RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Um projeto com comunidades de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, e da cidade do Rio de Janeiro oferece a crianças e adolescentes óculos de grau com armações feitas de plástico reciclado.

Com o projeto Recicla Visão, exames oftalmológicos em uma clínica móvel, montada em uma van, são feitos em crianças e adolescentes entre 8 e 15 anos que estejam em situação de vulnerabilidade social. Cerca de 200 óculos já foram entregues, e a meta é chegar a mil ainda neste ano.

Na capital fluminense, os beneficiados são de regiões como Campo Grande, Rocinha, Complexo da Maré, Morro da Babilônia, Complexão do Alemão e Chapadão.

Uma delas é Sophia Freitas, 15, da comunidade de São Bento, em Duque de Caxias. “Minha filha nunca tinha usado óculos. Eu e meu esposo ficamos desempregados e a gente só estava adiando de conseguir levar ela para fazer um exame. A Sophia já estava sentando nas cadeiras da frente na sala de aula porque estava enxergando embaçado”, conta a mãe Ana Lúcia Freitas, 49.

“O processo todo não demorou nem três meses, e ainda vimos como foi feito o óculos a partir da reciclagem. Foi legal entender que o material reciclável que a gente joga fora e fica poluindo a água e sujando a rua pode ajudar pessoas que necessitam de óculos”, continuou.

O projeto é dividido em três etapas. Primeiro, foi feita uma triagem visual com 2.500 crianças que mostraram dificuldades de enxergar bem. Na sequência foram feitos os exames médicos nas clínicas móveis. Depois, com as armações prontas, as entregas começaram em outubro.

Foi a designer de produtos Mari Salles, 38, que idealizou o projeto há três anos na organização Nouns DAO. “Não precisamos trazer mais matéria-prima virgem, já temos matéria extraída o suficiente e com material obsoleto poluindo o mundo enquanto poderíamos aproveitar para novos produtos”, diz Salles .

A ideia do projeto, ela conta, partiu da proposta de gerar impacto onde se precisa de fato. “Muitas crianças precisam de correção visual, então escolhemos territórios vulneráveis.”

Para a família de Jamilly Gomes, 11, que nunca havia usado óculos, foi uma surpresa que a menina precisasse de correção visual.

“Ela reclamava de muita dor de cabeça na escola, mas a gente não sabia. Quando o óculos chegou, ficamos encantadas, ficou perfeito e fez toda a diferença no dia a dia da minha filha. Se não fosse pelo projeto, seria difícil conseguir, porque o custo de um óculos é alto”, afirma Fabíola Gomes, 38, mãe de Jamilly.

De acordo com a idealizadora do projeto, os modelos foram feitos em três tamanhos diferentes para atender crianças e adolescentes.

Os óculos são feitos manualmente e pensados para servirem na sala de aula e também na prática de atividades físicas. A ideia agora é retornar às comunidades a cada dois anos para observar o desenvolvimento das crianças.

Nos dias das entregas também são oferecidas oficinas sobre o processo sustentável de criação das armações de plástico reutilizável.

São as crianças e adolescente que escolhem a cor e o tamanho dos óculos. As armações estão disponíveis nas cores branca, preta, vermelho, laranja, azul, verde, rosa, roxo, lilás, rosa claro, azul claro e bege.

A variação depende do resíduo reciclável que está sendo trabalhado, já que as peças são feitas com a cor original do objeto sem pigmentação. Copos de suco, tampas de produto de limpeza e beleza, mesas, cadeiras e brinquedos são alguns dos produtos de plástico usados nos materiais reciclados.

“A ideia é encantar as crianças, sair do discurso pesado sobre a reciclagem. É importante que eles vejam a valorização do resíduo. Estamos reaproveitando lixo para fazer um produto extremamente útil e importante”, conclui Mari.

A iniciativa é desenvolvida por um coletivo formado pelos projetos Precious Noggles, Social Visão do Bem, Casa Plástica e Berro Inc., com patrocínio da organização Nouns DAO. As atividades do Recicla Visão e futuras novas campanhas podem ser acompanhadas no Instagram do projeto (@reciclavisao).