SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A nova reunião de cúpula entre Donald Trump e Vladimir Putin para discutir o fim da Guerra da Ucrânia e temas bilaterais foi congelada por tempo indeterminado. Segundo o presidente americano disse nesta terça-feira (21), ele prefere não “desperdiçar um encontro”.
Ele respondia a repórteres após um dia de declarações que indicavam que a reunião anunciada para a semana que vem em Budapeste havia subido no telhado.
Pela manhã, o Kremlin havia tergiversado. “Escute, não podemos adiar o que não foi finalizado”, disse o porta-voz Dmitri Peskov, questionado por repórteres sobre a data. “Não há um entendimento”, completou. Mais tarde, a Casa Branca informou que não há encontro previsto “num futuro imediato”.
“Nem o presidente Trump nem o presidente Putin deram datas exatas. Isso leva tempo”, afirmou Peskov. Não é bem assim. O presidente americano havia anunciado o encontro na quinta-feira passada (16).
Ele fez o anúncio após telefonema recebido de Putin que durou duas horas e tirou dos trilhos a possibilidade de entrega de mísseis de cruzeiro Tomahawk para a Ucrânia, o que era esperado para o dia seguinte, quando Trump recebeu Volodimir Zelenski na Casa Branca.
Parecia o roteiro de agosto, quando o republicano deu um ultimato para Putin aceitar uma trégua só para, após uma ligação, marcar a primeira reunião entre eles neste mandato do americano, no Alasca.
Na segunda (20), os encarregados de organizar a reunião, o chanceler Serguei Lavrov e o secretário de Estado Marco Rubio, se falaram ao telefone. O encontro prévio entre os dois ainda não tem data também.
As dificuldades mais óbvias são o escopo da reunião e a ideia de um cessar-fogo imediato, recusada por Putin. A partir da conversa de agosto, ficou claro que o russo aceitaria trocar pedaços que não controla das regiões de Zaporíjia e Kherson, ao sul, pela tomada final de Donetsk, no leste. A conta seria muito desfavorável a Zelenski, que não aceitou a ideia.
Trump até perdeu a paciência e falou que a Ucrânia deveria retomar todos os 20% que perdeu, incluindo a Crimeia anexada por Putin em 2014. Já voltou atrás e, no encontro com Zelenski de sexta, segundo relatos disse que ele tinha de aceitar a perda ou enfrentar mais destruição.
Na segunda, o americano foi além e afirmou que não acreditava na possibilidade de Kiev ganhar a guerra, iniciada com a invasão russa de fevereiro de 2022. Zelenski, por sua vez, falou em congelar as linhas de batalha como estão e aí conversar.
Lavrov disse nesta terça que a posição da Rússia se mantém inalterada, e agências de notícias disseram que Moscou enviou isso por escrito aos EUA no fim de semana. Putin não aceita um cessar fogo sem a entrega de Donetsk, o que gera o impasse atual.
Líderes europeus aliados dos ucranianos apoiaram a posição de Zelenski. Em um comunicado conjunto nesta terça (21), os governos da Alemanha, França, Reino Unido e a União Europeia afirmaram apoiar o esforço de Trump por uma trégua imediata. “A atual linha de contato [frente de batalha] deve ser o ponto de partida das negociações”, disse o texto.
Há óbices adicionais. A escolha da capital húngara para o encontro se deu porque o governo do premiê Viktor Orbán é próximo de Putin e de Trump, e crítico de Zelenski. Só que, para o encontro acontecer, o russo tem de chegar à cidade.
O problema é que todo o espaço aéreo em torno da Hungria, que não tem saída para o mar, é vetado por sanções europeias a aviões russos. Para Putin poder sobrevoá-los, é preciso autorização específica de cada governo, e a rota mais rápida e óbvia em céus da Europa passa pela Polônia.
Nesta terça, o governo em Varsóvia, um dos mais contrários a Putin no continente, disse que não permitirá que o avião presidencial de Putin sobrevoe o país, que foi alvo de uma incursão de drones de Moscou no mês passado.
Segundo o governo polonês, se o avião entrar em seu espaço aéreo, será obrigado a descer e Putin será preso pelas acusações de crime de guerra que pesam contra o russo no Tribunal Penal Internacional.
Isso pode forçar uma alternativa de rota mais complexa, que é voar sobre o contestado mar Negro e entrar pela Bulgária, membro da União Europeia que disse aceitar o sobrevoo. Dali, cruzar a aliada Sérvia, que não faz parte do bloco de Bruxelas, e chegar à Hungria.
Na Ucrânia, o conflito prossegue, com avanços russos no leste e um bombardeio na região de Tchernihiv (norte) que deixou centenas de milhares de moradores no escuro, mantendo o padrão de ataques ao sistema energético às vésperas do inverno do Hemisfério Norte.