LIMA, PERU (FOLHAPRESS) – A Abra, controladora da Gol, estuda a possibilidade de incorporar aeronaves da Embraer às frotas de suas companhias aéreas, disse à Folha de S.Paulo o CEO da Gol, Celso Ferrer, durante evento do setor em Lima.
“No Grupo Abra, a gente está, sim, olhando outros tipos de avião: Embraer, A220, A330 [da Airbus]. É uma possibilidade, mas do grupo Abra, e vai ser feito isso num momento certo”, disse.
O Grupo Abra já havia anunciado neste mês um plano de ampliação da frota, com incorporação de até sete aeronaves A330neo e assinatura para 50 narrowbody (aeronaves de fusilagem estreita, com apenas um corredor central) A320neo adicionais, todos jatos da Airbus. O grupo prevê receber seu primeiro avião A320neo no final de 2025, que fará parte da frota da Avianca.
Atualmente, a Gol opera, somente, com aeronaves da Boeing, dos modelos 737-700, 737-800, 737-8 MAX e 737-800 BCF. Os aviões são usados em rotas no Brasil, na América do Sul, na América do Norte e no Caribe.
Em setembro, a Latam anunciou acordo com a Embraer para a aquisição de até 74 jatos E195-E2. A Azul já utiliza aeronaves da fabricante brasileira.
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P – Em setembro, a Latam fechou acordo com Embraer para a aquisição de até 74 aeronaves E195-E2, e a Azul já opera aviões da fabricante brasileira. A Gol deve seguir esse caminho?
CELSO FERRER – A Gol tem uma ordem de Boeing bem significativa. Sendo parte do Grupo Abra, dá para expandir os horizontes e, pela primeira vez, a gente está tendo acesso a tudo isso. Antes, a Gol era muito frota única. Agora, no Grupo Abra, a gente está, sim, olhando outros tipos de avião: Embraer, A220, A330. É uma possibilidade, mas do grupo Abra, e vai ser feito isso num momento certo.
P – Então é uma possibilidade para o grupo Abra, que não envolve somente a Gol.
CF – Não envolve só Gol. A Abra, somando Gol e Avianca, já tem uma ordem muito relevante de avião. Então, a gente precisa ver como uma nova ordem se encaixaria dentro disso, para não gerar uma sobrecapacidade de frota.
P – Existe alguma expectativa em relação à proposta de fechamento de capital? Espera alguma resistência de acionistas?
CF – Esse processo é resultado da grande capitalização que a gente fez no Chapter 11. Durante o período do Chapter 11, a gente teve uma capitalização muito grande da própria Abra e dos que a gente chama de “unsecured claims”, que eram os credores. O que sobrou da base de minoritários foi 0,78%. A eles, foi dado o direito de subscrição durante 30 dias. Alguns subscreveram, alguns não subscreveram, mas, no final, não mudou essa base de apenas 0,78%.
Então, diferente dos casos que a gente teve no Brasil recente de OPAs [Oferta Pública de Aquisição de Ações], nós estamos falando aqui de uma participação que nem poderia estar no nível 2 da B3. Então, o que a gente está fazendo é praticamente regularizar por estar com menos de 1% de ações [de terceiros].
Se você olhar todas as nossas comunicações [na época em que que estavam no Chapter 11], a gente já falava: “isso pode resultar em uma diluição massiva dos acionistas”. Fizemos a capitalização, demos o direito. Agora a gente está na última milha desse processo gigante.
Até agora não tivemos nenhum problema com CVM [Comissão de Valores Mobiliários], com minoritários, então eu acredito que a gente vai conseguir sair muito bem. É o último pedaço.
P – A decisão de desistir da fusão com a Azul partiu da própria Gol?
CF – A decisão, na verdade, foi da Abra, que estava falando com a Azul, porque a Gol estava em Chapter 11. A Gol nem participou dessas conversas sobre fusão.
A Abra tomou essa decisão de derrubar aquele memorando de entendimento com algumas condições pré-acordadas. Derrubou para dar visibilidade de que a gente está, de fato, no nosso caminho. A prioridade do Grupo Abra é que a Gol emerja bem do Chapter 11. A gente emergiu bem, estamos crescendo.
A história agora é muito mais uma história nossa, de criação e fortalecimento do Grupo Abra, com IPO da Abra, fechamento de capital na Gol. O próximo passo é a preparação desse IPO. É essa história que está se moldando, que não depende mais de nenhum tipo de combinação de negócio.
P – A passagem aérea acumula nos últimos 12 meses fechados em setembro uma deflação de 7,03%, segundo o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo). Paralelamente, as companhias aéreas reclamam de custos com QAV (combustível de aviação) e dólar, por exemplo. Existe a possibilidade de as empresas reajustarem os preços dos bilhetes para compensar as despesas?
CF – Eu sou economista e estou muito feliz em ver, na prática, o que está acontecendo. O que a gente sempre falou: os preços estavam altos porque o petróleo estava alto, porque o dólar estava alto. A gente está em um ambiente de um dólar alto, mas mais estável, e com o barril do petróleo mais baixo e repassando isso.
Historicamente, a indústria tem repassado, tanto para cima quanto para baixo, movimentos de QAV e de dólar. O que a gente está vivendo agora é só esse equilíbrio. Não existe esse mito de que a passagem está muito cara por algum outro motivo. Quase todos os custos da empresa são influenciados pelo dólar -e o combustível é o principal deles.
As companhias aéreas estão crescendo, e as passagens estão no nível que você falou. O próprio IBGE [Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística], mês após mês, fala de preços razoáveis. É, sim, um ambiente mais favorável, com crescimento e com [preço do] combustível baixo.
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RAIO-X | CELSO FERRER, 42
Ferrer é CEO da Gol desde julho de 2022. Está na empresa há 20 anos e já ocupou os cargos de COO e vice-presidente de Planejamento. É graduado em Economia pela USP e em Relações Internacionais pela PUC-SP. Possui MBA Executivo pela Insead (Instituto Europeu de Administração de Empresas). É também piloto de linha aérea e compõe o quadro de tripulantes da Gol na frota Boeing 737.