O Exército de Israel lançou nova ofensiva em Gaza, neste domingo (19), após acusar o Hamas de atacar tropas em área de recuo dos militares prevista no cessar-fogo, mediado pelo presidente americano Donald Trump e aliados. A retomada da violência no território palestino deixa o acordo, que mira uma difícil paz duradoura na região, por um fio.
“Hoje, terroristas dispararam um míssil antitanque e tiros de armas leves contra tropas das Forças de Defesa de Israel que operavam para desmantelar infraestrutura terrorista na área de Rafah, segundo o acordo de cessar-fogo. Em resposta, as Forças de Defesa de Israel iniciaram uma investida na área a fim de eliminar a ameaça e desmantelar estruturas militares utilizadas para atividades terroristas”, diz o Exército em nota, que chamou as ações da facção de “violação flagrante” do acordo. Há relatos de bombardeios em outras áreas do território.
Horas após o retorno dos bombardeios, o governo dos Estados Unidos e de importantes países árabes que participaram das negociações ainda não haviam se pronunciado publicamente sobre o assunto.
O Exército de Israel falou em dois soldados mortos, e autoridades palestinas do território controlado pelo Hamas afirmou que 18 pessoas morreram após os ataques de Tel Aviv.
O gabinete do primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, ordenou “firme ação contra alvos terroristas na Faixa de Gaza”, após o que também classificou como violação do cessar-fogo pelo grupo terrorista. Em seguida, o Exército afirmou que passou a conduzir “uma série de bombardeios contra o Hamas”.
O alto funcionário do grupo, Izzat al-Risheq, por sua vez, acusou Israel de estar violando o acordo repetidamente, e afirmou que a facção permanecia comprometida com o cessar-fogo. Risheq não mencionou novos ataques em Gaza. O braço militar da facção afirmou que não estava ciente de qualquer incidente em Rafah e negou participação em ataques a tropas israelenses.
O gabinete de mídia do território, órgão controlado pelo Hamas, disse no sábado que Israel havia cometido 47 violações após o acordo de cessar-fogo, deixando um total de 38 mortos e 143 feridos.
Itamar Ben-Gvir, ministro de extrema direita do governo de Netanyhu, exigiu retomada total da ofensiva em Gaza após os ataques a tropas. “A crença falsa de que o Hamas vai mudar, ou mesmo respeitar o acordo assinado, está se provando, sem surpresas, perigosa para nossa segurança”, disse.
A ação renovada de Israel, se confirmada, coloca em risco o acordo de cessar-fogo, em vigor desde o último dia 10, durante momento de discordâncias sobre a devolução dos corpos de reféns israelenses. Tel Aviv diz que os 16 corpos restantes já poderiam ter sido entregues pelo Hamas, e insiste que a facção atrasa a devolução propositalmente.
O Hamas devolveu todos os 20 reféns vivos e 12 dos mortos, mas disse que o processo precisa de esforço e equipamento especial para recuperar corpos enterrados sob escombros.
Neste domingo, Israel identificou mas dois corpos entregues pela facção no sábado. São eles Ronen Engel, que tinha 54 anos quando foi sequestrado no kibbutz Nir Oz durante o ataque 7 de outubro de 2023, e o tailandês Sonthaya Oakkharasri, de 30 anos quando foi morto no kibbutz Be’eri. Autoridades palestinas de saúde também afirmaram que receberam mais 15 corpos devolvidos por Israel a Gaza.
Neste sábado (18), Netanyahu afirmou que a passagem de Rafah, na fronteira de Gaza com o Egito, permanecerá fechada por tempo indeterminado, e condicionou a reabertura ao cumprimento do acordo pelo Hamas. A declaração do premiê ocorreu depois que a embaixada palestina no Egito havia dito que a passagem reabriria nesta segunda-feira (20).
Rafah está em grande parte fechada desde maio de 2024. O acordo de cessar-fogo inclui o aumento da ajuda humanitária para o território, onde a maioria dos 2 milhões de palestinos tem sido deslocada de suas casas.
Além da retomada dos ataques, outros grandes obstáculos ao plano de Trump para encerrar a guerra ainda permanecem. Questões-chave sobre o desarmamento do Hamas, exigido por Israel e rejeitado pela facção, a governança de Gaza após o conflito, a composição de uma força internacional de estabilização e os movimentos em direção à criação de um Estado palestino ainda precisam ser resolvidas.