BELÉM , PA (FOLHAPRESS) – Descrito pela Prefeitura de Belém como um futuro “cartão de visitas”, por estar no caminho do aeroporto, o Parque Urbano Igarapé São Joaquim é um espaço com amontoados de terra revirada, vigas em movimento, canal sem tratamento e máquinas pesadas operadas por trabalhadores.

A menos de 20 dias da COP30, a conferência do clima da ONU, as obras do parque, incluídas no conjunto de ações voltadas ao evento, estão muito atrasadas.

O que era para ser um “cartão de visitas” aos participantes da cúpula, que devem passar pelo local no caminho do aeroporto, tornou-se uma das intervenções mais lentas dentre as pensadas para a conferência.

A cidade receberá milhares de convidados a partir de 6 e 7 de novembro, quando ocorre o encontro de chefes de Estado e de governo. Logo depois, de 10 a 21, será realizada a COP30.

As obras são uma responsabilidade da Prefeitura de Belém, que é comandada por Igor Normando (MDB), primo de segundo grau do governador do Pará, Helder Barbalho (MDB).

O próprio andamento das obras informado pela prefeitura, num espaço na internet dedicado às iniciativas do município para a COP30, confirma o atraso.

Segundo a prefeitura, a primeira etapa do projeto -que é a área de 720 m de lado a lado de uma avenida, no entorno de um trecho do canal São Joaquim- tem 36,33% de execução. A atualização foi feita na última quinta-feira (16).

Dos R$ 174 milhões previstos em investimentos no projeto, R$ 150 milhões são bancados pela usina hidrelétrica de Itaipu Binacional. Os investimentos da usina em obras de infraestrutura em Belém, voltadas à COP30, somam R$ 1,3 bilhão.

Itaipu Binacional confirma o atraso. “Itaipu reconhece que a obra está atrasada e vem notificando e acompanhando o assunto junto à prefeitura”, disse, em nota. A execução das obras é de responsabilidade do município, ressalta.

A Prefeitura de Belém afirmou, em nota, que o projeto vai promover transformação urbana e social, com criação de espaços que poderão abrigar manifestações culturais, como rodas de carimbó e cultos. As próximas etapas contemplam urbanização das margens do canal na área do Mirandinha, com paisagismo, drenagem e pavimentação, disse o município.

“A transposição sobre o canal São Joaquim funcionará como um pórtico simbólico de entrada da cidade, comunicando aos visitantes da COP30 o compromisso da gestão municipal com a valorização e requalificação de áreas antes esquecidas.”

Operários atuam na instalação de bases no igarapé que funcionarão como uma transposição para o outro lado da ponte sobre o canal. Também está prevista a instalação de passarelas de pedestres –parte de uma passarela está no local.

Não há, até agora, qualquer sinal de intervenções para melhoria da urbanização da área, com reconstituição da vegetação e instalação de equipamentos de lazer nas margens do canal, como está previsto no projeto.

O Parque Urbano Igarapé São Joaquim fica numa área povoada de Belém, uma região mais periférica, carente de equipamentos urbanos de lazer e de serviços básicos, como coleta e tratamento de esgoto.

Segundo Itaipu, um convênio de R$ 165 milhões garante a realização das obras, com desembolsos feitos conforme a execução física do empreendimento.

“Até o momento, foram repassados cerca de R$ 76 milhões, dos quais R$ 50 milhões já foram aplicados na obra”, afirmou. “A prefeitura e a empresa contratada se comprometeram a entregar a primeira fase do projeto, que compreende todo o entorno da ponte da avenida Júlio César, duas novas passarelas metálicas e trapiches de madeira.”

Durante a COP30, o local não estará em obras, segundo Itaipu. “Até essa entrega parcial, serão desembolsados cerca de R$ 100 milhões.”

Em abril, a Folha mostrou que o projeto do parque São Joaquim se concentrou na primeira etapa -a parte mais visível a quem passa pelo local, no caminho do aeroporto de Belém, e que agora está atrasada- e empurrou ações de saneamento e urbanismo nos bairros para depois da COP30.

Naquele momento, já havia atraso nas obras do parque, e a prefeitura dizia que a intenção era entregar o empreendimento antes do início da conferência da ONU.

“O primeiro trecho, que compreende 720 metros, tem previsão de entrega para antes da COP30, passando o local a ser um cartão de visitas da capital paraense para os turistas que chegarem”, afirmou a prefeitura naquela ocasião.

O projeto inclui benfeitorias como ciclovias e praças, reconstrução de passarelas, vias para transporte público e reflorestamento das margens. As calçadas e novas construções, para lanchonetes, por exemplo, seriam feitas no estilo palafitas, para evitar aterramentos, que prejudicariam o leito do igarapé.

O canal São Joaquim tem cerca de 9 km de extensão. A área de influência é estimada em 31 km2. Recebe dejetos sem tratamento de uma área densamente povoada, de bairros como Sacramento, Telégrafo e Barreira. As margens perderam a vegetação original e são tomadas por lixo na maior parte do curso.