Da Redação

Durante passagem por Kuala Lumpur, na Malásia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) revelou nesta segunda-feira (27) que conversou com o ex-presidente norte-americano Donald Trump sobre Jair Bolsonaro, mas deixou claro que o ex-chefe do Executivo brasileiro “pertence ao passado político do país”. O encontro aconteceu à margem da 47ª Cúpula da ASEAN e teve como foco principal as tarifas impostas pelos EUA às exportações brasileiras e as sanções aplicadas a autoridades nacionais.

Em coletiva de imprensa após a reunião, Lula afirmou ter explicado a Trump que o julgamento de Bolsonaro foi “sério e fundamentado em provas consistentes”, destacando a gravidade dos atos de 8 de janeiro. “Disse a ele que as investigações mostraram um plano para me matar, matar meu vice e o ministro Alexandre de Moraes. As provas são muito fortes”, declarou o presidente.

Segundo Lula, Trump demonstrou curiosidade sobre o cenário político brasileiro. “Ele sabe que, na política, rei morto é rei posto. Disse a ele que Bolsonaro é parte do passado e que, com algumas reuniões comigo, veria que ele, politicamente, não representa nada”, afirmou o petista, em tom irônico.

Antes do encontro, Trump havia comentado à imprensa que “se sentia mal” pelo que Bolsonaro vinha enfrentando no Brasil, mas, durante a reunião com Lula, adotou uma postura cordial e pragmática.

Negociações sobre tarifas

A conversa também abriu espaço para tratar das tensões comerciais entre os dois países. O chamado “tarifaço” — conjunto de aumentos aplicados pelos EUA a produtos brasileiros — foi um dos temas centrais do diálogo. Lula pediu a suspensão temporária das medidas, argumentando que o Brasil mantém compromisso com a democracia e o Estado de Direito.

O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, classificou o encontro como “positivo e produtivo”. Segundo ele, a reunião serviu para reafirmar a posição brasileira de que as punições aos envolvidos nos ataques antidemocráticos de janeiro seguiram “rigoroso devido processo legal”.

Primeiro encontro oficial

Apesar de já terem se falado por telefone e trocado cumprimentos na Assembleia Geral da ONU, este foi o primeiro encontro formal entre Lula e Trump desde que ambos voltaram a ter protagonismo político. Diplomatas brasileiros avaliam que o diálogo pode abrir caminho para uma reaproximação diplomática com Washington, sobretudo na área comercial.

Lula afirmou que pretende manter o diálogo com o republicano em novas rodadas de negociação. “O importante é conversar. A diplomacia serve para resolver divergências com respeito, não para criar novas crises”, afirmou o presidente.

O encontro, realizado em meio à agenda internacional do governo brasileiro, reforça o esforço de Lula para recolocar o Brasil no centro das discussões econômicas e democráticas globais, ao mesmo tempo em que busca neutralizar a herança bolsonarista dentro e fora do país.