SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar registra alta no começo da tarde desta terça-feira (21) com os investidores acompanhando a apresentação de medidas ao Congresso para compensar a derrubada da MP dos impostos.
Analistas do mercado também permanecem atentos às negociações comerciais envolvendo Estados Unidos e China.
Às 13h30, o dólar subia 0,12%, cotado a R$ 5,377, em linha com o exterior. O índice DXY, que mede o desempenho da moeda americana frente a outras seis divisas, também registrava alta, de 0,28%.
No mesmo horário, a Bolsa tinha queda de 0,17%, a 144.259 pontos, na contramão dos últimos pregões.
Em um dia de agenda esvaziada de indicadores, o mercado acompanha as movimentações em Brasília, onde o governo segue em busca de uma solução para o Orçamento após o Congresso ter arquivado no início do mês a medida provisória 1.303, sobre a taxação de aplicações financeiras.
Segundo o ministro Fernando Haddad (Fazenda), a Casa Civil e a Fazenda estão reunidas para fechar ainda nesta terça-feira (21) a proposta de Orçamento que será levada ao Congresso.
A discussão inclui, segundo o ministro, tanto a LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) quanto as alternativas à MP do aumento de impostos.
“A Casa Civil e a Fazenda estão reunidos hoje, para nós processarmos aquilo que foi discutido com os líderes e até o começo da tarde nós vamos ter uma definição do que fazer”, disse Haddad a repórteres na portaria do Ministério da Fazenda.
O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve fatiar as medidas de compensação à MP (medida provisória) de aumento de impostos em ao menos dois projetos, com o objetivo de separar as ações menos controversas e com maior chance de aprovação daquelas que ainda enfrentam resistências no Congresso Nacional.
Segundo técnicos ouvidos pela reportagem, um dos projetos deve conter as medidas de contenção de despesas, com impacto estimado em R$ 15 bilhões, e o limite mais rigoroso para uso de créditos tributários na compensação de impostos a pagar, que pode ampliar a arrecadação em R$ 10 bilhões no ano que vem.
Outro projeto deve ficar com o aumento da taxação das apostas esportivas (bets) e a tributação de títulos hoje isentos, como aqueles do agronegócio e do setor imobiliário. Juntas, essas mudanças poderiam incrementar as receitas em R$ 4,3 bilhões em 2026, segundo os cálculos iniciais do Executivo.
Assim como na véspera, os investidores continuam atentos ao exterior, mais especificamente, às negociações comerciais entre China e EUA.
O presidente Donald Trump anunciou sobretaxas adicionais de 100% sobre produtos chineses e novos controles de exportação sobre “todo e qualquer software crítico” até 1º de novembro, nove dias antes da atual trégua tarifária entre os dois países expirar.
No sábado (18), o governo chinês anunciou que representantes dos países devem se encontrar nesta semana para uma nova rodada de negociações.
As novas medidas comerciais foram uma reação à expansão dos controles de exportação de elementos de terras raras pela China, produtos essenciais para uma série de indústrias, da automobilística à de defesa.
A proposta de tarifa de 100% não é sustentável, afirmou Trump em entrevista na sexta. “Mas o número é esse. Eles me forçaram a fazer isso”, disse. Ele também confirmou que se reunirá com o líder chinês, Xi Jinping, em duas semanas na Coreia do Sul.
Antes disso, o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, disse que espera se reunir nesta semana com o vice-primeiro-ministro chinês He Lifeng para tentar evitar a escalada de tarifas.
A escalada de tensões entre Estados Unidos e China tem voltado a despertar temores de uma guerra comercial de grandes proporções, semelhante à do início do ano.
Com os acenos à moderação, os mercados voltaram a ter apetite por risco. “O clima global é de leve otimismo com a possibilidade de um acordo comercial entre EUA e China, após sinalizações de trégua tarifária por Donald Trump”, diz Gustavo Trotta, especialista e sócio da Valor Investimentos.
Os Estados Unidos também estão abrindo portas para negociação com o Brasil. O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, se reuniram presencialmente na Casa Branca na última quinta-feira.
Em comunicado divulgado após o encontro, o governo americano disse que as conversas foram muito positivas e combinaram um cronograma de trabalho.
Ainda na cena internacional, o mercado olha com ansiedade para o resto da semana. Isso porque, na sexta-feira, o Departamento do Comércio dos Estados Unidos deve divulgar os dados de inflação de setembro, o primeiro relatório oficial da economia norte-americana desde que o governo federal entrou em shutdown.
O Fed se reúne na próxima semana, entre os dias 28 e 29, para decidir sobre a taxa de juros. No encontro passado, os dirigentes optaram por um corte de 0,25 ponto percentual, o primeiro desde dezembro do ano passado, levando a taxa à banda de 4% e 4,25%.
A decisão foi amparada na visão de que os riscos de uma desaceleração do mercado de trabalho, causado pela política monetária restritiva, eram maiores do que os de um repique na inflação.
Segundo a ferramenta FedWatch, do CME Group, os investidores veem uma chance de 99% de um corte de 0,25 ponto nas taxas do Fed na reunião da semana que vem.