SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A 5-lilás é a primeira linha do metrô de São Paulo a recuperar e superar o número de passageiros de antes da pandemia sem ampliação de estações a 15-prata (monotrilho da zona leste), que ganhou cinco novas paradas desde então, não entra neste ranking.
Segundo a ViaMobilidade, que faz a gestão da linha 5 desde 2018, o ramal transportou, em média, 568 mil passageiros por dia no primeiro semestre deste ano. O número é 11% superior aos 522,6 mil usuários no mesmo período de 2019.
Das demais linhas do metrô paulistano, a 2-verde é a que, percentualmente, teve menor queda no número de usuários caiu 9% entre os dois períodos comparados.
Questionado, o Metrô disse que não há expectativa imediata de retomada do número de passageiros de 2019 nos ramais público, mas considera que a demanda pode voltar aos níveis pré-pandemia. Entretanto, isso não se projeta no momento.
Há algumas explicações para a linha 5 destoar do restante do transporte público regional o sistema de ônibus e de trens metropolitanos também enfrenta fuga na demanda, pelos modelos de trabalho e estudo remotos implantados a partir da Covid e pela crescente adesão ao transporte individual, como motocicletas.
Uma delas é o atraso na construção da linha, que teve início de suas operações em 2002, com a ligação do Capão Redondo ao Largo 13, na zona sul. Por causa desses percalços, foram anos para ela se conectar às linhas 1-azul e 2-verde (essa em 2018).
O ramal só ficou pronto em abril de 2019, com a inauguração da estação Campo Belo, ou seja, poucos meses antes de a pandemia barrar e depois mudar o ritmo das locomoções.
Atualmente, são 17 estações, distribuídas em 20,1 km, ligando o Capão Redondo à Chácara Klabin, na região da Vila Mariana, zona sul.
Há um estudo para crescimento da linha em 4,5 km, com duas estações até o Jardim Ângela, no extremo sul. A expectativa é de 110 mil passageiros a mais por dia.
“O fato de a linha ter sido integralmente concluída pouco antes da pandemia fez com que o número anterior de usuários ainda não estivesse completo”, afirma consultor em mobilidade urbana Sérgio Avelleda, ex-presidente do Metrô em 2011 e 2012.
A estação Campo Belo teve abertura escalonada em operação com horários reduzidos a partir de sua inauguração e chegou à plenitude em tempos de distanciamento social por causa da doença. Percentualmente, é a que é a que mais registrou crescimento entre sua inauguração e o primeiro semestre deste ano, de 290%, com quase 10 mil passageiros a mais na média diária.
Antonio Marcio Barros Silva, diretor da ViaMobilidade, admite que abertura daquela estação levou um novo público para a linha 5. Mas ele acredita que investimentos, como em acessibilidade e conectividade com internet grátis ao longo do ramal, também ajudaram a receber passageiros.
Crescimento imobiliário no entorno dessas estações, afirma o especialista Avelleda, e a possibilidade de seu usuário fazer menos home office para trabalhar, também podem contribuir com o avanço.
A linha é apontada como pendular, que vai de bairros, inclusive da periferia, para o centro, e concentra muitos picos de embarque e desembarque.
Em números absolutos, a estação Chácara Klabin, que se conecta à linha 2-verde, foi a que mais recebeu passageiros. São, em média, 21,66 mil a mais por dia entre os períodos comparados.
A parada de metrô está em uma área que ganhou população nos últimos anos, segundo recente análise feita pelo do DeltaFolha.
O estudo comparou a quantidade de residentes permanentes registrada pelo Censo 2022 do IBGE com a existente no levantamento populacional de 2010 nos raios de 600 metros ao redor das paradas de trem e metrô.
Essa distância era um dos critérios do Plano Diretor de 2014 para que a prefeitura oferecesse os incentivos ao mercado imobiliário. Ela foi ampliada para 700 metros em 2023.
O mesmo fenômeno de crescimento populacional é espelhado ao longo da linha 5, inclusive no extremo Capão Redondo, onde estima-se que vivam atualmente mais de 270 mil pessoas em 2000 eram cerca de 165 mil habitantes no distrito, conforme dados da prefeitura.
Como mostrou a Folha, o entorno repleto de edifícios com varandas amplas deixa claro que houve forte interesse do mercado imobiliário nos arredores do cruzamento das avenidas Santo Amaro e Jornalista Roberto Marinho, região onde fica a estação Campo Belo.
“Essa é uma estação estratégica, pois, assim que a linha 17-ouro [monotrilho do Metrô, prometido para circular pela zona sul a partir de 2026] estiver pronta, a Campo Belo vai ser ser uma estação de transferência”, afirma o executivo Barros Silva. Ele também vê a existência de vários empreendimentos imobiliários crescendo ao redor da linha.
Segundo o executivo, no ano passado a empresa investiu R$ 114 milhões em infraestruturas, como em áreas de bloqueios (catracas).
No mês passado foi inaugurada a mudança na sinalização da estação Hospital São Paulo. O objetivo é facilitar a circulação dos passageiros e beneficiar especialmente pessoas com deficiência intelectual, TEA (Transtorno do Espectro Autista), idosos, crianças e público com baixo letramento.
Mas também houve a necessidade de se investir em segurança. A empresa teve de instalar barreiras nas portas de plataformas da linha depois da morte de Lourivaldo Ferreira Silva Nepomuceno, 35, em maio passado, quando ele ficou prensado.
Em julho, toda a extensão da linha precisou operar com velocidade reduzida por sete horas em razão de falhas de equipamentos de via. Passageiros reclamaram da falta de informação.
“Uma pesquisa de satisfação, de outubro do ano passado, mostrou que para 89% das pessoas o serviço é bom e muito bom”, diz o diretor da ViaMobildiade.
“Há garantia de previsibilidade. Se entrar na estação Capão Redondo às 7h, o passageiro sabe que às 7h40 vai descer na Santa Cruz”, afirma, sobre a interligação com a linha 1-azul, na Vila Mariana.