RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Dona de um pequeno restaurante no bairro de Jardim Paulista, em Paulista, no Grande Recife, Viviane Mendes, 57, é conhecida como Dona Lila. Ela é quem cozinha e retira as louças para lavar do estabelecimento que mantém com a ajuda dos dois filhos, Rômulo e Rafael.

De vez em quando, atende aos pedidos dos clientes mais próximos em um palco improvisado no canto do Aconchego da Lila, que ela disponibiliza aos artistas locais, para fazer o que mais ama na vida: cantar. Na quinta-feira (16), Dona Lila apresentou, sozinha, sua versão para “Força Estranha”, clássico de Caetano Veloso eternizado por Gal Costa (1945-2022)

O vídeo da apresentação, divulgado nas redes sociais no domingo (19), rapidamente viralizou, emocionando internautas e artistas. O próprio Caetano se declarou tocado com a performance: “Ela canta lindo. Fiquei emocionado. Minha música! A mesma música que cantei com meus filhos na televisão. Ela canta lindamente, poxa vida”, disse o cantor. Carlinhos Brown, Ivan Lins, Zélia Duncan, Alexandre Pires, Alice Caymmi e outros famosos comentaram.

Lila começou a cantar ainda criança, participando de corais e se apresentando nas igrejas em Paulista, onde nasceu e vive até hoje. Nunca fez aulas de canto. “Tive que trabalhar desde muito cedo e cantar era a minha distração. O meu momento comigo. Ia me ouvindo e trabalhando a voz sozinha”, diz ela que sempre foi elogiada pela afinação e tem uma resposta sobre o dom.

“Canto com alma e com o meu coração”, diz à reportagem. Ela chama de “furdunço” as últimas 24 horas, depois que, como Caetano previu, ficou famosa. “Nunca imaginei que fosse virar esse furdunço todo as nossas vidas. De 35 seguidores, ganhei quase 40 mil e, hoje, tive que cantar na hora do almoço porque várias pessoas vieram aqui me ver’, conta.

Ela contou como o vídeo foi gravado no restaurante. “Um cliente antigo trouxe dois amigos para almoçar naquele dia e aí perguntou: ‘Dona Lila, você não vai dar uma palinha?’. Eu disse que só cantaria uma música bem rápida porque estava ocupada. De touca mesmo na cabeça, peguei o microfone e escolhi uma música do Caetano. Ele publicou e deu no que deu” diz, ainda sem acreditar no alcance que sua voz teve. “Estou nas nuvens. Nem acreditei quando vi os elogios do Caetano e do Ivan Lins. Quase infartei”.

Sobre o repertório preferido, ela lista “Sozinho”, de Caetano Veloso e “Dona Cila”, de Maria Gadu. “Na verdade, eu gosto de MPB, sabe? Não ouço muitos os outros gêneros” diz Lila que recorre à fábula da cigarra e da formiga para explicar como anda se sentindo.

“Sempre fui a formiga, porque sempre trabalhei para criar meus filhos. Fui mãe solo. Agora, acho que Deus quer mudar minha história. Já abasteci os celeiros e agora vou cantar, como a cigarra”.