SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O TJ-SP (Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo) concedeu liberdade provisória à mulher presa no domingo (19) sob suspeita de injúria racial em partida do Campeonato Paulista sub-12 entre Manthiqueira e Corinthians.
A mulher de 41 anos foi presa em flagrante por supostamente ter proferido injúrias racistas contra um jogador menor de 18 anos em jogo no Estádio Municipal Professor Dario Rodrigues Leite, em Guaratinguetá.
A Polícia Militar foi acionada. A mulher foi identificada e presa, sendo conduzida em seguida para a cadeia pública de Lorena.
Segundo o TJ, após audiência de custódia na segunda-feira (20), foram impostas medidas cautelares diversas da prisão. “Em fase investigativa, o acesso aos documentos nos autos é restrito às partes e aos advogados”, informou o tribunal.
Fundador do Manthiqueira, Dado de Oliveira afirmou que o garoto alvo das ofensas está bem e passará por acompanhamento psicológico no clube. “Abracei-o e conversei com ele depois do episódio. É um menino que tem a cabeça boa e está suportando tudo isso”, afirmou Oliveira à reportagem.
Ele acrescentou que os pais do jovem manifestaram o desejo de blindá-lo neste momento e preferiram não se pronunciar sobre o caso.
Presente no estádio no domingo, o dirigente afirmou que as torcidas de ambos os lados estavam “inflamadas” durante a partida, válida pelas quartas de final. Ao fim do jogo, na saída do estádio, precisaram ser contidas pela PM para evitar maiores problemas. “O policiamento foi muito efetivo e conteve as pessoas que estavam mais exaltadas.”
Oliveira disse ainda que casos de pais que se exaltam excessivamente são bastante comuns em jogos da base. O dirigente afirmou que o clube procura fazer um trabalho educativo de conscientização com os pais dos jogadores, enaltecendo a importância de apoiar os filhos nas arquibancadas, mas sem dirigir qualquer tipo de ofensa aos jogadores e à torcida do adversário.
“O mundo mudou. Não precisamos fazer bullying, proferir ofensas racistas para nos impor”, afirmou Oliveira. “No Manthiqueira, defendemos o fair play e passamos para os nossos jogadores que não façam com os outros o que não gostariam que fizessem com eles.”
O árbitro do jogo, Guilherme Drbochlaw, relatou na súmula que acionou o protocolo antirracismo após o atleta do Manthiqueira sentar-se no gramado e, “aos prantos”, informar à equipe de arbitragem a ofensa da torcedora do time visitante. “Preto, filho da puta, sem família, vai tomar no cu”, teria dito a torcedora, segundo relatado pelo árbitro na súmula, com base na denúncia do atleta.
“De acordo com o boletim de ocorrência, durante o jogo, uma das crianças informou ao árbitro que estava sendo alvo de insultos raciais vindos de uma mulher na arquibancada. O ato foi confirmado por um dos gandulas da partida. A mãe da vítima acionou os policiais que faziam a segurança do evento. As partes foram encaminhadas à Delegacia de Guaratinguetá, onde a suspeita prestou depoimento e teve a prisão em flagrante decretada. A mulher foi encaminhada à Cadeia Pública de Lorena, onde permaneceu à disposição da Justiça”, informou a SSP (Secretaria de Segurança Pública), em nota.
“Após o ocorrido, o referido atleta não seguiu na partida devido ao seu estado emocional”, informou Drbochlaw na súmula.
Do fim de agosto ao início de setembro, a FPF (Federação Paulista de Futebol) chegou a proibir a presença de público durante duas rodadas do Paulista sub-11.
A medida, de caráter educativo, foi tomada devido ao comportamento inadequado da torcida em múltiplos jogos. Os casos relatados incluíram ofensas aos garotos com injúria racial e homofobia, brigas e ameaças.
Tanto a federação quanto o Manthiquera e o Corinthians emitiram notas para condenar o racismo e a postura da torcedora.