BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Somados, 15 países dentro do grupo de 44 classificados como LDCs (da sigla em inglês, aqueles de economia menor) precisam de US$ 406,4 bilhões (ou R$ 2,2 trilhões) para cobrir os custos necessários neste momento com adaptação à mudança climática.
O valor foi calculado pela reportagem, com base no novo relatório da UNFCCC o braço de clima da ONU (Organização das Nações Unidas), divulgado nesta terça-feira (21).
O documento é baseado nas NAPs, sigla em inglês para os planos nacionais de adaptação que cada país elabora, e não tem padrão de período de tempo, mas refletem a necessidade expressa por cada nação.
Os dados são então compilados e analisados pelo órgão internacional.
Este relatório será um dos pilares para as discussões da COP30, a conferência de clima da ONU que acontece em novembro na cidade de Belém (PA), que tem como uma de suas missões definir indicadores globais para monitorar a área de adaptação.
O debate sobre este tema ganhou um holofote inédito neste ano, com o aumento da gravidade e da frequência de eventos climáticos extremos (por exemplo, os incêndios florestais ou as inundações urbanas que aconteceram em diversos países no mundo, como Brasil, Estados Unidos e Espanha).
Essa área é a que foca, por exemplo, em transformar a forma de construir ou organizar cidades para torná-las mais resilientes a essas catástrofes.
É, portanto, um investimento com um viés bastante preventivo. Mesmo assim, dentre as diversas áreas de enfrentamento à mudança climática, ela é a que concentra a maior lacuna de investimento calculado em US$ 359 bilhões (R$ 2,03 trilhões), segundo a ONU.
Por isso, o novo relatório ressalta que, mais do que planos, é necessário impulsionar as formas de financiamento para adaptação.
“Antes deste relatório, nós tínhamos dois desafios em adaptação: direção e velocidade. Agora é apenas um: a direção está certa, mas temos uma séria necessidade de velocidade. Temos que acelerar o paço. O que nos leva à COP30, quando as nações precisam corresponder”, afirma o secretário-executivo da UNFCCC, Simon Stiell.
O documento aponta que 80 de quase 200 países apresentaram seus NAPs até 30 de setembro deste ano, prazo máximo estipulado pela ONU.
Destes, 67 são países classificados como em desenvolvimento e, dentre eles, 23 estão dentro do grupo de LDCs (que no total, tem 44) e 14 nos SIDs sigla para as nações insulares, composto por 39 Estados.
Dentre os ricos, Austria, Canadá, Finlândia, França, Alemanha, Irlanda, Holanda, Nova Zelândia, Espanha, Reino Unido e Estados Unidos submeteram seus relatórios dentro do prazo.
Os documentos têm pouca padronização, e muitos países tiveram problemas técnicos, ressalta a análise climática das Nações Unidas.
Mas de maneira geral, o relatório ilustra a necessidade de cada nação no momento em que elaborou o seu plano nacional.
Dentre os LDCs destacados pelo documento, por exemplo, Bangladesh afirma que o custo para pôr em prática o seu Plano Nacional de Adaptação é de US$ 230 bilhões (R$ 1,2 tri) entre 2023 e 2050 os valores foram convertidos da moeda local para dólar pela ONU.
Já o Congo afirma que precisa de US$ 9,1 bilhões (R$ 49 bi), mas para concretizar seus planos relativos ao intervalo entre 2020 e 2024.
A Etiópia calcula serem necessários US$ 90 bi (R$ 483 bi) espalhados por um intervalo entre 2016 e 2030.
Mesmo assim, destaca o documento, fica clara a urgência de que estes recursos sejam mobilizados.
Ele destaca que, até 30 de setembro deste ano, o Fundo Verde para o Clima havia aprovado quase US$ 7 bilhões em 116 projetos de adaptação.
A quantidade total de planos de adaptação aprovadas vem crescendo. Até 2020, apenas 20 países em desenvolvimento haviam apresentado seus relatórios nacionais, número que chegou a 67 em 2025.
“Investidores e instituições financeiras não podem mais dizer que não sabem onde ou como investir em adaptação. Esses planos esclarecem país por país, setor por setor quais são as prioridades, as necessidades e as oportunidades que existem”, afirma Stiell.
O documento mostra que o setor de agricultura e sistemas alimentarios é o mais vezes enquadrado como uma prioridade foi classificado assim por 67 países. Na sequência, vem os ecossistemas e biodiversidade e, logo depois, água e saneamento.
O evento climático extremo mais lembrado nos documentos são as secas, citadas por 63 nações, seguida de enchentes, o aumento da temperatura, a elevação do nível do mar e a mudança nos padrões de chuva.
“A tarefa é encaixar essas prioridades, necessidades e oportunidades com uma maior quantidade, e também qualidade de financiamento. Isso significa apoio de longo termo, previsível e equitativo para empoderar países”, completa Stiell.