SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse nesta segunda-feira (20) que a Ucrânia não deverá ganhar a guerra contra a Rússia, que a invadiu em fevereiro de 2022, virando do avesso a geopolítica da segurança mundial.
“Eles [ucranianos] ainda podem ganhar. Eu não acho que eles vão, mas ainda podem conseguir”, disse o presidente na Casa Branca. Segundo ele a guerra “é uma coisa estranha e qualquer coisa pode acontecer”.
A fala ocorre três dias depois de o republicano receber em Washington o ucraniano Volodimir Zelenski, num encontro descrito pela imprensa americana e europeia como tenso e marcado pela negativa de Trump de fornecer os mísseis de cruzeiro Tomahawk que o visitante desejava.
Mais cedo, Zelenski havia dito que Trump estava pronto para entregar as armas, mas foi demovido da ideia por um telefonema de Vladimir Putin na quinta-feira (16), véspera do encontro. A afirmação foi feita por pelo presidente ucraniano nesta segunda (20), em um comunicado divulgado à imprensa. “Trump não transferiu os mísseis para evitar uma escalada com a Rússia”, disse.
Ao longo do fim de semana, relatos emergiram do encontro entre ele e Trump na sexta (17). O tom, que publicamente foi muito amistoso, azedou nas conversas reservadas, lembrando a altercação ao vivo da primeira reunião deles neste mandato, em fevereiro.
Segundo o jornal britânico Financial Times, o americano disse que Zelenski deveria ceder os talvez 20% da área do Donbass (leste) ainda em suas mãos para acabar com a guerra ou ser destruído por Putin. No domingo (19), Trump disse à Fox News que Putin deveria ficar com o que já está ocupado na região.
Nesta segunda, o ucraniano disse que isso é inegociável. O Kremlin comentou esse relato, com o porta-voz Dmitri Peskov dizendo apenas que Putin havia dito tudo o que achou que deveria a Trump. Ambos irão se encontrar, talvez na semana que vem, em Budapeste seus chefes de diplomacia, Marco Rubio e Serguei Lavrov, tiveram uma primeira conversa nesta segunda.
Zelenski disse que está pronto para ir à capital húngara, que não considera neutra dada a hostilidade do govenro do premiê Viktor Orbán a Kiev e sua proximidade com Putin, caso seja convidado. Afirmou que poderia encontrar-se com o russo ou apenas com Trump.
Ainda sobre a guerra, Trump disse nesta segunda acreditar que está “vamos chegar lá”, ao comentar a possibilidade de um cessar-fogo. Disse também que pediu a Putin para não atacar civis, e que
Os Tomahawk vinham sendo usados pelos Estados Unidos como forma de pressionar Putin. Como na ocasião que resultou na cúpula sem resultados entre o russo e o americano no Alasca, em agosto, Trump recebeu uma resposta após dar um ultimato ao chefe do Kremlin.
Na prática, Putin só ganhou tempo e continua a avançar em vários pontos da frente de batalha, apesar de ter tido seu principal ganho no ano, na região de Donetsk, por ora barrado pelos ucranianos. Nesta segunda, conquistou mais vila cidade na área.
Os mísseis não são nenhuma bala de prata, mas com alcance entre 1.600 km e 2.500 km segundo a versão, podem atingir toda a Rússia europeia, inclusive 76 bases militares e Moscou. Claro, isso se passassem pela defesa aérea e em grande quantidade, além de outros pontos hoje não há lançadores terrestres suficientes para a arma, que é primariamente naval e Kiev não tem Marinha efetiva.
Sem armas ofensivas, Zelenski disse que está próximo de fechar um acordo para a compra de 25 sistemas de defesa Patriot. Parece otimista: os números são sigilosos, mas a Ucrânia só tem cinco. ou seis baterias operando, se tanto, e não se trata de um armamento de disponibilidade imediata.
Otimismo também expresso quando disse que “acredita que a guerra pode estar perto de acabar” com o envolvimento de Trump, ao mesmo tempo em que se recuso a fazer concessões territoriais que são vistas como inevitáveis.
Segundo um observador da política russa disse à reportagem, Putin reiterou na quinta a proposta que havia feito no Alasca de retirar-se até uma linha que considera aceitável nas regiões sulistas de Kherson e Zaporíjia em troca do restante do Donbass, composto por Donetsk e Lugansk.
Com isso, a Rússia manteria a ponte terrestre entre seu território original e a Crimeia, anexada em 2014, algo vital para manter protegida a posição da península, sede da sua Frota do Mar Negro.