SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Com o impasse no campo diplomático, sem uma definição acerca da nova reunião entre Donald Trump e Vladimir Putin, Rússia e Ucrânia escalaram a violência da guerra nesta quarta-feira (22).

Como seria previsível, dada a assimetria das forças disponíveis para cada lado, Moscou comandou o maior ataque. Lançou 433 mísseis e drones contra diversas regiões da Ucrânia, causando apagões e matando ao menos seis pessoas na capital, Kiev, inclusive uma criança.

Foi um ataque complexo e em camadas, para saturar as defesas aéreas. Os números da Força Aérea da Ucrânia apontam isso: dos 405 drones, armados ou apenas iscas, 333 foram derrubados. Dos mais lentos mísseis de cruzeiro subsônicos Iskander-K, 8 de 9. Já do modelo supersônico Kh-59, 2 de 4, e 6 de 11 balísticos Iskander-M.

Por fim, os quatro hipersônicos Kinjal disparados voaram impunemente. Com isso, houve 12 impactos diretos de mísseis e 55 de drones em 26 locais do país, fora áreas atingidas por destroços. Foi o mais intenso ataque nas últimas semanas.

Em Kiev, o abastecimento de água quente foi cortado, assim como a luz em alguns bairros, em um dia com temperaturas na casa dos 9 graus Celsius. O inverno do Hemisfério Norte começa em dezembro, e a infraestrutura de distribuição de gás do país está severamente afetada.

Em campo, os russos ainda anunciaram a tomada de mais duas vilas de linha de frente, ampliando a pressão sobre Kiev: os ucranianos conseguiram segurar uma ofensiva mais incisiva em Donetsk às expensas de reforços em outros pontos dos cerca de mil km de atrito com a Rússia, que invadiu o vizinho em 2022.

Já as forças de Volodimir Zelenski apostaram nos seus drones e mísseis para fazer estragos pontuais, mas importantes. Já na noite de terça (21), uma ação conjunta de drones e mísseis conseguiu furar as defesas aéreas russas em Briansk (sul), e uma fábrica de produtos químicos que fornece pólvora às Forças Amadas foi atingida.

Os ucranianos afirmam ter empregado na ação o míssil de cruzeiro franco-britânico Storm Shadow, como que querendo lembrar Trump sobre a diferença que armas de precisão podem fazer a seu favor -em encontro com Zelenski na sexta (17), o americano rejeitou fornecer modelos Tomahawk, de muito maior alcance, temendo uma escalada com Putin.

Já nesta madrugada de quarta, uma fábrica de munição na região da Mordóvia, perto de Moscou, e uma refinaria no distante Daguestão, a quase mil km de distância dos pontos de lançamento ucranianos, foram alvejados.

No caso da refinaria, mais uma atacada na campanha de Kiev para prejudicar o fornecimento de gasolina ao Exército e à população da Rússia, vídeos em redes sociais mostravam a tentativa de abate de drones de longa distância com armas de fogo pequenas.

A escalada é típica de momentos de incerteza na guerra. Zelenski quer mais ajuda militar de Trump, e conta com pressão da Europa. Já Putin convenceu, num telefonema na véspera da reunião do americano com o ucraniano, o colega da Casa Branca a não entregar os Tomahawk.

No mesmo telefonema, Putin e Trump combinaram uma segunda cúpula, pouco mais de dois meses após o encontro que tiveram no Alasca. Os problemas começaram logo em seguida, já que o americano havia dito que a reunião ocorreria na semana que vem.

As conversas preliminares não autorizaram a versão, com divergências acerca da rapidez de um cessar-fogo. Trump e Zelenski gostariam de algo imediato, o que Putin rejeita. Já o russo quer as áreas remanescentes de Donetsk (leste), segundo relatos em troca de pedaços pequenos de duas regiões ao sul, o que não é aceito em Kiev.

Nesta quarta, Zelenski voltou a dizer que topa parar com as linhas atuais congeladas, buscando agradar Trump, com quem tem difícil relação.

Já o Kremlin disse que há muita fumaça em torno do assunto, e que as negociações para a realização da cúpula continuam. O porta-voz Dmitri Peskov repetiu o que Trump dissera na véspera, de que ninguém que perder tempo com uma reunião inútil, mas indicando que é as preparações portanto têm de ser meticulosas.