SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Casos seguidos de roubos e furtos levam medo aos moradores da rua Joaquim Antunes, em Pinheiros, zona oeste de São Paulo. De janeiro a agosto, a via de cerca de 1 km registrou 45 casos em que bandidos levaram o celular, muitas vezes com uso de violência.

A rotina de assaltos forçou uma mudança de rotina na vizinhança. As pessoas evitam andar a pé e, quando não conseguem evitar, saem de casa sem aliança e celular. O medo maior é dos ladrões em moto. Além disso, a crise de insegurança na rua divide os vizinhos: parte defende colocação de cartazes para alertar sobre o perigo, parte é contra, alegando que isso desvaloriza os imóveis.

A cada mês novos ataques são registrados no 14º DP (Pinheiros) e no 15º DP (Itaim Bibi), que dividem as atribuições pela área.

Entre janeiro a agosto deste ano foram 33 roubos e 12 furtos de celular na rua que tem começa na alameda Gabriel Monteiro da Silva e termina na rua Cardeal Arcoverde.

Quase a totalidade dos telefones tomados é da marca iPhone, objeto de desejo dos bandidos pelo alto valor pago por receptadores. O trecho preferido pelos ladrões fica entre os números 900 e 1.000 da via, que concentrou 17 registros no período.

As informações foram compilados pela reportagem com base em dados da SSP (Secretaria da Segurança Pública).

Um dos casos mais recentes ocorreu na noite de terça-feira (7). Um criminoso em uma motocicleta assaltou cinco pedestres em sequência. Uma vítima foi baleada na perna.

Em nota, a Secretaria da Segurança Pública disse atuar continuamente na elaboração de políticas públicas de segurança visando proporcionar à população uma maior sensação de segurança. Conforme a pasta, cada região possui características únicas que influenciam diretamente os indicadores criminais.

Sobre Pinheiros, o órgão informou que o policiamento ostensivo, realizado na região pelo 23° Batalhão de Polícia Militar Metropolitano, é reorientado constantemente com base nos registros de ocorrência.

“Tal estratégia, somada ao trabalho investigativo da Polícia Civil, resultou na prisão/apreensão de 631 pessoas na área do 14° DP (Pinheiros), responsável pela região, de janeiro a agosto deste ano”. Além disso, os roubos apresentaram queda de 15,49% na mesma amostra.”

No geral, a delegacia em questão registrou 2.035 roubos em oito meses deste no ano ante 2.407 no mesmo período em 2024.

Em janeiro Vitor Rocha e Silva, 23, foi morto após reagir a um roubo de celular. Ele o namorado passavam a pé pela rua Joaquim Antunes, nas proximidades de um viaduto, quando foram abordados por um criminoso em uma moto. De Uberlândia (MG), Vitor era formado em relações internacionais. Ele estava em São Paulo a passeio.

Policiais militares que estavam no bairro chegaram a perseguir os suspeitos até avenida Morumbi, onde os perderam de vista após uma conversão proibida. De acordo com a gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos), o autor do crime, um adolescente, foi apreendido.

As investigações da polícia apontam a favela Paraisópolis como um dos destinos de dispersão de celulares roubados em Pinheiros, Butantã e Itaim Bibi. Ali acontece o repasse do ladrão que atua na rua para o receptador. O telefone, depois, é vendido para outras quadrilhas que enviam o objeto para o exterior. Telefones mais antigos têm as peças comercializadas no centro de São Paulo ou em lojas de assistência dentro da própria comunidade.

Moradores da rua Joaquim Antunes se queixam do medo constante de serem alvos de violência.

A engenheira Débora Valeri, 34, que mora na região há cinco anos, e na Joaquim Antunes, desde janeiro, diz que o bairro tem ficado inseguro nos últimos tempos, mas que nesse semestre a situação na rua de casa tem piorado.

“Mudou totalmente minha rotina e do meu marido. Não saímos mais a pé pela região, só quando muito necessário, e quando isso acontece tiramos aliança e vamos sem celular. Minha família e amigos evitam vir nos visitar com medo dos assaltos. Quando alguém vem, para o carro dentro do meu prédio para não precisar andar na rua”, relata.

A engenheira conta que o bairro era bom para passear a pé, mas que não podem mais fazer isso.

“Os criminosos estão cada vez mais violentos, atiram, matam, tudo por um celular ou aliança. É mais triste e revoltante o tanto de impostos que pagamos para não ter o mínimo de segurança”, reclama.

Quem vive ali, em especial nas ruas Joaquim Antunes, Francisco Leitão, Cardeal Arcoverde e dos Pinheiros, tem se mobilizado para cobrar as autoridades. Um abaixo-assinado pedindo providências conta com mais de 9.000 assinaturas.

Eles, porém, divergem quanto às medidas a serem tomadas. Enquanto alguns defendem a contratação de segurança privada, outros avaliam que o poder público é quem deve apresentar uma solução.

Os vizinhos também não concordam com a forma de alerta para moradores e visitantes sobre a insegurança, como cartazes colados em postes e muros. De tempos em tempos alguns são arrancados por aqueles que não concordam com a prática, sob a justificativa de que desvalorizam os imóveis e a região.

“Cartazes, de verdade, não fazem a mínima diferença na atuação contra os crimes, ingênuo quem acha que faz. E sim, acho que esse aumento absurdo nos últimos meses desvaloriza os imóveis, afeta o fluxo nos comércios. Piora a vida de todo mundo”, opina Valeri.

Lizete Maria Ribeiro, que mora em um apartamento na Joaquim Antunes há 20 anos, acha o cartaz efetivo.

“Eu adorei o cartaz, achei ótimo porque o mercado se ofende, as pessoas se ofendem. Quem tira tem receio porque o seu patrimônio vale menos. Eu acho fundamental essa radicalização que foi feita.”

Ribeiro, que é arquiteta e urbanista, além de professora universitária, evita circular no período noturno. “Passou das 20h, a gente anda tremendo, corre de um lado para o outro da rua, porque tem certeza que vai parar uma moto.”

De acordo com ela, moradores quando estão chegando em casa já ligam para o porteiro para que fique atento e abra o portão para visitantes imediatamente.

Segundo ela, é preciso que a PM faça ronda e que esteja pelo bairro para proteger as pessoas.

“Os moradores que não participam dos movimentos [de grupos], por exemplo, acham que tem de resolver de maneira privada. Mas [a solução] não é ficar contratando segurança privada, botar gaiolas nos prédios. As pessoas que estão participando do conselho de segurança pública são as pessoas que acham que é o estado que tem que oferecer [solução], obviamente”, acrescenta.