SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar está em queda nesta segunda-feira (20), com investidores avaliando dados econômicos divulgados pela China e movimentações políticas no Japão.
Negociações sobre tarifas de importação entre Pequim e Estados Unidos também seguem no radar.
Às 14h17, o dólar cedia 0,59%, a R$ 5,374. Já a Bolsa avançava 1,07%, a 144.945 pontos.
Segundo dados divulgados no domingo (19) manhã desta segunda em Pequim, o PIB (Produto Interno Bruto) chinês desacelerou pela segunda vez consecutiva e cresceu 4,8% no terceiro trimestre em relação ao mesmo período do ano anterior.
O ritmo é menor do que os 5,2% registrados no segundo trimestre e os 5,4% do primeiro trimestre, ainda que tenha mantido a China no caminho de atingir a meta de crescimento de 5% em 2025. A leitura do mercado é que a crise imobiliária do país e as tensões comerciais com os Estados Unidos reduziram a demanda, intensificando a pressão sobre autoridades para adotar novos estímulos econômicos.
A renovação das tensões tarifárias com Washington destacou as fragilidades da economia chinesa, ainda dependente da manufatura e da demanda externa. Isso elevou as expectativas de que os líderes do país possam adotar mudanças maiores para reorientar o crescimento com base no consumo interno.
Ainda, a desaceleração da economia chinesa ocorre sob novas ameaças tarifárias por parte dos Estados Unidos. O presidente Donald Trump anunciou tarifas adicionais de 100% sobre produtos chineses e novos controles de exportação sobre “todo e qualquer software crítico” até 1º de novembro, nove dias antes da atual trégua tarifária entre os dois países expirar.
No sábado (18), o governo chinês anunciou que representantes dos países devem se encontrar nesta semana para uma nova rodada de negociações.
As novas medidas comerciais foram em reação à expansão dos controles de exportação de elementos de terras raras pela China, produtos essenciais para uma série de indústrias, da automobilística à de defesa.
A proposta de tarifa de 100% não é sustentável, afirmou Trump em entrevista na sexta. “Mas o número é esse. Eles me forçaram a fazer isso”, disse. Ele também confirmou que se reunirá com o líder chinês, Xi Jinping, em duas semanas na Coreia do Sul.
Antes disso, o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, disse que espera se reunir nesta semana com o vice-primeiro-ministro chinês He Lifeng para tentar evitar a escalada de tarifas.
A escalada de tensões entre Estados Unidos e China tem voltado a despertar temores de uma guerra comercial de grandes proporções, semelhante à do início do ano.
À época, Trump impôs tarifas de 145% sobre produtos chineses e Xi Jinping respondeu com 125% sobre mercadorias americanas. Depois de meses de cabo de guerra, as sobretaxas foram reduzidas temporariamente para 30% sobre a China e 10% sobre os EUA. Essa trégua é válida apenas até o dia 12 de novembro.
Com os acenos à moderação, os mercados voltam a ter apetite por risco. “O tom mais conciliador entre Estados Unidos e China, além das reuniões entre as autoridades e os presidentes, tem deixado os mercados externos mais calmos, consequentemente refletindo em valorização do nosso”, afirma Rodrigo Moliterno, chefe de renda variável da Veedha Investimentos.
Os Estados Unidos também estão abrindo portas para negociação com o Brasil. O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, se reuniram presencialmente na Casa Branca na última quinta-feira.
Em comunicado divulgado após o encontro, o governo americano disse que as conversas foram muito positivas e combinaram um cronograma de trabalho.
A divulgação de uma manifestação conjunta, assinada pelos dois governos, não é um padrão do Departamento de Estado, indicando uma sintonia entre as partes sobre o teor do encontro.
“É a primeira de uma série de conversas. Tem muito chão pela frente e vai demorar até termos algum resultado concreto, mas o fato de que autoridades brasileiras e americanas estão oficialmente sentando à mesa para conversar traz maior otimismo para os investidores”, diz Leonel Mattos, analista de inteligência de mercado da StoneX.
Ainda na cena internacional, o mercado olha com ansiedade para o resto da semana. Isso porque, na sexta-feira, o Departamento do Comércio dos Estados Unidos deve divulgar os dados de inflação de setembro, o primeiro relatório oficial da economia norte-americana desde que o governo federal entrou em shutdown.
Os economistas esperam uma leitura mensal na faixa de 3% a 4%, diz Matthew Ryan, chefe de estratégia de mercado da Ebury, “bem acima da meta do Fed (Federal Reserve) e em aparente contradição com a postura cada vez mais dovish [favorável a um corte de juros] do banco central”.
O Fed se reúne na próxima semana, entre os dias 28 e 29, para decidir sobre a taxa de juros. No encontro passado, os dirigentes optaram por um corte de 0,25 ponto percentual, o primeiro desde dezembro do ano passado, levando a taxa à banda de 4% e 4,25%. A decisão foi amparada na visão de que os riscos de uma desaceleração do mercado de trabalho, causado pela política monetária restritiva, eram maiores do que os de um repique na inflação.
O mercado agora espera mais um corte de 0,25 ponto na reunião da semana que vem. “Um corte de juros em outubro está dado”, afirma Julia Coronado, fundadora da empresa de pesquisa MacroPolicy Perspectives e ex-economista do Fed. “Nada mudou a perspectiva de que ainda há riscos de queda no mercado de trabalho.”