SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Quase duas semanas após dizer que o mundo já vive uma corrida armamentista nuclear e que a Rússia está na frente, o presidente Vladimir Putin comandou pessoalmente o exercício anual de suas forças estratégicas nesta quarta-feira (22).
A manobra, que usualmente é chamada de Grom (trovão, em russo), é feita para coincidir com o final da simulação anual das forças nucleares da Otan, a aliança militar do Ocidente. O exercício Steadfast Noon começou no dia 13 e acaba nesta sexta (24).
Diferentemente do que ocorre com a manobra ocidental, que é feita sem grande alarde, Putin faz sua exibição de força com pompa: foi a um centro de comando e recebeu relatórios de seu ministro da Defesa, Andrei Belousov, e do chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, general Valeri Gerasimov.
É um espetáculo midático calculado. No dia 19 de fevereiro de 2022, na única vez em que o Grom não foi realizado em outubro, as imagens dos três vetores de lançamento de armas nucleares russas em ação foi usada como um lembrete ao Ocidente para não se meter com Moscou, que cinco dias depois invadiria a Ucrânia.
Agora, a guerra segue em curso no país vizinho, com Putin flexionando sua musculatura atômica em um momento de impasse nas negociações promovidas pelo presidente americano, Donald Trump. Seu alvo aqui, contudo, não é Washington, mas sim os líderes europeus que apoiam Kiev.
O show nuclear de Putin incluiu o cardápio usual desde que o Grom ocorreu pela primeira vez, em 2012. Na parte terrestre, um míssil intercontinental Iars foi lançado do cosmódromo de Plesetsk, no noroeste russo, até a península da Kamtchatka, a 6.700 km de distância.
Já no mar de Barents, o submarino de propulsão nuclear Briansk, um antigo modelo soviético Delta-4 modernizado, disparou um míssil Sineva. E em algum ponto do céu da região, ao menos dois bombardeiros Tu-95MS lançaram mísseis de cruzeiro Kh-102.
Todas essas armas são consideradas estratégicas, ou seja, com maior potência e cujo emprego visa grande destruição de cidades e zonas industriais. Apesar de o Grom se o principal exercício, a Rússia usualmente faz simulações nucleares ao longo do ano.
Em oposição às bombas estratégicas há as ogivas táticas, menores e supostamente limitadas a campos de batalha. O exercício anual da Otan na Europa é sobre elas.
No Steadfast Noon, cujo nome é uma amálgama de códigos para manobras da aliança e significa literalmente meio-dia com firmeza, em inglês, são exercitados cenários de emprego de armas nucleares deste tipo nos campos de batalha europeus.
Foram mobilizados 71 aeronaves de 14 dos 32 membros da Otan, com destaque para os F-35 americanos capazes de lançar bombas da família B-61. Os exercícios foram focados na base de Volkel, na Holanda, 1 das 6 do continente que têm cofres com armas atômicas dos EUA.
Elas são lançadas pelos F-35 e também por caças-bombardeiros Tornado, no caso da Alemanha, que irá substiuir o modelo pelo avião de quinta geração americano. Bases na Bélgica e no Reino Unido, que neste ano voltou a ter bombas B-61 em sua unidade em Lakenheath, também participaram da simulação.
As ações foram concentrada no mar do Norte, um pouco mais distante das zonas de atrito principais no Leste Europeu, como o mar Báltico e as tensas fronteiras da Polônia e Romênia. Participaram ao todo cerca de 2.000 militares, com a Otan jurando que a manobra é meramente defensiva.
A Rússia é a maior potência nuclear do mundo, seguida quantitativamente de perto pelos EUA. Amvbos os países somam quase 90% das ogivas nucleares do planeta. Na Otan, França e Reino Unido têm arsenais menores, e neste ano se uniram para operá-los em conjunto Paris não submete sua doutrina a Washington, ao contrário de Londres, até porque faz suas próprias armas.