SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “Vocês devem ter visto hoje, pelos índices da Bolsa, que o mercado acordou agitado devido ao que ocorreu com Odete”. Na trama das 21h da Rede Globo, a fala do diretor da TCA, Marco Aurélio Catanhede (vivido por Alexandre Nero), numa reunião do conselho de administração para decidir os rumos da companhia após o assassinato da presidente da empresa, Odete Roitman (Debora Bloch), dá indícios de que o grupo do setor de aviação tem volume financeiro e liquidez suficientes para integrar o Ibovespa, o índice das ações mais negociadas da B3, que reúne as companhias mais importantes do mercado de capitais brasileiro.

Na vida real, os presidentes das 84 empresas que compõem o Ibovespa ganham dezenas de milhões ao ano, numa combinação entre remuneração fixa, variável e benefícios. Em 2024, cada CEO de empresa do Ibovespa recebeu, em média, R$ 20 milhões, segundo levantamento feito pelo especialista em governança corporativa Renato Chaves.

Mas neste grupo existe uma lista seleta de principais executivos que recebem muito acima da média, fazendo jus à vida de luxo da personagem vivida pela vilã de “Vale Tudo”, que alugou por meses uma suíte de cerca de 120 m² no Copacabana Palace, na zona sul do Rio, cuja diária pode superar os R$ 40 mil.

O ranking dos dez CEOs de empresas abertas mais bem pagos do país é puxado pelo presidente do Itaú, com ganhos de R$ 81,7 milhões em 2024, seguido pelo principal executivo da PetroRio (R$ 64,2 milhões), da JBS (R$ 63,3 milhões) até o dirigente da Cosan (R$ 40,7 milhões). Confira a lista completa abaixo.

Para o levantamento, Renato Chaves tomou como base as informações que constam nos formulários de referência enviados todos os anos à CVM (Comissão de Valores Mobiliários) pelas próprias companhias, que indicam a remuneração anual dos executivos. A pesquisa considerou apenas as 84 empresas de capital aberto que integram hoje o Ibovespa.

Pela legislação das companhias abertas, as empresas precisam enviar à CVM quais os três patamares de remuneração pagos à diretoria (o maior, o menor e o médio). A lei não exige, porém, que seja indicado o CPF do detentor de cada salário. Mas, segundo Chaves, é de praxe que, na estrutura organizacional de uma empresa, a maior remuneração da diretoria seja a do CEO.

No levantamento, Renato Chaves não informa o nome dos executivos. Mas os CEOs mais bem pagos do Ibovespa no ano passado, considerando o formulário de referência 2024, eram Milton Maluhy Filho (Itaú), Roberto Monteiro (PetroRio), Gilberto Tomazoni (JBS), Beto Abreu (Suzano), Bruno Lasansky (Localiza), Eduardo Bartolomeo (Vale), Jorge Pinheiro (Hapvida), Jean Jereissati Filho (Ambev), Gilson Finkelsztain (B3) e Nelson Gomes (Cosan), nessa ordem. Neste ano, três dessas empresas (Vale, Ambev e Cosan) têm outro executivo como presidente.

Em “Vale Tudo”, Odete não parecia sobrecarregada com os problemas da empresa -se mostrava mais interessada em controlar as escolhas dos filhos e da irmã. Na vida real, o trabalho de capitanear as maiores empresas de capital aberto do país não é fácil. “O executivo responde judicialmente pela companhia, em casos que possam envolver danos à comunidade e ao meio ambiente, por exemplo”, diz Renato Chaves. O CEO pode, também, perder parte do seu patrimônio pessoal, em casos de dívidas trabalhistas, fiscais ou cíveis, em que o juiz decrete a desconsideração da personalidade jurídica.

“O dia a dia dos CEOS envolve tomadas de decisão que embutem riscos. Estes risco podem se transformar em passivos se ele se mostrar negligente ou, é claro, tentar cometer fraudes”, diz Luiz Gustavo Mariano, sócio da Flow Executives, especializada na contratação e avaliação do alto escalão. “É mais do que a reputação dele no mercado que está em jogo, é sua responsabilidade civil.”

A lista aponta que o topo do mercado corporativo se mantém elitista e nada diverso, formado apenas por homens brancos, com 54 anos em média, sem representantes do sexo feminino. Se Odete, 60 anos, fosse real, ela seria exceção.