SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Uma nova injeção apresentada por pesquisadores do Instituto de Câncer do Reino Unido promete ser uma alternativa eficaz para pacientes com câncer de cabeça e pescoço que têm poucas opções eficazes de tratamento. Os resultados foram apresentados na segunda-feira (20) durante a Congresso da Sociedade Europeia de Oncologia Médica (ESMO) 2025 e já demonstram benefícios clínicos .

Chamada de “injeção inteligente”, trata-se de uma aplicação subcutânea do medicamento amivantamabe, que se mostrou promissor para pacientes cuja doença progrediu após terapias padrão, como imunoterapia e quimioterapia.

O estudo de fase Ib/2 (OrigAMI-4) apresentado no congresso mostrou que 76% dos pacientes viram seu carcinoma espinocelular de cabeça e pescoço (CECCP), tipo mais comum de câncer de cabeça e pescoço, diminuir ou parar de crescer. Esse tipo de câncer é o sexto mais comum do mundo, com aproximadamente 890 mil novos casos anualmente. Os tumores que não estão associados ao álcool ou ao tabaco —principais fatores de risco— podem estar ligados ao vírus do papiloma humano (HPV), além de má higiene bucal e alimentação não saudável, diz o médico

O ensaio clínico, que envolveu 55 centros em 11 países, apresentou uma sobrevida livre de progressão de 6,8 meses, e as respostas ao tratamento foram observadas, em média, em seis meses.

“Estes resultados representam uma das taxas de resposta mais encorajadoras que vimos neste cenário de difícil tratamento, com uma durabilidade que poderia prolongar significativamente o tempo que os pacientes vivem sem a progressão da doença”, disse Kevin Harrington, um dos pesquisadores principais do estudo. “Isso poderia representar uma mudança real em como tratamos o câncer de cabeça e pescoço —não apenas em termos de eficácia, mas também em como prestamos cuidados.”

O amivantamabe, desenvolvido pela farmacêutica Johnson & Johnson, é um anticorpo monoclonal biespecífico com um mecanismo de ação triplo que bloqueia as vias de crescimento tumoral EGFR e MET e ativa o sistema imunológico contra as células cancerígenas. “O amivantamabe é um medicamento ‘inteligente’ que não apenas bloqueia duas vias principais do câncer, mas também ajuda o sistema imunológico a fazer seu trabalho”, disse Harrington.

A molécula já possui aprovação para o tratamento de um tipo específico de câncer de pulmão e também demonstra potencial para câncer colorretal.

A partir desses resultados, a farmacêutica destaca o potencial mais amplo para outros tumores e está iniciando o estudo de Fase 3 OrigAMI-5. As moléculas ainda estão em fase de pesquisa, não aprovadas para comercialização no Brasil até o momento.

Para além da eficácia, o ensaio clínico mostrou que o tratamento foi bem tolerado e que sua administração subcutânea proporcionou melhora na qualidade de vida dos pacientes.

Outro tratamento envolvendo carcinoma de células escamosas de cabeça e pescoço recorrente/metastático apresentado no ESMO foi da Fulgent Genetics, cujos dados clínicos mostraram a eficácia do medicamento FID-007 em combinação com cetuximabe. Trata-se de uma formulação de nanopartículas projetadas para otimizar a entrega do quimioterápico paclitaxel (PTX).

Os resultados do ensaio clínico indicaram uma taxa de resposta objetiva geral de 51% e uma sobrevida livre de progressão mediana de 7,8 meses entre os 39 pacientes avaliados. Além disso, o perfil de segurança do medicamento também foi considerado favorável —a taxa de eventos adversos graves relacionados ao tratamento foi de 6%.