SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A USP (Universidade de São Paulo) perdeu a liderança de melhor universidade da América Latina e do Caribe, de acordo com o ranking QS (Quacquarelli Symonds) 2026, divulgado no dia 1º. Porém, a instituição paulista continua na liderança regional do ranking THE (Times Higher Education), divulgado apenas uma semana depois.

Produzidos por entidades britânicas, o THE e o QS são dois dos principais indicadores de avaliação de universidades do mundo.

No caso do THE, as instituições são avaliadas em áreas como: ensino (ambiente de aprendizagem), ambiente de pesquisa (volume, renda e reputação), qualidade da pesquisa (impacto da citação, força da pesquisa, excelência da pesquisa e influência da pesquisa), perspectiva internacional (equipe, alunos e pesquisa) e indústria (renda e patentes).

No THE 2026, a USP aparece como a principal universidade brasileira, na posição entre o 201º e o 250º, entre mais de 2.191 instituições de 115 países classificados —o levantamento separa as posições em faixas.

No ranking QS, que tem critérios como a qualificação docente, a produção científica, pesquisa e a reputação entre empregadores, a instituição paulista caiu para o segundo lugar na América Latina, sendo ultrapassada Pontifícia Universidade Católica do Chile (UC).

No entanto, de acordo com o THE, a chilena fica atrás não só da USP, mas também da Unicamp (veja abaixo).

Para entender essa movimentação, é preciso olhar para as metodologias que estruturam cada indicador. Enquanto o QS dá peso a reputação acadêmica e a percepção de empregadores, o THE combina critérios como ensino, pesquisa, citações científicas e internacionalização.

Nos últimos anos, a USP tem apresentado oscilações em sua posição nos rankings. Porém, essas variações não indicam necessariamente uma perda de qualidade da insituição, afirma a pesquisadora Sabine Righetti, doutora em política científica e pesquisadora no Labjor-Unicamp.

Para ela, em médio e longo prazo, o problema das variações está na falta de avanços das instituições brasileiras no cenário internacional.

“O ideal seria as nossas universidades de excelência estarem subindo nos rankings. Isso não está acontecendo. Enquanto isso, universidades da China, por exemplo, passaram do grupo das 100 primeiras para estarem entre as 25 melhores em dez anos. Isso sim é uma mudança concreta. No Brasil, estamos parados”, afirma.

Em entrevista à reportagem, Fátima Nunes, coordenadora do Egida (Escritório de Gestão de Indicadores de Desempenho Acadêmico) da USP, afirma que as instituições públicas brasileiras não têm condições de dar um salto significativo nos rankings internacionais.

Isso ocorre porque a missão das universidades públicas é voltada à formação da população local, e não para a atração de alunos internacionais, que é um dos critérios mais valorizados nesses rankings.

“Nossa missão é usar o dinheiro do contribuinte para dar uma formação melhor para brasileiros, para melhorar o nosso país.”

A coordenadora do Egida esclareceu que, embora a instituição monitore alguns rankings internacionais, o planejamento estratégico da instituição é orientado pela missão institucional.

“A USP tem um planejamento estratégico para melhorar o seu desempenho em relação à sua missão. No entanto, a universidade não estabelece metas específicas para melhorar seu desempenho em rankings”, afirma Nunes.

Segundo ela, a variação de posições acontece também pelo desempenho de outras instituições e não pela queda de qualidade da universidade.

No caso do ranking QS, a universidade paulista lidera em 5 dos 8 critérios avaliados em comparação com a Pontifícia Universidade Católica do Chile. Na avaliação da proporção de alunos por professores, no entanto, é onde aparece a maior diferença. Enquanto a instituição chilena alcança 65,2 pontos, a USP aparece com 50,4.

Sobre essa diferença, a coordenadora do Egida ressalta as diferenças estruturais entre as instituições —a universidade chilena é particular. Além disso, Nunes observa que os dados usados para a avaliação do QS são de 2023 e que alguns resultados ainda não refletem a realidade atual da instituição paulista.

A coordenadora cita como exemplo a contratação de professores. Ao todo, já foram contratados 950 docentes de um total de 1.509 vagas autorizadas para o período de quatro anos.

“A USP não fez isso com o objetivo de melhorar sua posição em rankings. A ação visa repor o quadro docente para garantir a manutenção da qualidade de ensino, que é a sua verdadeira missão”, afirma Nunes.

Além da USP, outras universidades brasileiras estão presentes no ranking THE, mas a diferença de posições entre as instituições chama atenção. A USP figura no grupo entre 201º-250º, a Unicamp está entre 351º-400º, enquanto a UFRJ aparece na faixa entre as posições 601º-800º.

“Isso mostra que as nossas universidades de elite estão distantes entre si em desempenho”, explica Sabine Righetti. “Tem um monte de universidades no mundo entre elas. Isso deveria nos levar a pensar que grupo de universidades queremos que esteja lá em cima. E com quem estamos nos parecendo hoje.”

Apesar das diferenças nas metodologias e nos resultados entre os rankings THE e QS, quatro universidades brasileiras mantêm a mesma ordem nesses indicadores. A USP lidera em ambos os rankings, sempre seguida por Unicamp, UFRJ e Unesp, indicando uma convergência sobre quais são as principais instituições do país.

Righetti reforça a necessidade de uma discussão nacional sobre o lugar que o Brasil quer ocupar no cenário do ensino superior mundial. “Não vai acontecer de todas as nossas 200 universidades estarem entre as melhores do mundo. Isso nem seria saudável. O que falta é definir quais são as nossas universidades de classe global, e apoiá-las com políticas consistentes para que avancem. Isso ainda não foi feito.”

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Melhores universidades da América Latina no ranking THE

Classificação geral

dividido por grupo* – Instituição – País

201º-250º – USP (Universidade de São Paulo) – Brasil

351º-400º – Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) – Brasil

401º-500º – Pontifícia Universidade Católica do Chile (UC) – Chile

601º-800º – UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) – Brasil

Tecnológico de Monterrey – México

UEES (Universidade do Espírito Santo) – Equador

Unesp (Universidade Estadual Paulista) – Brasil

UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) – Brasil

801º-1.000º – UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) – Brasil

Unam (Universidade Nacional Autônoma do México) – México

PUC-Rio – Brasil

Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) – Brasil

*A partir da posição 201, as instituições são agrupadas em faixas

Dez melhores universidades do ranking QS América Latina e Caribe

Classificação 2026 – Classificação 2025 – Instituição – País

1 – 2 – Pontifícia Universidade Católica do Chile (UC) – Chile

2 – 1 – USP (Universidade de São Paulo) – Brasil

3 – 3 – Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) – Brasil

4 – 4 – Tecnológico de Monterrey – México

5 – 5 – UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) – Brasil

=6 – 8 – Unesp (Universidade Estadual Paulista) – Brasil

=6 – 6 – Universidade do Chile – Chile

8 – 8 – Universidade dos Andes – Colômbia

9 – 9 – Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM) – México

10 – 10 – Universidade de Buenos Aires (UBA) – Argentina