas entre os líderes foram muito amistosas até agora.
Na Assembleia-Geral da ONU (Organização das Nações Unidas), eles tiveram uma brevíssima conversa da qual surgiu uma química excelente, nas palavras do americano.
Em seguida, eles conversaram em chamada de vídeo de cerca de 30 minutos, também amistosa, segundo membros do governo brasileiro.
A terceira interação aconteceu entre os representantes escolhidos para debater as medidas: Marco Rubio, secretário de Estado dos EUA, e Mauro Vieira, chanceler do Brasil. O resultado foi tão positivo que houve pronunciamento conjunto dos governos, prática incomum do lado de Washington.
O encontro presencial de Lula e Trump coloca as negociações em uma nova fase e a resolução é esperada nas próximas semanas.
PRINCIPAL RESULTADO DA REUNIÃO
Trump entendeu a urgência de repensar as tarifas de 50% sobre as exportações brasileiras para os EUA, segundo Vieira.
A comitiva brasileira teria explicado como o encargo está prejudicando produtores daqui e como ele está deteriorando a disponibilidade de certos itens, como café e carne, lá.
Lula bateu na tecla de que a lógica que a Casa Branca impôs para tarifar vários países do mundo não se aplica ao Brasil.
Os americanos afirmam que as taxas são uma forma de equilibrar relações comerciais que deixam os EUA em desvantagem. Contudo, o Brasil mantém déficit com os EUA, ou seja, compra mais dos americanos do que vende para eles. Portanto, do ponto de vista econômico, o tarifaço sobre os brasileiros não tem razão de ser.
Trump acenou com a cabeça e parece ter acatado as argumentações do Brasil, além de ter concordado com o início de negociações na noite do mesmo dia. Se ele realmente se comoveu, o tempo dirá.
ABRE ASPAS
Aí vai um compilado das frases mais importantes do encontro.
O Brasil se beneficia mais de se alinhar com os Estados Unidos do que com a China no longo prazo, disse Marco Rubio, representante do lado americano.
Acho que chegaremos a uma conclusão bem rápido, afirmou Donald Trump.
Se depender de Trump e de mim, vai ter acordo, disse Lula, em coletiva de imprensa depois da conversa.
E BOLSONARO?
Ficou um pouco menos esquecido do que no encontro anterior entre as autoridades. Lula até tentou falar sobre as sanções a autoridades e o cunho político das medidas de Trump, mas o presidente americano rapidamente desviou do assunto.
Antes da reunião, o chefe da Casa Branca disse que gostava do ex-presidente e que ficou incomodado com as penas contra ele. E foi isso.
O encontro Lula-Trump foi ofuscado na imprensa internacional por outra pauta na agenda do presidente americano: uma possível (provável?) reunião com o líder da China, Xi Jinping, na primeira conversa direta entre os chefes em algum tempo.
Se o diálogo é uma bomba-relógio ou um ramo de oliveira, só saberemos na quinta-feira, dia do colóquio. Enquanto isso, negociações preliminares entre as duas superpotências parecem caminhar bem.
As autoridades elaboraram um acordo sobre o comércio de terras raras, a ser finalizado pelos dois chefes de Estado.
**VOLTA POR CIMA**
As medidas ultraliberais de Javier Milei colocaram o presidente da Argentina em uma posição delicada. Ele gostaria de acreditar que a desconfiança foi extinta neste domingo (26), quando seu partido venceu as eleições legislativas do país e ele, inevitavelmente, parece ter saído por cima no debate público.
Mesmo que tenha ganhado essa batalha, Milei vencerá a guerra?
TRIUNFANTE
Após meses de turbulência política -incluindo episódios excêntricos, como o lançamento de seu livro em um show de rock-, o ultraliberal saiu fortalecido nas eleições legislativas.
Com mais de 97% das mesas apuradas, o partido governista A Liberdade Avança obteve 40,8% do total de votos e 64 cadeiras na Câmara entre as 127 que estavam em disputa -metade dos 257 assentos da Casa foi renovada.
O Senado tinha 24 das 72 vagas em disputa. A Liberdade Avança ganhou 13, o peronismo somou outras 6 e partidos regionais ficaram com as outras 5.
O governo ganhou a província de Buenos Aires, bastião dos peronistas. Das 23 províncias mais a cidade de Buenos Aires, o governo se impôs em 15 e perdeu em 9.
Milei discursou por volta das 22h30 e comemorou os resultados. “Hoje começa a construção da Argentina grande”, disse. Não tinha começado ainda?
RELEMBRANDO
Desde que assumiu em dezembro de 2023, Milei cortou gastos públicos, reduziu o tamanho do Estado e mudou regras fiscais e monetárias. As medidas ajudaram a conter a inflação, mas resultaram na queda do poder de compra, aumento do desemprego e sensação de estagnação econômica entre os argentinos.
A política cambial é um ponto crítico. Em setembro, o governo liberou o mercado de dólares, o que manteve o dólar blue valorizado e drenou as reservas internacionais. Para sustentar o peso, o Banco Central gasta cerca de US$ 2 bilhões por mês.
QUEM TEM UM AMIGO TEM TUDO
Não é possível olhar o Caso Argentina com os mesmos olhos de antes de Milei: é fato que a inflação é menor e o câmbio está diferente. No entanto, ainda há dúvidas sobre se o ultraliberal vai conseguir manter sua agenda econômica em pé. No momento, ela depende da ajuda americana para funcionar.
O banco central do país vizinho assinou um acordo de estabilização da taxa de câmbio de US$ 20 bilhões com o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos, seis dias antes da eleição parlamentar, além de outras transações que injetaram moeda forte na Argentina.
A CONTA CHEGA
A nação argentina comprou a ideia de Milei, mas não sem reclamar. Foram muitos os protestos e descontentamentos com o presidente até aqui.
Com a vitória, algo fica óbvio: o país está disposto a continuar os sacrifícios que fez até agora para ver se o ultraliberal pode melhorar a situação econômica do país -não é fácil, mas é novo.
Um dos principais opositores de Milei é Axel Kicillof, governador da província de Buenos Aires. Ao comentar a vitória do adversário, ele destacou que o presidente erraria ao não reconhecer o esforço dos argentinos ao apostar na sua agenda.
As ações de empresas argentinas cotizadas no exterior tiveram alta no chamado overnight -negociações que acontecem na madrugada, antes das praças abrirem para negociações.
A YPF, estatal de energia e maior produtora de petróleo do país, subiu 12%. O banco Galícia avançou 12,9% e o Banco Supervielle, 15,16%.
**NEGÓCIO RADIOATIVO**
O governo está com uma lista de empresas batendo à sua porta para pedir ajuda. Enquanto lida com o rombo financeiro nos Correios, um novo pedido de socorro chega ao Planalto.
A Eletronuclear, estatal responsável pelas usinas de Angra 1 e 2, pediu socorro de R$ 1,4 bilhão ao governo Lula para conseguir honrar pagamentos que vencem até o fim de 2025. A empresa prevê um rombo no caixa já a partir de novembro.
OLHANDO DE PERTO
Em ofício enviado na segunda-feira (20) à ENBPar, empresa pública por meio da qual a União controla as usinas, a companhia alertou para um efeito cascata no caso de uma eventual inadimplência -coisa parecida com o que aconteceu com a Ambipar.
Quando uma empresa não honra pagamentos, pode ocorrer o que chamamos de vencimento cruzado, quando outras dívidas passam a vencer antecipadamente para evitar um calote.
Cerca de R$ 6,5 bilhões em dívidas, retenção de receitas dadas como garantia de financiamentos e “inviabilidade definitiva do Projeto Angra 3, com geração de passivos estimados em R$ 21 bilhões”, podem ser cobrados de uma vez caso a estatal passe a perna nos credores.
“Assim, vislumbra-se risco de colapso operacional e financeiro da Eletronuclear já a partir de novembro de 2025, diante do exaurimento de caixa, com potenciais desdobramentos”, diz o documento ao qual a Folha de S.Paulo teve acesso.
Não é novidade. O alerta é o mais recente de uma sequência de pedidos de socorro feitos pela estatal ao longo dos últimos meses. Para piorar, ele chega num momento em que a fatia privada da empresa (67,95% do total de ações) vai trocar de mãos.
FILHA DE NINGUÉM
A Âmbar Energia, braço da J&F, dos irmãos Joesley e Wesley Batista, assinou contrato para comprar a participação detida pela Eletrobras, agora rebatizada de Axia Energia, por R$ 535 milhões.
Enquanto o negócio não é concluído, as empresas tentam se distanciar da responsabilidade por eventual rombo imediato no caixa da Eletronuclear.
Do lado da Axia, o discurso é que a situação de fragilidade da estatal foi discutida durante a negociação, e suas obrigações, agora repassadas à J&F, se limitam à obra de Angra 3.
Na J&F, a visão é a de que o grupo ainda não é o dono formal da participação na Eletronuclear e, embora planeje investir recursos no futuro, não pode responder pelos desequilíbrios imediatos.
O risco é a conta da crise acabar caindo no colo da União. A estatal já avisou que, sem solução para o colapso iminente, pode se tornar dependente do Tesouro Nacional para pagar despesas de pessoal e custeio.
Vale lembrar que o governo já está com o Orçamento bastante apertado e não precisa de mais uma pendência para atrapalhar o cálculo das finanças.
Na época em que foi anunciado, o negócio parecia bom para todos os envolvidos. A companhia dos irmãos Batista logo percebeu o tamanho da furada em que se meteu -um processo com inúmeros desafios financeiros, de gestão e trabalhistas.
Pessoas próximas à Eletronuclear afirmam que a empresa está “imersa em caos”.
**O QUE MAIS VOCÊ PRECISA SABER**
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CÓPIA OU INSPIRAÇÃO?
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EFEITOS COLATERAIS
Na edição da última quarta-feira (22) da newsletter, falamos sobre como uma decisão do STF afetou o balanço trimestral global da Netflix. Ela não deve ser a única atingida -saiba quem mais vai sofrer com as novas regras de tributação.
NOVA RECEITA
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