SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Donos de imóveis alvos de desapropriação em uma rua na Vila Olímpia, bairro na zona oeste de São Paulo, se uniram contra o projeto de alargamento na via que deve derrubar cerca de 100 construções ao longo de cinco quarteirões.

A ampliação da rua Ribeirão Claro, que tem cerca de 12 metros de largura, faz parte de projeto da nova ligação viária entre as avenidas Hélio Pellegrino e Bandeirantes e visa “melhorar as condições de tráfego na região”, segundo a gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB).

Os imóveis foram declarados como utilidade pública em decreto municipal publicado em março do ano passado no Diário Oficial.

Morador da rua há 31 anos, o comerciante Alberto Moreira da Silva, dono de uma floricultura, conta que recebeu a notificação de desapropriação na última sexta-feira (17). O comércio faz parte do trecho entre as ruas Quatá e Alvorada, onde a demolição das residências deverá ser executada para ampliar a via para, no mínimo, 50 metros de largura.

Apesar de estar ciente do projeto desde o ano passado, ele conta ter sido surpreendido pelo valor oferecido pela prefeitura pelo metro quadrado -menos da metade do praticado pelo mercado. “Com esse valor não dá para comprar um apartamento no bairro.” O tamanho médio das casas a serem desapropriadas é de 70 a 100 metros quadrados, quase todas sobrados com quintais.

Há algumas semanas, ele e outros vizinhos penduraram faixas na frente de seus imóveis para externar o descontentamento com a proposta. “Até agora ninguém foi ouvido”, diz.

Procurada, a gestão Nunes afirmou por meio da Procuradoria-Geral do Município que o valor proposto aos moradores é calculado a partir de uma avaliação administrativa conforme as normas da Cajufa (Centro de Apoio aos Juízes das Varas da Fazenda Pública da Capital).

“A oferta será ainda submetida à análise judicial e passará por um perito independente nomeado pelo juiz. O valor final da indenização, portanto, será definido pelo magistrado, após todo esse processo”, diz a nota.

Alexandre Villegas, outro morador, também colocou a faixa em seu portão com os dizeres: “Somos contra a desapropriação dessa rua”. “Esse imóvel está com a minha família desde a década de 1970”, diz o morador, que também reclamou do preço oferecido pela administração.

Os moradores relatam que essa parte do bairro concentra residentes antigos por ainda manter as construções livres da especulação imobiliária do entorno. “A maioria são idosos, um com mais de 90 anos”, diz o comerciante sobre o perfil dos proprietários que terão que se mudar.

A intervenção faz parte da Operação Urbana Consorciada Faria Lima, por meio da qual o setor imobiliário leiloou R$ 1,67 bilhão em títulos que dão o direito de erguer prédios nos arredores da avenida Faria Lima, símbolo do mercado financeiro do país.

Dentro da operação está prevista também a criação do boulevard Juscelino Kubitschek, uma passagem subterrânea para ligar dois túneis que ficam sob o rio Pinheiros ao complexo viário Ayrton Senna, que passa sob o parque Ibirapuera.

O alargamento da rua Ribeirão Claro é previsto desde 1968, quando foi publicado decreto com projeto de melhorias para os bairros de Pinheiros, Jardim América, Jardim Paulista e Ibirapuera.