SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Polícia Civil paulista deflagrou uma operação que mira suspeitos de exercerem “cargos administrativos” da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) nesta terça-feira (21). A investigação policial aponta que eles coordenavam os trabalhos de 84 pontos de venda de drogas na cidade de São Paulo e outros seis municípios da região metropolitana.

Foram autorizados pela Justiça 38 mandados de prisão e 110 de busca e apreensão em Guarulhos, Itaquaquecetuba, Ferraz de Vasconcelos, Suzano e Mogi das Cruzes, além da capital. Ao todo, 17 pessoas foram presas e 21 eram procuradas.

Segundo as investigações, os alvos da operação não só fiscalizavam os trabalhos das chamadas biqueiras na região metropolitana, mas também eram responsáveis por cadastrar novos integrantes da facção criminosa e punir aqueles que eventualmente descumprissem normas determinadas pelo PCC.

Os investigados “tinham função de fazer auditoria nos pontos de venda, de tráfico de drogas”, disse o secretário estadual de Segurança Pública, Guilherme Derrite.

Segundo a Polícia Civil, 10 dos 17 presos são do grupo dos chamados “auditores” do PCC. Os demais seriam funcionários da base da organização criminosa, como vendedores, gestores e recrutadores dos pontos de venda de drogas.

Boa parte das provas que levou a investigação aos 38 nomes que são alvo de mandados de prisão, nesta terça, foi coletada em ações da Polícia Civil no início do ano.

Em fevereiro, durante uma incursão de policiais no extremo da zona leste de São Paulo, suspeitos fugiram de casas que eram alvo de interrogação e deixaram pra trás drogas e anotações que foram apreendidas. Essas provas levaram à prisão de oito suspeitos, inclusive pessoas que integravam a gerência do tráfico de drogas do PCC na região, em maio.

Nos celulares de um dos presos na operação de maio —identificado apenas pelo apelido, i30— havia informações sobre a movimentação financeira dos mais de 80 pontos de venda de drogas. Os trabalhos de fiscalização da venda de drogas nesses pontos eram coordenados por meio de vários grupos em aplicativos de mensagem, segundo a polícia.

Numa das conversas encontradas em um celular apreendido, há um relatório —com data de 9 de maio— trocado entre integrantes do tráfico de drogas sobre a ocorrência em que suspeitos escaparam, deixando para trás drogas e materiais que seriam usados como prova.

Outro texto encontrado em celular discorre sobre a recolha de pedidos de carregamentos de droga. “Não iremos admitir atrasos por falta de Responsabilidade e comprometimento com o trabalho”, diz o texto, com um ying-yang, símbolo associado ao PCC, na assinatura.

“Tínhamos até licença médica de indivíduos que cuidavam de pontos de tráfico”, disse o delegado-geral da Polícia Civil, Artur Dian. “Indivíduos que estavam enfermos, doentes, que não poderiam estar trabalhando nos pontos de tráfico, eram afastados e isso era contabilizado pelos ‘auditores’.”

Segundo Dian, todos os alvos de mandado de prisão são integrantes do PCC, e as 84 lojas de drogas também eram administradas por integrantes da facção —não são de “permissionários”, como são chamados os traficantes que apenas compram droga da facção mas não a integram. Três suspeitos, que eram alvos dos pedidos de prisão, foram flagrados com drogas, segundo a polícia.

A estrutura da quadrilha foi descoberta por agentes da 8ª Central Especializada de Repressão a Crimes e Ocorrências Diversas (Cerco), segundo a SSP. Somente para um dos pontos de tráfico administrados pelos investigados, a investigação encontrou dados que apontam para o ganho de quase R$ 700 mil em uma semana, afirmaram policiais.

Nas mensagens de celular, em meio a anotações sobre arrecadação com venda de droga, algumas lojas tinham números acompanhados da anotação “teste”. Para a polícia, isso indica que pontos de tráfico passavam por avaliações antes de serem abertos totalmente pela facção. Além disso, havia monitoramento por câmeras de segurança para supervisionar a movimentação dos funcionários do tráfico.

Segundo o delegado Guilherme Leonel, responsável pela 8ª Cerco (Central Especializada de Repressão a Crimes e Ocorrências Diversas), o cargo que a investigação chama de auditor não está formalmente na estrutura hierárquica do PCC, mas pode ser exercida por pessoas em diferentes posições de liderança.

“Esses auditores são faccionados, por óbvio, e são as pessoas que exercem a função mais alta dentro daquele determinado ponto de tráfico. Abaixo deles está o rapaz que faz a venda direto, o rapaz que abastece [o ponto de tráfico]”, afirmou Leonel, durante entrevista coletiva.

Imagens divulgadas nas redes por Derrite mostra a reprodução de uma conversa em um aplicativo de mensagens, em que os suspeitos estariam discutindo pagamento de valores relacionado ao tráfico de drogas. Foram apreendidas porções de drogas, celulares, dinheiro em espécie, documentos e cadernos com informações sobre a contabilidade do tráfico, segundo a SSP.

Ao todo, 240 policiais foram mobilizados para cumprir os mandados da Operação Auditoria, conduzida pela 8ª Cerco (Central Especializada de Repressão a Crimes e Ocorrências Diversas).