SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A 20 dias do início da COP30, o governo comemora a licença do Ibama para pesquisa de extração de petróleo na Foz do Amazonas. O Brasil, afinal, é uma economia verde ou não?

Também aqui: Milei emplaca ajuda de Trump e outros destaques do mercado nesta terça-feira (21).

**É VERDE OU NÃO É?**

O Brasil parece estar em uma corda bamba sobre seu papel no combate à crise climática em que o mundo se encontra: às vezes se posiciona como líder de um movimento global em direção à sustentabilidade, e em outras como uma economia em ascensão que precisa de combustível (poluente) para crescer.

A 20 dias do início da COP30, a Petrobras anunciou que obteve do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis) a licença para perfurar o primeiro poço em águas profundas na Foz do Rio Amazonas.

COP O QUÊ? TRINTA

É a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima, que acontecerá de 10 de novembro a 21 de novembro em Belém (PA).

O evento é um marco no calendário ambientalista, pois é uma das raras reuniões entre líderes globais, cientistas, ativistas e empresários em torno do tópico aquecimento global.

Trazer a COP para o Brasil e posicionar o país como um líder na agenda da sustentabilidade é uma das bandeiras do governo Lula, que se esforçou para fazer o evento acontecer, ainda que tenha enfrentado uma série de obstáculos.

O QUE TEM A VER?

Mesmo com o evento batendo na porta, o governo escanteia a agenda verde para comemorar uma licença de exploração que pode ser muito lucrativa para a Petrobras, mas está sob escrutínio constante de ambientalistas.

A aprovação do Ibama marca o início do que pode se tornar um foco de exploração de petróleo na região amazônica —há a expectativa de que a margem equatorial seja uma nova fonte de lucros para a petroleira, uma vez que a exploração do pré-sal deve minguar nos próximos anos.

SEM PERDER TEMPO

A perfuração “está prevista para ser iniciada imediatamente”, segundo a Petrobras, e deve durar cinco meses. Isso significa que ela estará em curso enquanto o planeta debate medidas na COP30.

Nessa fase, não haverá exploração de petróleo. A perfuração serve como pesquisa exploratória, ou seja, para entender se realmente há petróleo e gás em escala econômica (isto é, que seja lucrativo extrair) ali.

IDEIA DE QUEM?

Nos últimos meses, além da pressão da Petrobras e de políticos da região Norte, o pedido passou a receber forte apoio público do presidente Lula, sob o argumento de que o país não pode abdicar da receita do petróleo.

O poço batizado de Morpho é a primeira tentativa para confirmar se há no Brasil reservatórios de petróleo semelhantes aos descobertos pela americana ExxonMobil na Guiana —um dos países hoje com maior taxa de crescimento na produção.

Quem discorda… aponta que a decisão pode manchar a reputação ambiental do Brasil, ao buscar a expansão da exploração petrolífera enquanto fala de transição energética.

“É uma sabotagem à liderança do Brasil na COP30”, disse Suely Araújo, coordenadora de políticas públicas do Observatório do Clima.

[+] Petrobras. Nesta segunda-feira (20), contamos que a Petrobras pode rever seu plano de investimentos por causa da queda do barril no mercado internacional. Hoje, o assunto continua sendo a petroleira e preços, mas sob outro ângulo.

A empresa anunciou ontem que vai reduzir em 4,9% o preço da gasolina nas refinarias a partir de hoje. O corte era esperado pelo mercado, já que a empresa vinha operando com valores maiores do que as cotações internacionais —que estão em queda acentuada, como já sabe o leitor assíduo da FolhaMercado.

O corte será de R$ 0,14 por litro com o preço médio de venda de suas refinarias passando a R$ 2,71 por litro.

O valor do diesel, que já está abaixo da cotação internacional, não vai mudar.

A parcela de gasolina pura representa cerca de um terço do valor médio pago pelo consumidor nas bombas. O restante é formado pela parcela de etanol, que hoje representa 30% da mistura. O efeito deve demorar alguns dias para aparecer nos postos.

**TRUMP EX MCHINA 🇦🇷”

“Deus ex machina” é um termo usado para definir aquele momento em que uma narrativa que parecia sem solução é resolvida por uma intervenção inesperada ou improvável. Ele ajuda a descrever o que está acontecendo na Argentina.

O banco central do país vizinho anunciou ontem que assinou um acordo de estabilização da taxa de câmbio de US$ 20 bilhões com o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos, seis dias antes da eleição parlamentar.

“Isso fortalece a capacidade do banco central de responder às condições que podem ocorrer em episódios de volatilidade nos mercados de câmbio e de capitais”, diz o comunicado.

Com o movimento, Donald Trump, correligionário do presidente ultraliberal Javier Milei, tenta salvar o aliado de uma possível derrota significativa aos 45 minutos do segundo tempo.

RECAPITULANDO

Milei, que chegou ao poder prometendo resolver os problemas econômicos da Argentina com austeridade e cortes profundos no Estado, enfrenta agora uma sequência de derrotas políticas e econômicas. Sua gestão tem sido pressionada pela oposição, mais voltada a pautas sociais, e por um cenário cambial cada vez mais instável.

Em setembro, o governo revogou medidas que restringiam a compra e venda de dólares, tentando enfraquecer o câmbio paralelo —mas o “dólar blue” continua forte e corroendo as reservas internacionais.

A manutenção artificial do peso tem exigido altos gastos do Banco Central, estimados em cerca de US$ 2 bilhões por mês, o que coloca em xeque a sustentabilidade da política cambial e o próprio discurso de austeridade que impulsionou Milei ao poder.

INJEÇÃO

Os americanos —especialmente Scott Bessent, secretário do Tesouro dos EUA, que atuou como negociador do acordo— ajudam a campanha de Milei ao fortalecer as reservas internacionais da Argentina, na esperança de reduzir a volatilidade do câmbio. Será que US$ 20 bilhões (R$ 107,4 bilhões) dão para o gasto?

No domingo (26), os “hermanos” vão às urnas eleger um novo congresso, em um pleito essencial para a sobrevivência da agenda de Milei. Se o presidente obtiver maioria nas casas legislativas, poderá continuar aplicando suas reformas. Caso contrário, enfrentará dificuldades para governar à moda ultraliberal.

Antes, Washington dizia que “não perderia seu tempo” com a Argentina se o partido do presidente fosse derrotado na votação da próxima semana, mas Bessent voltou atrás —no que pode ser um respiro para a direita na América do Sul.

ADIANTOU?

Mais ou menos. Ontem, o peso argentino caiu abaixo do que havia atingido antes do Tesouro dos EUA anunciar a ajuda ao país no começo deste mês. A queda é um sinal de que o apoio financeiro do governo Trump não vai salvar a divisa argentina da queda.

Além do swap, os EUA fizeram três compras de pesos argentinos, injetando um valor que economistas estimam totalizar cerca de US$ 400 milhões (R$ 2,15 bilhões).

**ENQUANTO ISSO…**

Uma pane no sistema de nuvem da Amazon (AWS) provocou a falha de mais de 500 apps. A empresa afirmou que os erros no data center no estado americano da Virginia, onde o problema teria começado, foram corrigidos —o reestabelecimento só aconteceu às 21h da segunda-feira.

Cerca de 60% dos serviços digitais no Brasil são contratados nos EUA e a AWS.

QUEM PAROU?

No Brasil, Mercado Livre (e Pago), PicPay e iFood estiveram entre os principais afetados.

Serviços da Amazon, como o Prime Vídeo e a Alexa, plataformas financeiras, de jogos populares (Fortnite, Roblox e outros), redes sociais como o Snapchat e até sites de vendas de ingressos do time inglês de futebol Tottenham também ficaram fora do ar.

Segundo o jornal The New York Times, McDonald’s e WhatsApp foram prejudicados nos EUA.

Parando para pensar… tantos serviços com alta presença no cotidiano global deveriam depender de um mesmo servidor? Há riscos nessa concentração?

**O QUE MAIS VOCÊ PRECISA SABER**

Fintechs na mira. O presidente Lula determinou que o governo insista no aumento da tributação das empresas do tipo. Ainda, a Febraban rebateu argumentos de que as fintechs pagam mais impostos que bancos tradicionais em carta divulgada ontem.

“Não nos comunicamos da forma certa”… é o que o CEO da Latam tem a dizer sobre nova tarifa de passagens que não permite bagagem de mão.

Tá podendo? A Mastercard lançou um novo cartão para o 1% mais rico. Entre os brindes, estão passagens na primeira classe, refeições em restaurante Michelin e sala VIP de aeroporto com menu de Alex Atala.

Disparou. As ações de empresas de terras raras dispararam em meio às tensões comerciais entre Estados Unidos e China.

“Meu nome não é John”. Empresas de tecnologia dominantes estão tentando se descolar da alcunha “big techs” para driblar a regulamentação desse tipo de companhia.

Ficamos para trás? Donald Trump fechou um acordo com a Austrália para viabilizar a exploração de minerais críticos no país por empresas americanas.