SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Da franquia “Velozes e Furiosos” à versão para a tela grande de “S.O.S. Malibu”, Dwayne Johnson sempre foi figurinha fácil em filmes de ação ou naqueles que colocassem o corpanzil musculoso que lhe rendeu o apelido The Rock (a pedra, em português) para jogo. Essa era a caixinha em que o ex-lutador foi colocado em Hollywood por anos a fio.

E funcionou. Com muitos sucessos comerciais no currículo, ele se tornou um dos campeões de bilheteria das últimas décadas –e também um dos atores mais bem pagos do mundo. Mas faltava algo: prestígio. E isso é o que ele vem alcançando com o filme “Coração de Lutador: The Smashing Machine”, em cartaz nos cinemas.

A perfomance dele como Mark Kerr, um lutador de MMA que acaba se viciando em opioides para lidar com as dores físicas após as lutas (e também as dores existenciais causadas por uma vida complicada), tem sido elogiada pela crítica. O nome dele vem sendo cotado até para concorrer ao Oscar de melhor ator.

Paradoxalmente, o filme teve uma das menores bilheterias da carreira do ator, mas ele diz que não esperava nada diferente. “Eu sabia desde o início que um filme como este não seria um grande blockbuster”, afirma. “Minhas expectativas estavam realmente moderadas.”

O ator diz que, nos últimos anos, aprendeu a administrar a ansiedade e a não se influenciar pelas previsões sobre seus lançamentos. “Sou muito grato pelas pessoas que viram o filme, e estou animado para que mais pessoas o vejam também”, conta. “Existem filmes menores que adorei fazer, e filmes grandes são divertidos também. Gosto de ambos e acho que há um equilíbrio que pode existir entre eles.”

No caso de “Coração de Lutador”, o ator diz que a motivação passou longe das cifras. “Eu queria me desafiar de maneiras que não tinha sido desafiado antes; queria fazer algo que fosse assustador, e também algo que eu não sabia se seria capaz de fazer, que é desaparecer completamente e me abrir.”

Johnson foi quem apresentou o projeto ao cineasta Benny Safdie, que acabou dirigindo o longa. Ex-lutador profissional, ele conheceu o Mark Kerr da vida real nos anos 1990. “Na época, Mark estava ascendendo para se tornar um dos maiores lutadores do planeta”, lembra.

Também foi nos ringues que ele viu muita gente se envolvendo com drogas, assim como o colega. “Eu tinha muitos amigos no mundo da luta livre profissional e no mundo do combate que perderam suas vidas para problemas de saúde mental”, diz. “Mark Kerr foi um dos afortunados que superaram o vício.”

Outro aspecto que lhe interessou explorar foi a impossibilidade de atender aos critérios de masculinidade exigidos em muitas culturas. “Cresci ouvindo que não deveria chorar”, comenta. “Mas a vulnerabilidade e a fragilidade não podem habitar o mesmo espaço que a força e o poder? Isso nem é uma questão. Eles podem coexistir, e é muito importante que o façam.”

Ele conta ainda que, apesar de ser filho de um lutador, nunca quis seguir os passos do pai no esporte. “Meu objetivo era ir para a NFL”, diz, referindo-se à liga profissional de futebol americano dos Estados Unidos. “Porque esses caras estavam ganhando milhões de dólares. Meu pai não. Meu pai vivia de salário em salário. E eu simplesmente não queria aquela vida.”

Porém, ao ver que a carreira não decolou, partiu para a luta livre -ele chegou a ser campeão mundial da WWE (campeonato mundial de pesos pesados), onde foi campeão em cinco ocasiões. Depois, começou a tentar emplacar como ator.

“Foi a melhor coisa que nunca aconteceu para mim porque minha vida mudou completamente depois disso”, diz sobre não ter conseguido se profissionalizar no futebol. “E também colocou uma verdadeira mágoa em mim. O que acho que depois alimentou essa fome de fazer mais e de me desafiar.”

Ainda assim, claro, a experiência no esporte foi fundamental para o novo papel. “Sei como é estar na estrada e tentar equilibrar, como todos nós fazemos, trabalho, vida, relacionamentos”, explica. “Sei o preço que isso cobra, não apenas sobre o corpo. É um preço caríssimo ao longo dos anos.”