PARATY, RJ (FOLHAPRESS) – Num condomínio de luxo numa região serrana do Rio de Janeiro, o corpo de um idoso de 89 anos é encontrado esfaqueado no banheiro de uma mansão. Ele é Rogério Lenzi, um dos maiores empreiteiros do país. Dois investigadores chegam à cena do crime: Bárbara –Débora Nascimento– e André –Fabricio Boliveira–, que até pouco tempo antes, eram um casal. Acabaram de se separar.

Uma tempestade provoca um deslizamento na região e todas as estradas são fechadas, o que garante que os interrogatórios –e o desfecho da investigação– acontecerão no mesmo ambiente onde ocorreu o assassinato.

“A ideia era usar o formato clássico do ‘whodunit’ [ou ‘quem matou?’], mas com tintas brasileiras”, diz o produtor José Henrique Fonseca sobre a premissa da recém-lançada “Cenas de um Crime”, disponível em oito episódios na HBO Max. “A série traz esse jeito Agatha Christie, mas cheia de brasilidade, traçando um retrato atual de nossa sociedade”, afirma a diretora Izabel Jaguaribe.

Os suspeitos são muitos, e de diferentes origens. Há os familiares, como o filho adotivo de Lenzi, Igor –papel de Enzo Romani–, jogador de futebol com um contrato recém-fechado com um time europeu; a esposa deste, Marcela –Bruna Mascarenhas–, uma jovem de origem pobre e que está grávida de Igor; e a filha de Lenzi, Maria Eugênia –Letícia Isnard–, uma deputada do centrão.

Ainda do campo político, está lá Mathias Alvarenga –Daniel Dantas–, um ex-secretário de segurança e velho amigo da família Lenzi, e, fora do eixo íntimo, o vizinho Oliver Aubry –Augusto Madeira–, um escritor fracassado e com histórico de internações em hospitais psiquiátricos.

Para Boliveira, que vive o policial André, o fato de “Cenas de Um Crime” se passar quase todo dentro da mansão tornou irrecusável o convite para fazer o papel. “Eu li o roteiro e me apaixonei de cara”, diz o ator. “É uma história policial incrível com um estofo sociopolítico muito interessante, que envolve desde a ditadura até as milícias.”

A série foi criada por Rafael Spínola, com o roteiro escrito por ele em parceria com Gustavo Bragança. A dupla já havia colaborado em séries como “Senna” e “A Divisão”. “Eu não conhecia o Rafael, mas depois soube que ele havia escrito o personagem André pensando em mim”, diz Boliveira.

Fonseca, o produtor, define “Cenas de um Crime” como um Agatha Christie nos trópicos e diz que as filmagens concentradas numa única locação deram à equipe e ao elenco uma sensação de segurança.

“Quando você convive com tantas pessoas diariamente por um período de dois meses, todos acabam se sentindo em casa, e isso reflete na qualidade do trabalho”, diz.

Jaguaribe, que dividiu a direção com Giovanna Machline, diz que as duas tiveram bastante tempo para pensar em cada cena nos mínimos detalhes. “A série tem uma trama muito bem escrita e que prende o espectador, mas era importante trabalhar cada personagem e as relações entre eles, de forma que a tensão e o suspense permanecessem lá em cima”.

Boliveira diz ainda que “Cenas de um Crime” é uma série de ação com palavras. “O elenco todo teve de trabalhar muito com as diretoras, a Izabel e a Giovanna, para burilar os diálogos e estabelecer as conexões entre os personagens. Gosto muito de obras passadas num único ambiente, como ‘Esperando Godot’ [de Samuel Beckett] ou ‘Dois Perdidos Numa Noite Suja’ [de Plínio Marcos], acho que é um grande desafio para o elenco e a direção. Quando funciona, como em ‘Cenas de um Crime’, o público embarca na história e se surpreende.”