SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – O professor agredido pelo pai de uma aluna em uma escola pública no Distrito Federal disse estar “sem condições psicológicas” de retornar à sala de aula.
Professor de 53 anos, que não quer ser identificado, disse não conseguir voltar a lecionar no momento. “Vou ficar afastado por um tempo. Esta semana vou a uma consulta médica, pois estou abalado com tudo que está acontecendo e não tenho condições psicológicas de voltar ao trabalho imediatamente”, declarou em entrevista à reportagem.
Ele afirmou que ainda está “tentando entender o ocorrido”. “Fui pego de surpresa e de forma covarde por um sujeito completamente descontrolado”, alegou.
O docente também falou que gostaria de voltar a trabalhar na mesma escola “caso tenha clima”. “Sou professor concursado há 25 anos e jamais presenciei nada parecido nas várias escolas em que já trabalhei”, completou.
ENTENDA O CASO
Professor foi agredido pelo pai de uma aluna, dentro do Centro Educacional 4 do Guará, na manhã desta terça-feira (21). Agressão teria ocorrido após o docente pedir que a menina parasse de mexer no celular durante a aula.
Agressor, 41, proferiu xingamentos e agrediu fisicamente a vítima, 53, com socos e chutes. Conforme a polícia, agressões causaram lesões na face do professor, quebra de óculos de grau e dano a uma corrente com pingente.
Agressões foram registradas em vídeos. As imagens mostram que o pai da aluna entra na sala de aula e começa a sequência de agressões contra o professor. O educador tenta se proteger, enquanto o agressor é contido por outros funcionários.
A filha do agressor também tentou intervir para cessar as agressões. A Polícia Militar do Distrito Federal foi acionada e prendeu o homem em flagrante. O nome do pai não foi divulgado pelas autoridades, por isso, a reportagem não conseguiu localizar a defesa dele.
Agressor vai responder por lesão corporal, injúria e desacato. Ele foi liberado após prestar depoimento. O professor foi encaminhado ao Instituto Médico Legal para realizar o exame de corpo de delito.
Docente leciona matemática na escola do Guará e se autointitula “professor opressor”. Ele explicou que a alcunha é para “satirizar os ensinamentos de Paulo Freire” por discordar da metodologia de ensino popularizada pelo patrono da educação brasileira.
Ele também já foi advertido pela Secretaria de Educação do DF por ato político no ambiente escolar. Em 2018, ele participou de um churrasco na escola em comemoração pela vitória de Jair Bolsonaro (PL) na eleição daquele ano. O professor nega doutrinação política aos alunos.
Alunos da escola alegam que o professor teria suposto comportamento agressivo na comunicação em sala de aula. Uma aluna amiga da jovem cujo pai agrediu o docente diz que ele “grita e xinga” os estudantes com intuito de “humilhá-los”.
A Polícia Civil do Distrito Federal informou que segue com as investigações para esclarecer todas as circunstâncias do ocorrido. Em nota, a CRE (Coordenação Regional de Ensino) do Guará esclareceu que está ciente da situação e que acionou a Polícia Militar para conter a confusão. A CRE do Guará também afirmou que recebeu a mãe da estudante envolvida para um atendimento na tarde de ontem.
O caso será encaminhado à Corregedoria da Secretaria de Educação para apuração dos fatos e adoção das medidas cabíveis. “Reafirmando o compromisso da pasta com um ambiente escolar seguro, acolhedor e respeitoso para toda a comunidade”, diz comunicado enviado à reportagem.
A secretaria de Educação também acionou o Batalhão Escolar para reforçar a segurança na entrada e saída dos estudantes nos próximos dias. “A secretaria reforça que repudia qualquer forma de violência no ambiente escolar e mantém o compromisso de dialogar com a comunidade, priorizando sempre a promoção da cultura de paz”.