SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Na noite desta sexta (17), Gilberto Gil se apresentou em sua turnê de despedida e o novo Yorghos Lanthimos estreou na mostra de cinema de São Paulo. Por algum motivo algumas pessoas optaramm voluntariamente a assistir novela. Num bar. Pagando entrada.

A razão era descobrir quem matou Odete Roitman.

A novela não foi exatamente um sucesso de crítica, mas pelo menos fez muito dinheiro com muito jabá dramatizado. Nada mais justo que transbordar os ganhos para os pequenos e médios empreendedores donos de estabelecimentos comerciais.

“Odeio muito essa novela”, diz o gerente de marketing Thiago Oliveira, que gastou R$ 170 para imprimir dez máscaras com os rostos dos personagens principais do folhetim e distribuir entre os amigos. Ele combinou de assistir o capítulo final com seus amigos no Mantra, um bar na rua Augusta.

Nessa noite, o medo em torno do metanol ainda pairava pelo ar. Os frequentadores preferiram cerveja e drinques sem álcool. A única exceção foi uma opção especial, em homenagem à vilã Odete Roitman, com espumante, vodka e xarope de morango.

“Sou muito fã da original, vi três vezes”, diz Oliveira. Já o remake o decepcionou e ele parou de assistir.

O fato de uma novela estar comovendo o Brasil inteiro de um jeito que não acontecia há muito tempo, porém, o comoveu a ponto de fazê-lo gastar uma noite de sexta-feira assistindo uma novela que não gosta.

“Odeio muito, mas tô aqui dando audiência pra ela”, diz o autodeclarado “hater” de Manuela Dias, autora da novela.

“Já assisti final de copa em bar, mas nunca final de novela. Eu ia assistir na minha casa”, diz a contadora Tatiane Dominato. Quem a convenceu a sair do conforto de seu lar foi o rapaz que a acompanhava, este, sim, fã de carteirinha de “Vale Tudo”.

O publicitário Michel Chamon fecha a cara e leva muito a sério quando é questionado se gosta mesmo da novela. Fã da versão original, ele reconhece que houve muito merchandising mal inserido na trama e que o teor político da novela de 1989 foi esvaído da versão de 2025. Por outro lado, diz que a autora foi capaz de colocar pontos interessantes e um ar de mistério na novela.

“Essa versão é muito boa, a última que teve isso de ir no bar tomar uma e assistir novela foi ‘Avenida Brasil'”, diz Chamon. “Na novela original não tinha um negro, agora tem não só a Taís Araujo, mas todo um núcleo [de personagens negros].”

Na Barra Funda, o público se acotovelou no interior do bar Baiúca para ver a novela projetada no alto de uma parede branca com um pequeno delay no áudio. A entrada era franca.

Vidrados e sorridentes, os chamados “santa ceciliers” cantaram junto as canções da trilha e puseram a mãozinha no coração quando a mocinha se casou. Soltavam gritinhos com alguma frequência -um a cada três minutos aproximadamente. A cada vez que a fachada do Copacabana Palace surgia em cena, os gritos se intensificavam. Quando foi revelado que a vilã sobreviveu, foi uma coqueluche.

As amigas cariocas Odete (nome fictício) e Priscila estavam em São Paulo a passeio. A primeira virou noites assistindo à novela no Globoplay para conseguir chegar ao último episódio a tempo de ver na TV aberta. A segunda não viu nenhum capítulo –não por não gostar, mas por falta de tempo.

As duas decidiram bater perna para ver o que tinha para fazer nesta sexta à noite. Subindo a Augusta, Odete viu uma placa na frente do bar anunciando que a novela seria exibido e que ainda teria um bolão de apostas sobre quem matou a vilã da novela. A noveleira tratou de convencer a amiga, que topou.

Entraram no bar, mas o gerente falou que não cabia mais gente. “Eu falei ‘pelo amor de Deus, a gente veio do Rio de Janeiro, eu preciso assistir a essa novela, me bota em pé'”. E as duas assistiram à novela em pé num cantinho do bar, felizes da vida.

O casal Rafaela Gimenez e Nicolas Gomes não teve a mesma sorte. “Eu não sou fã da novela, mas não detesto”, diz a moça. Ela e o namorado saíram de casa caçando algum lugar para ver o capítulo final do folhetim. Tentaram entrar, mas não conseguiram. A chuva ainda estava fraca então os dois tentar a sorte numa boate próxima.

Gimenez diz que não é fã da novela, mas não detesta. Já o namorado gostou da ideia porque acho que ia ter um clima de final de Copa do Mundo. “As pessoas amaram odiar a novela”, diz a artista.

Para ela, está foi uma versão muito despolitizada e branda de “Vale Tudo”. “Acho que a Manuela Dias e a Globo tiraram o principal da novela original que era a crítica social. Fizeram uma novela muito leve, novela pra hitar na internet”, diz.