PEQUIM, CHINA (FOLHAPRESS) – O presidente Lula (PT) desembarcou no final da tarde desta quarta-feira (22), no horário local, em Jacarta, capital da Indonésia, e deu início à viagem oficial que fará pela Ásia nesta semana.

O foco principal está nas negociações com Donald Trump, que ocorrem em Kuala Lumpur, na Malásia, durante a participação dos líderes na cúpula da Asean (Associação das Nações do Sudeste Asiático, em português).

Os presidentes devem se encontrar no domingo (26) em agenda paralela à cúpula para discutir as tarifas impostas por Trump ao Brasil e outras medidas relacionadas às autoridades brasileiras, como a aplicação da Lei Magnitsky contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), e a restrição de circulação imposta ao ministro da Saúde, Alexandre Padilha, e seus familiares na visita que fariam para eventos relacionados à Assembleia-Geral da ONU (Organização das Nações Unidas).

Também é esperado que temas paralelos sejam discutidos, como os recentes ataques americanos a embarcações venezuelanas e o risco de uma incursão militar dos EUA no país sul-americano, o que, na visão do governo, poderia causar instabilidade na região e, com isso, afetar o Brasil.

Reportagem da Folha de S.Paulo mostrou que Lula deve afirmar a Trump que uma intervenção com o objetivo de “mudança de regime” na Venezuela pode ter efeitos contrários aos que o republicano alega estar buscando, com fortalecimento do crime organizado.

O encontro acertado entre os líderes ocorre após breve conversa na Assembleia-Geral da ONU em setembro, quando Trump afirmou durante o seu discurso no plenário que os EUA e o Brasil vão se dar muito bem. Também acontece após uma teleconferência entre os dois, quando o presidente brasileiro pediu ao americano que retirasse as taxas impostas ao país.

Desde então, membros da equipe do petista se esforçaram para fazer com que o encontro ocorra, com o lado brasileiro pressionando por uma reunião em um terceiro país para evitar que Lula corra o risco de ser constrangido pelo americano, o que foi considerado um risco pelo governo caso os dois se encontrassem em Washington.

Não está claro até que ponto o encontro entre os mandatários será suficiente para resolver a questão das tarifas ou mesmo avançar no tema efetivamente, uma vez que as negociações entre os países começaram apenas na semana passada em um encontro entre o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, e o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio.

Além do encontro com Trump, Lula será nomeado Doutor Honoris Causa pela Universidade Nacional da Malásia e participará da cúpula dos países do sudeste asiáticos a convite do primeiro-ministro do país Anwar Ibrahim, tornando-se o primeiro líder brasileiro a integrar o evento. Segundo o governo, o objetivo do encontro é ampliar e diversificar o comércio e os investimentos bilaterais, além de desenvolver a cooperação em setores estratégicos.

Na Asean, o Brasil tem posição de “parceiro de diálogo setorial”, o que permite acesso a apenas parte das reuniões, sem direito de participar do encontro que reúne os líderes dos dez países parte da associação, sendo eles Brunei, Camboja, Laos, Indonésia, Malásia, Tailândia, Mianmar, Filipinas, Singapura e Vietnã. A entrada de Timor-Leste como 11º estado-membro está prevista para este ano.

Antes de pousar em Kuala Lumpur, o presidente cumpre agenda oficial em Jacarta, com o objetivo de retribuir a visita de Estado feita pelo líder Prabowo Subianto em julho deste ano. O principal objetivo do encontro, segundo o governo, é fortalecer as relações bilaterais, com ênfase em cooperação econômica, agrícola, energética e de desenvolvimento sustentável.

Nos dois países, Lula participará de fóruns empresariais. Na capital da Indonésia, o presidente fará parte de sessão solene com ao menos cem empreendedores locais e brasileiros de diferentes áreas de atuação.