SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Sigma Lithium, maior mineradora de lítio do Brasil, adiou seus planos de verticalizar a produção do mineral, um dos mais importantes para a transição energética. A empresa previa produzir sulfato de lítio a partir de 2027, mas desafios financeiros obrigaram a mineradora a reduzir suas aspirações.
O sulfato de lítio é um produto posterior ao espodumênio concentrado na cadeia do lítio e, por isso, tem maior valor agregado. O segundo é o atual produto da Sigma, que exporta sobretudo para a China.
Espodumênio é o nome do mineral que contém lítio, elemento essencial para a produção de baterias de carros elétricos. A Sigma, que opera em Minas Gerais, extrai o mineral e o concentra até que 6% de sua composição seja lítio. A capacidade de produção anual da empresa é de 270 mil toneladas de espodumênio concentrado.
O objetivo da empresa era usar parte de sua produção para fabricar 20 mil toneladas de sulfato de lítio, que antecede a fabricação de hidróxido e carbonato de lítio, forma do metal mais próxima da confecção das baterias. Mas nesta semana a presidente da Sigma, Ana Cabral, disse que ao menos até 2030 a empresa piorizará triplicar sua produção de espodumênio concentrado -desejo também desafiador, visto a queda dos preços do lítio no mercado internacional.
“Não estamos mais buscando a produção química -não até estarmos totalmente prontos”, disse Cabral ao portal da consultoria Argus. “Ainda estamos navegando em um mercado em baixa, então estamos nos concentrando no que sabemos fazer melhor: produzir volumes cada vez maiores de concentrado de lítio”, acrescentou.
Como a Folha de S.Paulo mostrou em setembro, a Sigma tem atualmente dificuldades em achar financiadores até para a sua primeira expansão. A mineradora fechou no ano passado um contrato com o BNDES para quase dobrar sua produção de espodumênio concentrado ainda em 2025, mas a queda do mercado fez investidores ficarem receosos em conceder garantias financeiras à empresa, o que atrasou os planos de expansão.
A mudança de planos de médio prazo da Sigma escancara a dificuldade de se verticalizar a cadeia de minerais críticos no Brasil, um desejo do governo brasileiro. O país, o sexto maior produtor de lítio, deve ampliar sua produção nos próximos anos, mas projetos programados visam apenas a concentração do espodumênio, longe ainda da confecção de produtos minerais ou industriais de maior valor agregado.
À Argus, Cabral disse que a Sigma pretende ampliar sua produção de concentrado para reduzir os custos de sua produção, hoje por volta de US$ 594 por tonelada. “Nosso objetivo é a escala -a mesma escala que permite que a Greenbushes (maior mina de espodumênio no mundo) mantenha custos mais baixos que a Sigma, apesar de operar em um ambiente de custos mais altos”, afirmou. “A escala é o que reduz os custos por tonelada, e é exatamente isso que estamos buscando.”
O mercado internacional viu os preços do lítio despencarem nos últimos anos, à medida que o ritmo da transição energética tem sido menor do que o esperado anos atrás. Em 2023, por exemplo, o lítio chegou a custar cerca de US$ 8.000 a tonelada, mas, quando a Sigma iniciou seus primeiros embarques para a China, o preço já estava próximo de US$ 2.488 por tonelada. Desde então, já beirou U$ 700 e hoje está em US$ 850.
A queda foi drástica para a empresa, que viu o preço de suas ações despencar 80% desde maio de 2023. Com a desvalorização, a empresa passou a valer 1 bilhão de dólares canadenses, quando antes valia quase 6 bilhões. A Sigma está listada na Bolsa de Toronto e na Nasdaq.